A 'World Cup Experts Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos do planeta para lhe apresentar a melhor informação sobre as 32 seleções que vão disputar o Campeonato do Mundo. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autores dos textos: Graham Parker 
Parceiro oficial nos Estados Unidos: Guardian US  
Revisão: Filipe Caetano


A discussão sobre o plano de Jurgen Klinsmann para a seleção da Alemanha no Mundial de 2006 só ficou esclarecida durante o torneio, quando se percebeu a resposta às muitas críticas pela aposta numa equipa jovem. A esperança nos Estados Unidos é que os resultados sejam igualmente bons, apesar dos recursos serem mais limitados e os desafios mais exigentes, mas o otimismo numa boa campanha mantém-se.

O selecionador partiu de uma abordagem muito defensiva numa fase inicial para uma estratégia mais expansiva nos últimos jogos. No início os adeptos chegaram a gozar com o número de médios defensivos utilizados, como se estivesse à espera de construir um muro no meio-campo que obrigasse a bola a fazer ricochete e entrar na baliza adversária. Mas, à medida que Klinsmann estabilizou as suas primeiras escolhas nessa área do terreno, centrou atenções noutras zonas, nomeadamente nas laterais.

Ao longo do tempo começou a evidenciar a tendência em jogar num 4x2x3x1, com Michael Bradley a servir de âncora e atacar a partir do meio-campo, tendo Jermaine Jones ao seu lado. Nesse sistema, Clint Dempsey tende a jogar atrás do ponta-de-lança, com Landon Donovan (que não vai estar no Mundial) e/ou Graham Zusi a cair para a linha. Na maioria das vezes o homem mais avançado tem sido Jozy Altidore, apesar da época menos conseguida no Sunderland.

O problema de Klinsmann é a gestão dos recursos entre estágios, em que tem de adaptar-se às diferentes fases da época de cada jogador. Tanto pode contar com um plantel cheio de jogadores da MLS ou da liga mexicana como com atletas que estão na Europa e em particular com o contingente germânico, que Klinsmann tem vindo a descobrir.

Isto fez com que nos últimos jogos particulares antes do anúncio da lista final os Estados Unidos jogassem com uma equipa diferente do habitual, deixando Altidore quase sempre isolado lá na frente, resultando numa derrota com a Ucrânia no Chipre e num meio-campo recheado de experiências e jogadores da MLS contra o México no Arizona. Neste jogo, Kyle Beckerman, possível suplente de Jones e Bradley, assumiu tarefas mais defensivas, deixando Bradley livre no vértice do losango. Durante uma parte até correu bem, permitindo alcançar a vantagem de 2-0, mas no final do jogo a equipa teve alguma sorte em conseguir segurar o empate a 2-2 depois do México ter ultrapassado a tática adversária.

Como resposta à estratégia mexicana de cinco defesas chegou a ser eficaz, mas é difícil dizer até que ponto será utilizável no Mundial. Com tantas alterações de jogo para jogo existem muitas dúvidas sobre a tática a utilizar por Klinsmann durante o torrneio, embora o treinador considere que a equipa está «a aprender a ser compacta» para ser perigosa no ataque, sabendo que terá de assumir uma tática realisticamente defensiva contra o Gana, Portugal e Alemanha. Os adeptos americanos esperam que o plano seja revelado em breve.

Que jogador vai surpreender neste Mundial?
Há uma grande expetativa em redor do substituto natural de Landon Donovan, o médio defensivo Graham Zusi, mas também temos de estar atentos ao defesa-central e seu colega no Sporting Kansas City, Matt Besler. É o capitão dos campeões em título da MLS e tem vindo a impor a sua presença e qualidade, que o levaram à equipa nacional no último ano. O destaque nos últimos dois anos tem ido para Omar Gonzalez, seu parceiro na defesa, mas desde que Besler se assumiu como titular tem provado ser mais consistente do que o colega. Contra o Gana, Portugal e a Alemanha terá oportunidades suficientes para evidenciar os seus dotes.

Que jogador vai dececionar no Brasil?
Se Donovan estivesse presente seria ele, mas Klinsmann resolveu essa questão, deixando-o fora dos convocados.

Qual é a expetativa real para a seleção no Mundial?
Perante o sorteio para o Mundial seria de esperar que os jogadores ficassem desconfiados em relação aos adversários, mas a estratégia de Klinsmann em realizar amigáveis com grandes seleções (permitindo vitórias sobre o México, Itália, Bósnia e duas boas exibições com a Alemanha) faz com que ninguém se deixe impressionar. Ou seja, o jogo inaugural com o Gana será, como descrito pelo selecionador, uma «final» e qualquer coisa que não seja uma vitória sobre o nemesis dos últimos dois Mundiais poderá acabar com o sonho de apuramento para a segunda fase. Mas, se conseguirem libertar a pressão e encontrarem o ritmo certo poderão vir a incomodar Portugal e esperar que a Alemanha já tenha resolvido as suas contas no último jogo do grupo, permitindo um empate. São muitos «ses», mas a equipa técnica tem feito de tudo para ajudar os jogadores, tendo realizado inclusivamete um estágio de preparação no Brasil durante o inverno para tentar criar vantagem relativa nomeadamente perante os adversários europeus.



Curiosidades e segredos da seleção

Omar Gonzalez
Sendo um dos defesas-centrais titulares, é um jogador que vai estar sob grande escrutínio, especialmente considerando a recente baixa de forma, com falhas de concentração comprometedoras nos últimos jogos. Uma das formas encontradas por Gonzalez para reagir às críticas é colocar fotos no instagram a tocar saxofone.

Graham Zusi
Aos oito anos fez parte da cerimónica de abertura do Campeonato do Mundo de 1994, que teve lugar no Soldier Field, em Chicago. Agora, surge como o substituto natural de Landon Danovan e se os Estados Unidos seguirem para a segunda fase e tiverem de ir aos penaltis poderá redimir-se do que falhou pela sua equipa na final da MLS, apesar dos Sporting Kansas City terem acabado por conquistar o título.

Kyle Beckerman
É pouco provável que seja titular (apesar de Jermaine Jones ver normalmente muitos amarelos, o que pode abrir-lhe essa possibilidade), mas poderá vir a ser foco de atenção durante as transmissões televisivas, nem que seja para agradar aos hipsters do futebol devido às suas rastas. Beckerman assegura que não corta o cabelo há nove anos.

Jermaine Jones
No que diz respeito a cabelo não é só o de Beckerman a dar que falar. Durante um jogo de qualificação para o campeonato do mundo a equipa teve de enfrentar o nevão do Colorado e aconteceu isto a Jermaine Jones:




Perfil de uma figura da seleção: Michael Bradley



Michael Bradley funciona como uma espécie de Pedra de Roseta futebolística para seleção dos Estados Unidos. A partir da sua posição no meio-cempo é o jogador que melhor entende todos os dialetos do futebol americano. A equipa de Jurgen Klinsmann tem de lidar com a técnica mexico-americana, o atletismo da MLS e a influência das descobertas germânico-americanas, por isso é importante poder recorrer a alguém tão viajado e estudioso que possa entender todas as «linguagens».

Não admira que o ex-internacional Alexi Lalas o denomine «um conector» em campo e é entendido como «essencial» para a equipa. Mas nem sempre foi assim e houve um tempo em que ele próprio não foi bem recebido. Contratado pelo seu pai/treinador, Bob, para a sua primeira equipa profissonal, os New York Metrostars, e depois chamado à seleção quando o seu pai assumiu o cargo de selecionador, teve de lutar muito para apagar a sugestão de nepotismo - apesar de em 2005 se ter tornado no jogador mais jovem da MLS a ser contrato por uma equipa estrangeira, no caso os holandeses do Heerenveen.

Depois de experiências na Holanda e na Alemanha, e uma breve passagem infeliz pelo Aston Villa, Bradley acabou por florescer quando teve a possibilidade de se mudar para Itália, mesmo representando uma equipa modesta como o Chievo. Tornou-se fluente em italiano no espaço de três meses e rapidamente conseguiu impor a qualidade do seu jogo, assumindo uma postura pragmática e convincente para defrontar as difíceis equipas da série A.

As competências táticas conquistadas em Itália poderão ser cruciais para as aspirações americanas no Brasil, onde terão de jogar muito tempo em zonas recuadas do campo, considerando os adversários em causa, e esperando aproveitar bem as poucas oportunidades que vão surgir. Para Bradley, que considera a posse algo «demasiado valorizado», não será problema nenhum ter de lutar defensivamente durante os 90 minutos. E não será de estranhar que durante muito tempo a grande referência de Bradley tenha sido Roy Keane, embora em Itália tenha aprendido a admirar Demetrio Albertini.