Já passava da uma da madrugada de quarta-feira quando Paulo Machado falou com o Maisfutebol. «O famoso bigode, não é?», perguntou.

É sim senhor.

O Olympiakos acabara de vencer o Manchester United e Atenas vivia uma noite feliz, mas o mundo virava as atenções para outro lado: ligeiramente acima do lábio superior de Paulo Machado. «Já soube que não se fala de outra coisa. O meu bigode é famoso».

Houve quem se lembrasse de Freddy Mercury, quem se lembrasse de Panenka e até quem se lembrasse de Borat. Tudo memórias legítimas, mas que não fazem justiça ao bigode fino, autêntico e requintado de Paulo Machado. Ninguém se lembrou de António Borges, e ainda bem.

«Já tinha deixado crescer uma vez e percebi que o bigode aqui na Grécia é entendido como sinal de respeito. Fiz bigode na brincadeira, para o pessoal se rir um bocado, mas as pessoas gostaram e eu percebi que o era muito bem visto. Por isso resolvi repetir.»

Mas houve outra razão, conta.

«O meu pai vinha ver o jogo com o Manchester United e ele usa bigode há mais de trinta anos. Fiz também para o homenagear. Mas nunca pensei que fosse ter esta repercussão toda. Já estivemos a ver a internet e não se fala de outra coisa nas redes sociais.»



Não era só redes sociais: era sobretudo aí, é verdade, mas o bigode de Paulo Machado, um senhor bigode, aliás, foi notícia em Espanha, em Inglaterra, no Brasil, enfim, tornou-se global.

«Na Grécia já toda a gente falava do meu bigode. Aqui até sou conhecido como Moustaki.»

A dimensão mundial que o fenómeno tomou, essa sim, surpreendeu até Paulo Machado. «Eu já tinha utilizado bigode com o PSG...», lembra. «Mas ainda bem que agora se tornou famoso.»

O internacional português diverte-se com estas coisas: aprecia rir e fazer rir. «Gosto de brincar e de fazer com que as pessoas se riam. O futebol é um divertimento. Viu como festejei o golo que marquei no último fim de semana?». Não, ainda não. «Tem de ver. Está no youtube.»

«Fiz um golo e a festejar puxei os calções até ao peito e imitei o Ronaldo ao fazer o gesto de calma, calma. Foi um espetáculo. Toda a gente se riu», sorri Paulo Machado. «O futebol tem de ser um divertimento. Levo muito a sério o trabalho, mas há alturas em gosto de me divertir e divertir as pessoas. Sou o animador do balneário. Sou eu que meto música e estou sempre a fazer piadas.»



O momento, de resto, é de abrir sorrisos. O Olympiakos venceu o Manchester United e há felicidade no ar. «A cidade está em festa. As pessoas estão eufóricas, nota-se na maneira como falam connosco e como nos acenam. Desde 1999 que o Olympiakos não chega aos quartos de final.»

«Fomos superiores ao Manchester United, eles praticamente só foram à nossa baliza uma vez, num remate do Van Persie no fim. Fizemos um jogo perfeito.»

Paulo Machado jogou os quinze minutos finais, ele que recuperou recentemente de lesão, e acredita que Paulo Bento viu o jogo. «Acho que o selecionador está atento. Os únicos portugueses que se mantêm na Liga dos Campeões sou eu, o Ronaldo, o Coentrão e o Pepe. Há também o Neto, mas pelo resultado de hoje dificilmente o Zenit passa aos quartos de final. Por isso sou dos poucos portugueses na Liga dos Campeões e o selecionador está atento a isso.»

Paulo Machado alimenta o sonho de estar no Mundial 2014, onde de resto teria oportunidade de conviver com outro bigode nacional: Hugo Almeida.

«Sim, mas eu deixei crescer o bigode primeiro», ressalva. «Podem ir ver às fotografias antigas. Ele é que me copiou.» Além disso o seu bigode é mais bonito..., sugere-se. «Claro, sem comparação. Basta olhar para a cara de um e para a cara de outro. O meu fica-me muito melhor.»



A conversa está quase a terminar quando Paulo Machado acrescenta mais um dado.

«Está aqui o Salino a dizer que têm de lhe dar um bocado de moral aí no Maisfutebol. O rapaz merece, fez um grande jogo hoje.» Mas está a pensar deixar crescer o bigode?, pergunta-se.

«Salino, estás a pensar deixar crescer o bigode?». Ouve-se que sim ao longe, mas Paulo Machado não pareceu convencido. «Ele não tem bigode para deixar crescer. Tem um pêlo aqui, um pêlo ali, aquilo não ficava nada de jeito. Só se fizer um bigode com as tranças do cabelo.»

Nem todos têm o potencial piloso de Paulo Machado, é verdade, o que levanta outra questão: até quando o fenómeno que nos devolve à memória feliz do Portugal antigo pode sobreviver? «Pelo menos até ao jogo em Old Trafford vou mantê-lo», revela.

Faz sentido. Aquele bigode já não é só de Paulo Machado: é do mundo.