Foram momentos marcantes, de glória e afirmação. Na relva, no rinque, na pista ou na estrada. Portugal gritou-se a si próprio em todos eles, foi às lágrimas com futebolistas, hoquistas e outros atletas.

Não cabem aqui todos porque, felizmente, já nos abraçámos uns aos outros imensas vezes. Fizemo-lo graças a estes homens e mulheres, símbolos de superação. Uns a correr sozinhos porque era a sua missão, outros a correr em conjunto quando a derrota parecia certa.

Se já nos serviram de inspiração em algum momento, hoje que nos sirvam de novo e que nos façam ter um arrepio na espinha como já não temos há algum tempo. Há demasiado tempo, aliás, que não festejamos um golo, que celebramos o chegar primeiro e cortar a meta, que subimos ao lugar mais alto do pódio. Mas teremos sempre isto.

Portugal, 1966

Portugal vivia em ditadura, fechado em si mesmo apesar de reclamar um território que ia da Europa à Ásia e tinha muitos milhões de pessoas em África. A seleção portuguesa juntava esses mundos. Se os clubes nacionais já tinham dado cartas na Europa, em 1966 o futebol português encantou a nível mundial. Estávamos a perder 3-0 com a Coreia do Norte aos 25 minutos, no Campeonato do Mundo! E caramba, correram atrás de nós, pontapearam-nos até, mas demos a volta! Um jogo para a eternidade.

Agostinho, 1979

Poucas montanhas há por aí como o Alpe D’Huez. Em 1979, Agostinho montou a bicicleta e trepou a mais dura etapa do Tour de France. Chegou antes de todos os outros e, por isso, os franceses fizeram o que Portugal já lhe concedera: guardar-lhe o nome para sempre. Eles numa curva daquela incrível subida, nós quando nos lembramos que não há montanha que não possa ser vencida.

Hóquei em patins, 2019

Se há coisa em que somos realmente bons é esta. O hóquei em patins está longe de ser uma modalidade que o mundo acompanha. Nem modalidade olímpica é sequer. Mas se está longe de ser tudo aquilo, está-nos perto do peito. Porque é aí que temos o coração e é aí que batemos com o orgulho de sermos campeões do mundo. Tinham passados 16 anos da última vez que Portugal vencera um mundial e dois anos da final perdida para a rival de sempre. O desporto, em geral, dá sempre segundas oportunidades e foi precisamente em Espanha que a seleção recuperou um título que pode dizer muito pouco a outros povos, mas que deixa este colado ao ecrã e a roer as unhas.

Carlos Lopes, 1984

Viseu, 18 de fevereiro de 1947. Acabara de nascer o primeiro campeão olímpico português. Carlos Lopes conquistou o ouro em Los Angeles num dia solarengo e madrugada em Portugal em 1984. Que não haja dúvidas: Lopes era um atleta de eleição, já tinha tido resultados impressionantes antes, entre eles a medalha de prata nos 10 mil metros nos Jogos Olímpicos de Montreal. A corrida que terminou no Memorial Coliseum não foi só o fim de um percurso de mais de 40 quilómetros. Foi a corrida de um homem de 37 anos, que fora servente de pedreiro em tempos, que fora atropelado na segunda circular 15 dias antes de correr em LA. Levava o número 723, calção encarnado e uma camisola branca, atravessada por verde e encarnado. Depois, levou a bandeira, de Portugal, ao mais alto lugar.

Rosa Mota, 1988

Atrás de um grande atleta, veio outro. A 23 de setembro de 1988, em Seul, Coreia do Sul, Rosa Mota chegou ao destino. Campeã da Europa em 1982 e 1986, campeã do mundo em 1987, a maratonista foi a primeira campeã olímpica portuguesa. Elas, como eles, são inspiradoras e o registo da portuense está aí para nos dizer isso mesmo.

(entrada no estádio aos 8:11min)

Fernanda Ribeiro, 1996

Uma das mais impressionantes corridas de sempre no atletismo português. Fernanda Ribeiro conquistou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atlanta nos 10 mil metros com uma ponta final incrível, quando já tudo parecia perdido. Wang Junxia era recordista mundial da distância e medalha de ouro nesses mesmos Jogos, nos cinco mil metros. Quando a chinesa acelerou na última volta, o ouro parecia entregue. Mas Fernanda Ribeiro foi buscar forças e numa das mais incríveis ultrapassagens dos Jogos Olímpicos subiu ao lugar mais alto. Nesse dia, em Atlanta, uma portuguesa era ao mesmo tempo Campeã da Europa, Campeã do Mundo e Campeã Olímpica dos 10 mil metros.

Nelson Évora, 2008

Portugal tinha passado pelos Jogos de Sydney e Atenas sem qualquer medalha de ouro, mas tinha um pretendente de peso em Pequim. Quando Nelson Évora saltou 17,67 metros, o país saltou com ele. Nas imagens de TV, o treinador João Ganço exultava e dizia qualquer coisa como «Já está». E estava mesmo, com Évora a ser o quarto, e último, campeão olímpico português. De origem cabo-verdiana, nascido na Costa do Marfim, com a bandeira de um Portugal que continua a fazer-se de diferentes proveniências.

Mundial Riade, 1989

O futebol português teve pouco sucesso com as cores nacionais até final dos anos 80. O Mundial de 1966 e o Europeu de 1984 eram, até aí, as boas participações de um selecionado nacional. Porém, havia um grupo de jovens liderado por Carlos Queiroz que praticamente na sombra dos clubes iria mudar para sempre o futuro. O mundial de sub-20 em 1989, em Riade, chegou com golos de Abel Silva e Jorge Couto. O título foi inédito e o futuro abriu-se, com Portugal a ver num grupo de jovens que o que aí vinha podia ser bom.

Mundial Lisboa, 1991

E tanto podia, como foi. Dois anos depois, Portugal defendia o título mundial em casa. O antigo Estádio da Luz foi exatamente o oposto dos tempos que hoje vivemos. Se hoje vivemos separados, naquele dia nem uma folha de papel cabia entre duas pessoas. A final do mundial de sub-20 de 1991 ficará, para sempre, como uma das grandes manifestações de Portugal num estádio, porventura um dos maiores do mundo naquele tempo. O penálti final de Rui Costa deu-nos uma conquista arrepiante e provou que Riade não era obra do acaso e que Portugal teria mesmo um futuro brilhante.

Portugal, 2016

Esse futuro brilhante que se augurava em 1991 chegou. Pelo caminho foi derrotado, foi batido, umas vezes injustamente, outras por más opções. A fé nele foi abalada vezes demasiadas. Sofremos perante franceses, sul-coreanos, gregos, franceses de novo, espanhóis e franceses mais uma vez. Até ao dia das nossas vidas futebolísticas. Berrámos «chuta!», a bola entrou e gritámos golo! O pontapé de Éder foi a experiência de uma vida. Inapagável da História, da memória, e, caramba…da espinha.