Neste mundo novo de coexistência com a covid-19, vive-se no sábado um marco importante em Portugal: o regresso das competições oficiais aos pavilhões.

A honra cabe ao andebol. Benfica e Belenenses entram em campo na renovada Liga Europeia, para jogar a primeira mão da pré-eliminatória da competição.

Ambas as equipas jogam em casa, as águias diante dos austríacos do HB Fivers e os azuis do Restelo frente aos eslovenos do Trimo Trebnje.

E que forma de voltar! Pedro Lourenço, vice-presidente do Belenenses, só quer que o jogo comece para poder… descomprimir.

«Deu mais trabalho preparar tudo para este jogo, ao longo das últimas duas semanas, do que vão dar os 60 minutos do jogo em si. Quando começar, acho que vamos aproveitar pra descomprimir de todo este stress», começa por dizer ao Maisfutebol.

O trabalho de que fala o dirigente justifica-se com as necessárias medidas de segurança impostas pela pandemia, mas também por «um regulamento específico de 20 páginas» enviado pela Federação Europeia de Andebol (EHF).

«E vai um banho de água fria, e vai um banho de água fria…»

É nesse documento que estão as normas que vão ser impostas para que o regresso do andebol internacional possa, de facto, acontecer.

E nele, além das medidas a que todos já nos habituámos – uso de máscara, desinfeção das mãos, medição da temperatura, questionários para jornalistas, etc e tal – há normas muito pouco habituais.

Desde logo, pelo menos enquanto a bola não rola, o andebol vai ser um jogo com muito menos contacto.

Os habituais cumprimentos antes do jogo são para esquecer. Mais: as equipas vão entrar em campo separadas por um minuto.

Primeiro a equipa de arbitragem. Um minuto. Depois a equipa visitante. Outro minuto. E só depois a equipa da casa. Tudo controlado ao segundo.

Banco de suplentes? Deixa de existir. Cada jogador terá a sua própria cadeira, que será identificada, e que não pode ser utilizada por mais nenhum jogador. Isto significa também que em cada banco haverá sempre sete cadeiras livres.

E ao intervalo, tendo em conta que as equipas no andebol mudam o lado do banco, haverá dança de cadeiras. De um lado para o outro. Em nome da saúde de todos. Ou seja, o tradicional ‘período de descanso’ será agora de trabalho. Muito trabalho, porque há que desinfetar os postes das duas balizas também.

Pedro Lourenço não se ilude: «Vamos cometer alguns erros, acho que é impossível isso não acontecer com todos os clubes que estão a passar por todas estas mudanças».

Uma das mudanças será fácil de contornar: só será mais complicado para os jogadores.

Água fria. Á-gu-a-fri-a. Isso mesmo: a EHF não permite que haja água quente nos balneários por essa Europa fora.

«O regulamento que foi divulgado aconselha as equipas a irem tomar banho aos respetivos hotéis. Em alternativa, podem fazê-lo no pavilhão, mas para evitar a condensação de vapores, que pode contribuir para a propagação de vírus, só pode haver água fria», explica Pedro Lourenço.

Como será nos países que não têm a sua Chiquita para cantarolar o «Vai um balde de água fria»?

«Só durante os 60 minutos é que vai ser igual»

Bruno Moreira, capitão do Belenenses, assume que o jogo deste sábado lhe provoca um misto de sensações.

Se por um lado, significa o regresso à competição mais de cinco meses depois e o primeiro jogo europeu no clube em que se formou; por outro, será feito sem adeptos na bancada e com um protocolo que altera o ambiente de jogo a que todos estão habituados.

«Há muita ansiedade por voltarmos a fazer aquilo de que mais gostamos e todos queremos é que o jogo comece o mais rápido possível. Mas vai ser um jogo histórico para o clube e não terá na bancada os adeptos que tanto ansiavam por este momento e que mereciam vivê-lo», começa por dizer.

Bruno Moreira, que já jogou na Europa por Sporting e Madeira SAD, vai estrear-se na pelo clube em que se formou

Sim, é importante referir que o Belenenses não ia à Europa desde a época 2008-2009. E o regresso é feito num formato que Moreira define como «esquisito».

«Nunca nenhum jogador tinha passado por uma situação assim. Nos treinos, durante muito tempo, não pôde haver contacto. Andebol sem contacto?», questiona.

Mas há mais: «tínhamos de vir equipados de casa – o que deve voltar a acontecer amanhã [sábado] – e depois do treino voltar para casa com a roupa toda transpirada. Tudo vai ser esquisito. Só durante os 60 minutos de jogo é que vai ser igual», antecipa.

E há mais uma pergunta que se impõe: no meio disto tudo, os jogadores sentem segurança para voltar a jogar?

«Claro que existe sempre alguma preocupação, mas todos já fizemos os testes e já sabemos que todos deram negativo. E isso dá alguma segurança, porque também sabemos que o nosso adversário também cumpriu todos os procedimentos», assume.

«Não podemos andar com um medo constante. Sabemos que todas pessoas que entrarem no pavilhão terão tido testes negativos, por isso só vamos pensar em jogar», remata Bruno Moreira.

Que role a bola, então. Ela faz-nos falta a todos.