Bruno Lazaroni é o exemplo típico do jogador que soube esperar, com paciência, pela sua hora para brilhar. Contratado na última época pela Naval, o filho do então treinador do Marítimo e antigo seleccionador do Brasil (de 1989 a 1990) teve uma participação discreta na última edição da Liga - apenas oitos jogos, quase todos já nas últimas jornadas. A fraca aposta de Ulisses Morais e, consequentemente, o rendimento inconstante levaram, até, a alvitrar uma possível dispensa no final da época, por inadaptação.
Mas o técnico navalista sabia perfeitamente que tipo de jogador tinha entre mãos e como lidar com ele, dando-lhe tempo para encontrar o seu espaço e cimentar tudo aquilo de bom que mostrara nas poucas oportunidades concedidas: elevado rigor táctico, marcação eficiente, qualidade no passe e, sobretudo, uma forma muito competitiva e séria de encarar cada partida.
A perseverança de Lazaroni torna-o, para já, no quarto jogador com mais minutos (354) jogados do plantel da Naval. Discreto, pouco dado a entrevistas, o trinco dos figueirenses tornou-se um pouco mais conhecido no último fim-de-semana, ao marcar o golo (de penalty) que ditou o empate da sua equipa em Braga. «Veio numa boa altura e foi importante não só para mim, como para a equipa, porque estávamos a lutar e a justificar um resultado diferente», confessa o médio brasileiro ao Maisfutebol.
Os tempos difíceis a ver os colegas do banco ou da bancada parecem ter ficado, definitivamente, para trás e, mesmo nos piores momentos, Lazaroni soube manter a cabeça no lugar: «Todo o jogador que não está a jogar tem de continuar a trabalhar, de forma empenhada e com seriedade, mas, sobretudo, tem de acreditar no seu potencial. Tenho 28 anos, já vivi algumas coisas no futebol, hei-de viver mais algumas, e sei que não podemos, nunca, perder a confiança.»
A influência «de papai»
A maneira serena como aguardou pela oportunidade pode ter dedo do pai, reputado treinador de quem, ao longo da carreira, foi escutando os conselhos. «É um privilégio tê-lo como pai. Está no futebol há muito anos e procurou sempre passar ensinamentos para mim. Isso é muito importante. Não é por ser quem é que me cobra mais. Diz-me para fazer as coisas com alegria e sem nunca perder a consciência de quem sou e do que posso fazer. É engraçado porque ele não reage emocionalmente como reage um pai, tem uma forma mais racional de ver as coisas porque compreende os outros treinadores», admite o camisola 5 da Naval, confrontado, justamente, com um desabafo que Sebastião Lazaroni teve, no ano passado, na Figueira, pelo facto de o seu filho não estar a jogar.
O reencontro era um dos aliciantes, nos dois jogos entre os clubes, na última época, mas apesar de convocado para ambas as partidas, curiosamente depois de períodos de ausência, a verdade é que o duelo entre pai e filho acabou por nunca ter lugar em solo português. «Cá, ao menos, ganhámos um jogo. No Brasil, defrontei-o duas vezes e perdi sempre», graceja o jogador navalista, que nunca foi treinado pelo progenitor, mas começou a segui-lo para todo o lado de tenra idade: «Aos três/quatro anos eu já vivia nos balneários e assistia aos treinos. Ele não teve qualquer influência na profissão que resolvi seguir. Nunca pressionou os filhos [Bruno tem mais dois irmãos], deixou-nos escolher naturalmente.»
Saltimbanco
A carreira de Bruno Lazaroni foi feita, essencialmente, no Brasil, no Estado do Rio de Janeiro, com uma experiência, pelo meio (2004) no Saint-Gallen, da Suíça. Isso enquanto jogador porque, atrás do pai, conheceu meio mundo. «Arábia Saudita, México, Itália, Turquia, China, Jamaica, Japão, Kuwait, tantos lugares! Eu costumava visitá-lo durante as férias escolares», relata o carioca, com saudades desses tempos de saltimbanco, agora que leva uma vida bem mais pacata: «O meu maior prazer, fora dos relvados, é a minha família.»