A França penou, foi feliz, cresceu, venceu a Nigéria, está nos quartos de final do Mundial e começa a acreditar. Não só a equipa, também os adeptos. O jogo com a Nigéria foi o primeiro do Mundial 2014 com transmissão num ecrã gigante em Paris e levou este mar de gente ao Hotel de Ville.


A seguir ao jogo com a Nigéria, e à forma como ele foi ganho, a expectativa cresce. Depois do título de 1998, a que se seguiu o fracasso de 2002, depois da final em 2006, a anteceder a vergonha de 2010, será que este é outra vez ano sim para os Bleus? Os adeptos vão-se convencendo. O jornal LÉquipe divulgou nesta segunda-feira uma sondagem que mostrava como já são 19 por cento os franceses que acreditam na vitória no Mundial, contra apenas 4 por cento depois do primeiro jogo no Brasil, a vitória sobre as Honduras. E isto era antes dos oitavos de final.

Percorreram um caminho longo e difícil os Bleus desde a África do Sul, de onde saiu uma equipa feita em cacos, humilhada em campo e em guerra civil fora dele. Começou com Anelka expulso do Mundial pela Federação, depois de o seu insulto cabeludo ao selecionador Raymond Domenech ter feito manchete de jornal, passou pela greve a um treino e por uma série de demissões na Federação, incluindo a do presidente, bem como de castigos para os «líderes» da revolta: Anelka, acima de todos, mas também Evra ou Ribéry.

Depois de ter ficado pelos quartos de final no Euro 2012, a França viu-se em apuros para chegar ao Brasil. Mas levou a melhor no segundo jogo do play-off com a Ucrânia: depois de ter perdido a primeira mão por 2-0, venceu por 3-0, numa demonstração de força que, para muitos, representou mesmo um ponto de viragem. «Houve alguns altos e baixos nos últimos anos, admito», dizia Lloris na véspera do jogo com a Nigéria: «Mas desde o segundo jogo com a Ucrânia sentimos entusiasmo em redor da equipa. Nos particulares de preparação sentimos uma relação de amor renascida entre a equipa e os adeptos.»

No Brasil restam cinco dos 23 jogadores que envergonharam a França na África do Sul: Lloris, Evra, Sagna, Valbuena e Benzema. A equipa orientada agora por Didier Deschamps não tem nada a ver com aquela. Foi outra França a que passou alegremente pela primeira fase do Mundial, com essa primeira vitória clara sobre as Honduras (3-0), seguida de uma goleada à Suíça (5-2), antes de um nulo com o Equador. Marcou encontro para esta tarde, em Brasília, com a Nigéria. E não foi fácil.

A Nigéria acreditou e limitou a França: as estatísticas da FIFA à meia hora do jogo dão uma ideia: a Nigéria tinha mais bola, 56 contra 44 por cento, mais ataques perigosos (11/9), mais remates à baliza (três para dois). Ao intervalo, os africanos lamentavam um fora de jogo no limite a Odemwingie, que chegou a introduzir a bola na baliza, bem como um penálti não assinalado por falta de Evra sobre Odemwingie. Do outro lado, Enyeama já tinha brilhado na defesa a um remate de Pogba.

Foi uma arbitragem feliz para a França, que viu ainda uma entrada brutal de Matuidi aos 54 minutos, que mandou Onazi para fora do campo e enfraqueceu o meio-campo da Nigéria, penalizada apenas com cartão amarelo.

Com o passar do tempo, e com a entrada de Griezmann a substituir o inoperante Giroud, os Bleus cresceram. Foi altura de brilhar o guarda-redes nigeriano. Enyeama foi herói, depois vilão. Aos 79 minutos, saiu à bola e deu-lhe uma palmada para a frente, que Pogba agradeceu, para fazer o 1-0.

O internacional francês, eleito homem do jogo, fez questão depois, através de uma rede social, de deixar uma homenagem ao guardião nigeriano, o guarda-redes que fez mais defesas em todo o Mundial, até agora, nada menos que 21.



Já nos descontos, um autogolo de Yobo, o quinto deste Mundial (e o segundo de que beneficia a França), selou o resultado final. O defesa cumpria o jogo 100 pelas «Super Eagles», tornou-se em Brasília o jogador nigeriano com mais partidas em Mundiais, 10 em três edições. No final Yobo anunciou o adeus à seleção, aos 33 anos.



Chora a Nigéria, que procurava chegar pela primeira vez na sua história aos quartos de final do Mundial, sorri a França. A procurar sinais de que sim, este pode ser ano dos Bleus. Como a «estrelinha» de Deschamps, campeão do mundo em 1998 e invicto nos dez jogos em que esteve envolvido em Mundiais, seja como jogador seja como selecionador. 

O treinador não quer fazer esse tipo de associação, porque o olhar dele está mais longe. «Só me interessa o aqui e agora», disse Deschamps na conferência de imprensa após o jogo com a Nigéria, a olhar para a frente. «Estamos entre os oito melhores do Mundial. Agora temos quatro dias para nos prepararmos para o próximo jogo.»

Veja o relato ao minuto e a crónica do França-Nigéria