*com Nuno Madureira, enviado-especial ao Brasil

Portugal usou 21 jogadores no Campeonato do Mundo 2014, de que se despede ao fim de três jogos, na primeira das seis presenças em que cai perdendo apenas uma das três partidas: nas duas eliminações anteriores, 1986 e 2002, perdeu duas vezes. O número de jogadores utilizados deixa claras as dificuldades por que passou a seleção nacional no Brasil.

O alargar do leque de opções de Paulo Bento aconteceu muito por causa de lesões. Não só, também tem a ver naturalmente com escolhas do selecionador, que acabou por não chegar a recorrer a dois jogadores de campo, Rafa e Neto. Mas foram cinco substituições por lesão só no decorrer dos três jogos, e não ficou por aí. Mais incrível ainda, a seleção nacional usou os três guarda-redes disponíveis, algo que não acontecia num Mundial há 20 anos. 

Em 2006, na caminhada até à final, Portugal também usou 21 jogadores e 20 deles foram na fase de grupos, mas isso aconteceu por uma questão de gestão de Luiz Felipe Scolari. 

A entrada de Eduardo para a baliza nos descontos do jogo desta quinta-feira frente ao Gana, a render Beto, limitado depois de ter assumido a titularidade ao segundo jogo na ausência de Patrício, fechou a saga e deixou Rafa e Neto como os únicos jogadores não utilizados por Paulo Bento no Brasil.

A seleção nacional marcou apenas quatro golos no Brasil e sofreu sete. Nunca tinha sofrido tantos golos na primeira fase (e o total apenas é superado pelos oito de 1966, na caminhada até ao terceiro lugar). E apenas em 1986 marcou menos. Portugal no Brasil fica indevelmente marcado pelo descalabro do primeiro jogo com a Alemanha, a derrota por 0-4 que condicionou tudo o que se seguiu, acabando por deixar a seleção fora dos oitavos por diferença de três golos em relação aos Estados Unidos.

Numa prova em que beneficiou de um autogolo, a equipa nacional até foi das que mais rematou entre as seleções que jogaram a primeira fase: 53 remates no total, atrás apenas de França e Gana. Muito diferentes os números se falarmos de remates enquadrados: de acordo com as estatísticas da FIFA, 25 das vezes que visaram a baliza os jogadores da seleção atiraram para fora. Estes dados também perdem peso se olharmos para o número total de ataques criados, aí Portugal aparece no segundo terço da tabela, com 129 ataques.

Cristiano Ronaldo, sobre quem se fixavam todos os olhares no Brasil, cai com Portugal, ele e a Bola de Ouro de melhor do mundo que ostentava à partida para o Mundial. As outras mega-estrelas planetárias, Messi e Neymar, seguem e lançados para grandes prestações. Para já lideram empatados a lista de melhores marcadores, com o alemão Thomas Muller.

O capitão português, que chegou ao Brasil limitado e fez toda a prova bem longe da sua melhor condição física, acabou por marcar um golo na despedida. Apesar de tudo, tornou-se o primeiro português a marcar em três Mundiais diferentes, e juntou-se a uma curta elite de jogadores que marcaram em seis grandes competições, juntando Mundiais e Europeus.

Cristiano Ronaldo tentou fazer mais e tentou, muito, marcar. No final da primeira fase, foi dos 736 jogadores presentes no Mundial aquele que mais remates fez. Fraco consolo este, na verdade. Como será o facto de, numa estatística paralela apresentada no site da FIFA, ser o primeiro jogador do ranking «social», que mede o impacto dos futebolistas nas redes sociais.

 

Olhando para mais estatísticas individuais da seleção nacional, vale a pena olhar para os números de João Moutinho, um dos quatro totalistas da seleção nacional no Brasil, o jogador português que completou mais passes e também aquele que percorreu maior distância. Bons números também neste capítulo de Miguel Veloso, adaptado a lateral-esquerdo em metade da competição, e de William Carvalho, que jogou igualmente metade da prova. Nota ainda para o registo de Nani. Mais uma singularidade deste Mundial português, acabou por ser dos jogadores mais presentes na seleção nestes três jogos, ele que era dos que levantavam mais dúvidas nos meses que antecederam o Mundial.

Os números dos jogadores de Portugal no Brasil 2014:

2 Bruno Alves
3 jogos/270 minutos
122 passes completos (84,1 por cento)
16 bolas recuperadas
5 desarmes
5 faltas cometidas
29,4 km percorridos
27,8 km/h velocidade máxima

7 Cristiano Ronaldo
3 jogos/270 minutos
1 golo
1 assistência
23 remates (14 enquadrados)
82 passes completos
6 bolas recuperadas
1 desarme
28,2 km percorridos
31.2 km/h velocidade máxima

8 João Moutinho
3 jogos/270 minutos
2 remates
190 passes completos (85,2 por cento)
14 bolas recuperadas
8 desarmes
6 faltas cometidas
1 cartão amarelo
32,9 km percorridos
27 km/h velocidade máxima

17 Nani
3 jogos/270 minutos
1 golo
12 remates (6 enquadrados)
110 passes completos
13 bolas recuperadas
5 desarmes
5 faltas cometidas
32,3 km percorridos
29,8 km/h velocidade máxima

21 João Pereira
3 jogos/241 minutos
105 passes completos (78,4 por cento)
8 bolas recuperadas
4 desarmes
2 faltas cometidas
1 cartão amarelo
28,4 km percorridos
26,9 km/h velocidade máxima

4 Miguel Veloso
3 jogos/226 minutos
2 remates
124 passes completos (77 por cento)
14 bolas recuperadas
1 desarme
1 falta cometida
26,9 km percorridos
30,1 km/h velocidade máxima

11 Éder
3 jogos/205 minutos
7 remates
56 passes completos
7 bolas recuperadas
4 faltas cometidas
22,9 km percorridos
31,4 km/h velocidade máxima

22 Beto
2 jogos/179 minutos
5 defesas

16 Raul Meireles
2 jogos/159 minutos
2 remates
82 passes completos (82,8 por cento)
7 bolas recuperadas
2 desarmes
2 faltas cometidas
18,8 km percorridos
29,6 km/h velocidade máxima

6 William
2 jogos/134 minutos
90 passes completos (85,7 por cento)
8 bolas recuperadas
3 desarmes
7 faltas cometidas
16,5 km percorridos
25,8 km/h velocidade máxima

13 Ricardo Costa
2 jogos/134 minutos
67 passes completos (89,3 por cento)
3 faltas cometidas
8 bolas recuperadas
3 desarmes
14,1 km percorridos
27,2 km/h velocidade máxima

3 Pepe
2 jogos/127 minutos
57 passes completos (79,2 por cento)
14 bolas recuperadas
1 desarme
4 faltas cometidas
1 cartão vermelho
14,4 km percorridos
27,7 km velocidade máxima

19 André Almeida
2 jogos/71 minutos
36 passes completos (83,7 por cento)
4 bolas recuperadas
1 desarme
8,2 km percorridos
31,6 km/h velocidade máxima

18 Varela
2 jogos/50 minutos
1 golo
3 remates
20 passes completos
2 bolas recuperadas
1 falta cometida
6,9 km percorridos
27,4 km/H velocidade máxima

12 Rui Patrício
1 jogo/90 minutos
2 defesas

20 Ruben Amorim
1 jogo/90 minutos
1 remate
39 passes completos (73,6 por cento)
2 bolas recuperadas
2 faltas cometidas
11,3 km percorridos
27,8 km/h velocidade máxima

5 Fábio Coentrão
1 jogo/65 minutos
30 Passes completos (83,3 por cento)
5 bolas recuperadas
1 falta cometida
7,7 km percorridos
32,2 km/h velocidade máxima

9 Hugo Almeida
1 jogo/28 minutos
1 remate (1 enquadrado)
4 passes completos

10 Vieirinha
1 jogo/21 minutos
8 passes completos
2 bolas recuperadas

23 Hélder Postiga
1 jogo/16 minutos
3 passes completos

1 Eduardo
1 jogo/1 minuto

Neto e Rafa não jogaram qualquer minuto

(Dados estatísticos divulgados pela FIFA)