O futebol tem coincidências divertidas. O Mirandela, por exemplo, regressou ao São Sebastião e trouxe a festa da Taça de Portugal com ele para Trás-os-Montes: estádio a rebentar pelas costuras, televisões, bombos, enfim, uma animação. É o terceiro ano consecutivo que o faz, de resto.

A maior coincidência, essa, esteve no relvado. Num jogo repartido e muito discutido, o Gil Vicente marcou primeiro e parecia ter o apuramento na mão. A um minuto do fim, porém, o Mirandela empatou. Exatamente como acontecera há dois anos, com o Beira Mar. Mais meia hora de futebol.

No último suspiro do jogo, o Mirandela perdeu. Frustrando as expetativas de três mil pessoas: exatamente como há dois anos, lá está. Na altura perdeu nas grandes penalidades, agora foi outro penalty a definir: falta sobre Éder na área, bola na marca de onze metros e Cláudio fez golo, claro.

O relógio marcava 118 minutos e já não deu tempo para mais nada. Para trás tinham ficado duas excelentes ocasiões de golo de Inzaghi, ambas paradas por um fantástico Adriano, e vários protestos pela falta do penalty. Califa, no entanto, parece ter tocado mesmo em Éder dentro da área.

Veja como vivemos o jogo

Os adeptos, esses, despediram-se com aplausos do líder da zona norte da II Divisão e da própria Taça de Portugal. O Mirandela, é um facto, foi melhor durante muito tempo mas não chegou para repetir o feito da época passada: há mais ou menos um ano, recorde-se, eliminou o V. Setúbal.

Este ano foi diferente.

Não entrou bem. O Gil Vicente teve mais bola na primeira parte, mais domínio de jogo e a melhor ocasião de golo: Luís Carlos surgiu isolado, mas demorou muito a rematar e acabou por fazê-lo para defesa de Pedro Fernandes. A partir da segunda parte, porém, o Mirandela tornar-se-ia melhor.

Completamente.

O Mirandela entrou a ameaçar num cabeceamento de Lucas João que saiu a centímetros do poste, o Gil Vicente marcou na sequência de um canto, quando até estava na pior fase do jogo, e com isso atirou os transmontanos para a frente. Com tudo a que a expressão «para a frente» tem direito.

Vítor Maçãs lançou dois avançados, Paulo Alves respondeu com mais um central e os dados alteraram-se por completo. Só dava Mirandela, só havia uma equipa que podia marcar. Marcou mesmo. A um minuto do fim, curiosamente, numa jogada excelente de Inzaghi pela direita.

O avançado que já andou pela Liga e que até chegou a ser associado ao Benfica sentou Adriano com uma simulação e atirou para a baliza deserta. Seguiu-se uma explosão de alegria e mais meia hora. Que não alterou muito: mais luta, mais discussão, mais barulho. Sim, o jogo foi divertido.

Provavelmente tolhido pelas alterações que tinha feito nos minutos finais do tempo regulamentar, para defender a vantagem magra, o Gil Vicente perdeu a capacidade de ser mais ofensivo e deixou o Mirandela continuar a ameaçar a vitória: Inzaghi e Danilo estiveram muito perto de o fazer, aliás.

Depois veio o tal penalty e o fim da festa.

FICHA DE JOGO

Estádio: São Sebastião, em Mirandela

Espetadores: cerca de três mil pessoas

Árbitro: Jorge Tavares (Aveiro)

Assistentes: José Oliveira e Pedro Ribeiro

MIRANDELA (4x3x1x2): Pedro Fernandes; Danilo, Corunha, Adriano e Califa; Rui Lopes, Alphonse e Pedro Borges (Filipe, 75m); Toninho (Inzaghi, 83m); Leandro e Lucas João (Nani, 78m).

Suplentes não utilizados: Richard Gomes, Rondinele, Katalin e Telmo.

GIL VICENTE (4x3x3): Adriano; Éder, Cláudio, Peks e Luciano Amaral; Luís Manuel, Pio (Bruno Pinheiro, 79m) e André Cunha (Sandro, 85m); Pedro Pereira (César Peixoto, 58m), Yero e Luís Carlos.

Suplentes não utilizados: Lúcio, Paulo Arantes, Rafa Silva e Ramazotti.

GOLOS: Peks (66m), Inzaghi (89m) e Cláudio (118m, g.p.)

Disciplina: Cartão amarelo a Pedro Borges (20m), Éder (33m), Pio (40m) e Califa (117m) e Adriano (120m).