Há um português no Arsenal: não é jogador, treinador ou dirigente, mas é também ele importante. Trata-se de José Silva, natural da ilha da Madeira e emigrante em Londres há 36 anos. Ele é o assistente do director das instalações. «Sou o responsável por que tudo funcione no Centro de Treinos», diz ao Maisfutebol.
«O meu dever é ter sempre tudo operacional, desde os campos de treinos, o ginásio, as piscinas, os balneários, tudo o que diz respeito às instalações», adianta. «Se alguma coisa não está a funcionar bem, sou eu que tenho de tratar disso e conseguir mão-de-obra para arranjar o que está a operar menos bem.»
José está sempre pronto. Para tudo. Quando algum jogador, treinador ou dirigente precisa de alguma coisa, é com ele que fala. No Arsenal tratam-no por Joe. Não é canalizador, mas podia também ser «Joe, the plumbler». Pelo menos como o antigo canalizador que marcou as eleições americanas, também ele é muito popular.
«Wenger é uma pessoa fantástica»
«O Wenger é uma pessoa fantástica, muito inteligente, fala várias línguas e é muito humano. Conversa com toda a gente. Perde imenso tempo, por exemplo, a falar com as empregadas de limpeza. O clube funciona à maneira dele, tem uma palavra a dizer em tudo e é como uma grande família», revela José Silva.
«Falo com os jogadores todos os dias e são muito camaradas. Às vezes converso com empresários que vêm cá e me dizem que em Portugal os jogadores são estrelas que não conversam com ninguém. Aqui os jogadores falam com toda a gente. Estão sempre na brincadeira e eu sou obrigado a brincar também.»
«Ajudo os espanhóis e brasileiros com o inglês»
Em Inglaterra há mais de 30 anos, José Silva funciona até como tradutor. «Sobretudo com os espanhóis e brasileiros. Enquanto não falam inglês, sirvo de tradutor. Não só a transmitir-lhe o que Wenger diz, mas também a transmitir a Wenger o que eles dizem. Às vezes também ajudo com a imprensa, durante entrevistas.»
Pelo meio aconteceram casos curiosos. «O Robert Pires, por exemplo, só falava comigo em português. Falava muito mal, aliás, mas dizia que queria aprender a falar melhor». Provavelmente a pensar no Benfica. «Com o Amauri Bischoff foi o contrário. Queria que ele falasse português, mas ele não estava muito interessado.»
«Dizia-lhe que era impensável ele jogar na selecção nacional sem saber falar português, mas ele não estava muito interessado em aprender. Depois saiu e nunca mais me disse nada. O Boa Morte, por outro lado, fala muito comigo. Quando saiu do Arsenal para ir para o Southampton até me explicou por que o fazia.»
«Sou português, mas o F.C. Porto tem de perder desta vez»
José Silva já leva, de resto, dez anos de funcionário do Arsenal. «Trabalhava no Campo da Universidade de Londres, onde o Arsenal treinava. Quando construíram este Centro de Treinos, o Wenger e o adjunto Pat Rice convidaram-me para vir para aqui. Na altura até era adepto do Tottenham, mas agora sou todo Arsenal.»
Ora por isso vai ficar a torcer para que o F.C. Porto perca. «Vai jogar contra o meu patrão. Mas não vai ser fácil. Sou benfiquista e sei ver que o F.C. Porto é uma equipa forte. Acho que o Arsenal está tão preocupado com o Porto quanto o Porto está preocupado com o Arsenal», termina, numa conversa em dia de folga.