Nuno Assis foi o convidado semanal da entrevista Maisfutebol/Rádio Clube. O médio do V. Guimarães disse que, se não fosse o controlo positivo num teste antidopagem, poderia ter sido jogador do Estugarda, de Trapattoni:
Antes de ir para o Benfica esteve com um pé no Espanhol de Barcelona. Está arrependido de não ter ido para Espanha?
Não, foi uma situação complicada de decidir. Antes do Benfica, tinha tudo acertado com o Espanhol. Eu acabava contrato com o Vitória, estávamos em Janeiro e era para ir no final de época, enquanto o Benfica era logo em Janeiro. a partir do momento em que surgiu proposta do Benfica, e como não sabemos o dia de amanha, decidi assinar pelo Benfica.
Testou positivo num controlo antidopagem. Está de consciência tranquila?
Até hoje não sei o que realmente aconteceu. Seria mais fácil se, inconscientemente, tivesse tomado alguma coisa, porque não acredito que alguém o faça conscientemente, porque quem o faz é burro. Com o controlo que há hoje é uma estupidez. Podia acontecer tomar qualquer coisa, por uma dor qualquer. Depois, as pessoas não têm noção do que é o doping. Pensa em injecções, mas basta tomar um comprimido qualquer para uma dor de cabeça e acusar. Mas até hoje não sei o que aconteceu. Era mais fácil dizer: ¿Tomei isto¿ e apanhar seis meses, que é o mínimo, porque pode acontecer a qualquer um. Até hoje convivo com isso.
Sente-se um jogador marcado por essa situação?
Sim, principalmente nalguns campos. Há sempre um ou outro, ou muitos, que relembram isso. Agora passa-me ao lado.
Foi usado como exemplo, para dizer que nem um jogador do Benfica fica impune?
Não sei. A verdade é que deu positivo, por alguma razão. Eu não tomei nada, depois houve uma altura em que o problema já não era eu, era o Benfica, o Governo que também entrou nisto. Já não era nada comigo, eu já nem interessava. Houve outros interesses, mas o Benfica comigo foi sempre excepcional, o presidente foi fantástico, e quem me acompanhou deu-me todo o apoio. Depois chegou-me aos ouvidos que podia apanhar um ano e meio de suspensão.
Pensou em pendurar as chuteiras?
Se acontecesse, claro que era o mais provável. Hoje em dia já é complicado quando se tem uma lesão de seis meses e se acaba contrato. Estar um ano e meio parado, muito dificilmente um clube contrata esse jogador.
Ainda procura justificações para o que aconteceu? Quando vai dormir não pensa nisso?
Penso que, na altura em que sucedeu, podiam ter acontecido outras coisas e muito boas. Na altura estávamos em Janeiro e já me tinham surgido algumas coisas. Quando houve a primeira suspensão, estava para sair na altura. O Trapattoni estava no Estugarda e dois dias antes de saber que tinha acusado positivo, ele tinha-me ligado e queria que eu fosse para o Estugarda por empréstimo. Na altura o treinador era o Koeman e não estava a ser muito utilizado e tinha essa possibilidade. Na segunda suspensão, estava numa fase muito boa, já me tinham chegado algumas coisas aos ouvidos e podiam acontecer coisas boas. A partir daí foi tudo por água abaixo.
O que tem Trapattoni. Chegou aqui, foi-se embora, mas campeão¿
O homem em si. Toda a gente o conhecia, pela experiência que tinha, mas pela forma como motivava os jogadores. Era do género: ¿Não queres treinar? Então ficas aí¿. Todo o plantel gostava dele, mesmo os que não jogavam, como homem sabia como gerir o grupo e isso foi fundamental. O plantel não era muito grande, tínhamos 11, 12, 13 jogadores que jogavam mais. Ele soube gerir todos os outros.
No Benfica fala-se muito do papel dos adjuntos, qual foi o de Álvaro Magalhães?
Foi fundamental também. Já o conhecia, do Gil Vicente. É uma pessoa diferente, muito complicada, mas era o contrário do Trapattoni, que era calmo e tranquilo. O Álvaro era muito agitado, mas às vezes era isso mesmo que era preciso, alguém que agitasse as águas. Por isso digo que foi fundamental.