No dia consagrado às bruxas, para quem gosta de americanices, porque por cá é dia de Finados, a Naval pregou um valente susto ao F.C. Porto e, graças a uma Cruz, perdão, a Daniel Cruz, por sinal em noite de estreia absoluta, impingiu ao Dragão a terceira derrota consecutiva. Para os navalistas foi o primeiro triunfo sobre os campeões nacionais em quatro épocas na liga principal, numa confirmação de que esta é mesmo a melhor temporada de sempre dos figueirenses.
O F.C. Porto não registava três desaires seguidos desde a época de 2004/05. Em Março, às ordens de José Couceiro, os azuis e brancos perderam consecutivamente frente a Nacional (0-4), Inter de Milão (1-3) e Sporting (0-2). Esta é uma situação nova para Jesualdo Ferreira, que apenas tinha provado, por duas vezes, duas derrotas de enfiada, conseguindo sempre, à terceira, a redenção. Desta vez não foi assim e pode ter-se aberto uma crise de consequências imprevisíveis, à beira de um ciclo complicado, com a desforra frente ao Dínamo de Kiev, para a Liga dos Campeões, e o Sporting, para a Taça de Portugal, a surgirem no horizonte.
Jesualdo introduziu duas mudanças no onze, passando o brasileiro Lino de titular a 19º jogador, para colocar Benitez no seu lugar, enquanto no ataque relegou Hulk para o banco para apostar no reforço do meio-campo com Fernando. Talvez tenha começado aí o primeiro erro de casting do treinador azul e branco, por certo alertado para a capacidade do meio-campo navalista. Inflacionar o sector intermediário, empurrando Tomás Costa para o lado direito, deu o controlo das operações (seria de espera outra coisa?) aos campeões nacionais, mas retirou-lhes poder de fogo no ataque.

Daí que se entenda o início de jogo dominador mas com grande dificuldade para desenvolver jogadas de ataque consistente. Junte-se a isso o acerto da defesa da casa e tem-se o resumo da primeira parte, com pouquíssimas ocasiões de golo para os dragões, muitos passe errados no último terço do terreno e um guarda-redes adversário, à semelhança da sua equipa, muito concentrado e empenhado em anular as melhores iniciativas portistas.
Faltava, ainda assim, atrevimento à Naval (e já agora o seu melhor marcador, Marcelinho, ausente por lesão) para incomodar mais o último reduto visitante, e por isso o destaque vai para um grande remate do estreante Daniel Cruz (ganhou o lugar a Dudu), além de boas iniciativas de Marinho.
Golo castiga falta de audácia
Benitez ficou nos balneários ao intervalo, numa saída previsível, para a entrada do tal elemento da frente que faltava, neste caso Hulk. No entanto, Jesualdo continuou a não baixar a guarda no meio-campo, apenas deslocando Tomás Costa para o lado esquerdo da defesa. A falta de audácia foi paga com juros, logo a seguir, quando Daniel Cruz fez um golo que teve tanto de impossível como de imperdoável para Nuno.
O FC Porto aumentou então de intensidade e Bruno Alves esteve quase a empatar, atirando de cabeça ao poste. Pouco depois, Lisandro falhou na cara de Peiser, já depois do regresso de Tarik à Liga, entrando para o lugar de Cristian Rodriguez, o que valeu assobios dos adeptos portistas.
O balanceamento portista dava azo ao contra-ataque navalista e Carlitos, com um remate em jeito, ficou a centímetros de levantar de novo a bancada. Godemèche também chegou a cheirar o 2-0, mas Nuno negou-lhe o momento de inspiração.
A caminhar para o fim, os azuis e brancos levaram o jogo para as imediações da área navalista, com alguns livres inconsequentes e a força de Hulk a desiquilibrar pela esquerda, mas nem o nome de super-herói valeu aos campeões nacionais.