A ideia era a mesma de 2004, igual a 2008, mas teve o mesmo efeito de 1994: zero. O capitão Karagounis assumiu na véspera do encontro que Grécia e Coreia do Sul tinham modos idênticos de jogar: organização defensiva e depois explorar o contra-ataque. Bem dito pelo ex-benfiquista, bem executado pelos asiáticos, que são os primeiros vencedores no Mundial-2010.

A vitória coreana assentou em princípios simples, em futebol rápido, ao primeiro toque e eficácia que bastasse. Num grupo com um favorito claro, a Argentina, a equipa asiática deu um passo importantíssimo para a classificação. No entanto, vale a pena recordar que em 2006, na Alemanha, o triunfo no primeiro jogo de pouco valeu. Já os gregos começam o Mundial como acabaram o último em que estiveram, em 1994: com uma derrota clara, por 2-0. Nem um golo conseguem em Campeonatos do Mundo...

Desta vez, Charisteas não tirou os pés do chão

Os campeões europeus de 2004 assustaram logo de início, numa bola parada, com Torosidis a atirar por cima, após um canto. Provariam desse veneno minutos depois, com Charisteas, que saltou mais alto quem um país inteiro na final do Europeu de Portugal, a deixar a bola passar-lhe por cima (nem saltou), para Jung Soo Lee encostar para o fundo das redes.

A Coreia do Sul ficava confortável na partida, não só pela vantagem, como na abordagem aos resto do encontro: segura na defesa e rápida no contragolpe. A Grécia era uma equipa de uma só ideia: jogo directo e tentar qualquer coisa nas bolas paradas que iam surgindo. Efeito nulo, efeito igual ao remate de Chu-Young Park na cara de Tzorvas. O ponta-de-lança do Mónaco desperdiçava o 2-0 após um grande passe de Ji Sung Park.

Os gregos são gregos e estão aflitos

Ao intervalo, o 1-0 era prémio à eficácia asiática e castigo para uma formação helénica com extremas dificuldades na criação de jogo. E se os helénicos não tinham um rasgo de criatividade, pior ficaram quando Karagounis saiu no descanso. O mais criativo dos gregos deixava o jogo, Patsatzoglou entrava no lugar do ex-benfiquista, mas o futebol helénico continuava ensurdecido, não só pelo som das vuvuzelas, não só pela equipa coreana, mas também por culpa própria.

Um «tiro no pé» de Vyntras deixou Ji Sung Park com a bola. O coreano do Manchester United meteu a quinta, arrancou para a baliza e aumentou para 2-0, com um remate subtil de pé esquerdo. Os gregos viam-se gregos e estavam num mar de dificuldades, aflitos no jogo, perante a simplicidade asiática.

Rehhagel trocava dois avançados por outros dois e a Grécia conseguia, por fim, chegar à área coreana, da forma mais prevísivel: pouco futebol apoiado, bolas sempre para a área, em jogadas sucessivas que os coreanos iam resolvendo.

Aliás, o marcador não só se dilatou porque o ponta-de-lança Chu Young Park não acertou com as redes gregas; não se reduziu, também é certo, porque Gekas fez Ryong Jung brilhar. O guarda-redes era o coreano que faltava aparecer e aumentou a crise grega.

O saldo helénico é cada vez mais negativo: quatro jogos em mundiais, quatro derrotas; 12 golos sofridos, zero marcados. Rehhagel dissera na véspera que repetir o Europeu de 2004 era «muito difícil». Com exibições cinzentas como esta na estreia do Mundial-2010, a pergunta perdura há seis anos: como é que aconteceu?

Coisas de outros tempos, de outros torneios, mas que os gregos fazem questão de lembrar cada vez que entram em campo. E cada vez que o fazem agudizam a dor portuguesa.