Seis anos depois da entrada em cena de David Beckham, a MLS perdeu o seu porta-estandarte. Como em tudo o que diz respeito à carreira do astro inglês na última década, o embrulho foi mais vistoso do que o conteúdo: a passagem de Beckham pela Liga norte-americana traduziu-se num saldo, relativamente discreto, de 98 jogos (16 por temporada), 18 golos (3) e 40 assistências (6,6). Mas os dois títulos conquistados pelos LA Galaxy, em fim de ciclo, acabaram por legitimar a aposta, deixando valorizada a sua imagem.

Agora, a 18ª temporada da MLS arranca, não sem uma, mas sem as duas principais referências do campeão. Além de Beckham, de volta à Europa, também Landon Donovan, para muitos o melhor jogador norte-americano de sempre, vai falhar os primeiros meses da temporada do bicampeão, por força de um desgaste emocional que o levou a assumir uma pausa sabática até final de março.

Isto deixa o palco aberto a outra grande figura, o irlandês Robbie Keane, que aos 32 anos tem a MLS a seus pés. Mas não ficará sozinho: a acreditar na promessa do dono dos Galaxy, Tim Leiweke, Keane deverá ter, a partir de maio, a companhia de outro nome de primeiro plano do futebol europeu, com Frank Lampard e Kaká entre as joias mais cobiçadas.

Treinado pelo carismático ex-selecionador Bruce Arena, os Galaxy partem como principais favoritos à conquista de um inédito terceiro título. Vão enfrentar concorrência forte, e não só dos Houston Dynamos, finalistas vencidos das últimas duas edições.

Os renovados New York Red Bulls, por exemplo, juntaram os talentos de Tim Cahill e Juninho Pernambucano ao talento de Thierry Henry, o jogador de melhor palmarés nos relvados norte-americanos, a par de Alessandro Nesta (Montreal). A aversão a títulos da equipa de Nova Iorque começa a ser tão lendária como a dos Knicks, na NBA, mas se há ano em que a candidatura parece bem fundamentada, é este. Isto, apesar da novela que foi a escolha do nome do treinador, um cargo que até final de janeiro teve o português Paulo Sousa na linha da frente, antes de a aposta incidir no antigo defesa da equipa, Mike Petke. Assim, esta será, pelo menos na fase inicial, mais uma MLS sem representante português, nos bancos ou no relvado.

Sporting Kansas City, San Jose Earthquakes (onde joga o melhor marcador da Liga, Chris Wondolowski), Real Salt Lake e Seattle Sounders ¿ que estão prestes a contratar Obafemi Martins ao Levante e com 43 mil espectadores tiveram, pelo quarto ano seguido, a melhor média de assistências da Liga ¿ são os outros candidatos numa competição em que o equilíbrio de forças entre as conferência Leste (nove títulos) e Oeste (oito) tem sido posto em causa nos anos recentes, com quatro vitórias consecutivas para as equipas do Oeste.

Cedência aos hábitos desportivos dos norte-americanos, a fórmula da competição continua a ser alvo de críticas pelos que defendem a especificidade do futebol. As 19 equipas (16 norte-americanas e três do Canadá) disputam uma longa fase regular, com 34 jogos de março a outubro, que desemboca num play-off para o qual se apuram os primeiros de cada conferência. Aí começam verdadeiramente as decisões, e o que fica para trás torna-se irrelevante: os finalistas de 2012, LA Galaxy e Houston Rapids, sofreram para garantir a qualificação para a fase de decisões, sendo respetivamente os sétimo e nono classificados no conjunto das duas conferências, mas transfiguraram-se nos jogos a eliminar.

O facto de, a exemplo da NBA, não haver promoções e descidas de divisão é também alvo de críticas por parte dos «puristas», que apontam a inexistência de ligação entre as divisões inferiores como uma das causas para a estagnação da cúpula profissional do futebol norte-americano, por contraste com a dinâmica da Liga MX, do México, e com consistência de resultados das suas seleções. Uma evidência que o fenómeno Beckham, como Pelé, 35 anos antes, não chegou para transformar.