Olhar para um jogador e ter a ideia de que não tem qualquer problema é frequente. Mas muitos deles não são titulares, estão infelizes e o que mostram é uma «falsa auto-confiança». José Maria Buceta, psicólogo do Real Madrid, alerta para os perigos que esse fenómeno acarreta, porque é patológico: «Qual é o escudo usado pela maior parte dos jogadores? A falsa confiança.»
«Essa é uma demonstração de que o atleta não quer olhar para dentro. A culpa é sempre dos outros. Não existe capacidade de autocrítica e esta é uma situação patológica. Esse indivíduo sofre muito como pessoa e acaba por fracassar porque a sua atitude se reflecte no rendimento. Há que prevenir e combater a falsa autoconfiança. Os treinadores e os dirigentes têm de usar a psicologia para o planeamento dos trabalhos específicos. Deverá existir um profissional a trabalhar com a equipa porque este vê o que os outros não vêem. Depois diz-se que há bons jogadores que se perdem e que não sobrevivem, mas muitos podiam vingar se estes problemas fossem detectados», analisa Buceta-
Os jogadores devem saber trabalhar em equipa, mas antes têm de saber lidar consigo mesmos. «Temos de mostrar aos atletas que têm de fazer as coisas por eles próprios. Os jogadores profissionais têm de trabalhar para eles, têm de ter ideia individualizada da sua carreira e coordenar esforços com a equipa. Às vezes, isso não é possível porque é tímido ou tem uma personalidade mais fechada, e vai ter de trabalhar para isso. Temos de estimular o atleta a fazer o que sabe e não o que gostaria de saber fazer. Temos de ajudá-lo a gerir o seu treino. É importante que o jogador aprenda a saber o que fazer. Isso implica também conhecimento de si próprio. Há atletas que, antes de uma competição, querem estar sós e não estar a receber constantes pancadas nas costas. Por isso, muitos se isolam na casa de banho e só sabemos que estão vivos porque puxam o autoclismo», ironizou.
Há que ensinar os jogadores a manterem sempre uma imagem positiva e a saberem reagir perante o inesperado. Há oportunidades que se perdem porque o atleta não estava preparado para agarrá-las: «Temos de fazê-lo ver que ele pode não estar a jogar, mas pode vir outro clube perguntar por ele. A pergunta que deixamos é: o que gostarias que dissessem de ti? E a resposta que temos para ele é que tem de conquistar o que gostaria que dissessem, porque os jogadores que têm boa imagem têm sempre equipa, mesmo que não seja muito bom tecnicamente. O jogador tem de saber que há sempre uma oportunidade e que tem de estar preparado para agarrá-la. Muitos dos jogadores não estão preparados para assumir um lugar na equipa, perante a lesão de um colega ou um castigo, e perdem a oportunidade. Acham sempre que todo o Mundo está contra ele.»