No ano passado, mais ou menos por esta altura, o Maisfutebol fez uma entrevista a Madjer em jeito de recordação da final da Taça dos Campeões Europeus. Em 1987, o F.C. Porto derrotou o Bayern Munique (2-1) num jogo de sonhor. Dezassete anos depois, os azuis e brancos voltam a estar na final da maior prova da UEFA. Por isso, recuperamos o trabalho jornalístico.
O tempo voa e as imagens continuam intactas até ao resto da vida. Madjer vive na Argélia, onde está momentaneamente afastado do futebol, mas continua a recordar-se do toque de génio que deixou Viena rendida àquela vitória de sonho. Aos 45 anos, uma das grandes figuras de sempre do F.C. Porto, ainda recorda o gesto de calcanhar, o primeiro golpe nas aspirações do Bayern de Munique na final da Taça dos Campeões Europeus, em 1987. O golo do empate (1-1) foi assim conseguido, num misto de valsa e de poesia, minutos antes de uma jogada de mestre para o segundo golo dos dragões (2-1). A Europa rendia-se em tons azuis e brancos.
Na célebre noite do Prater, na Áustria, Madjer passou o Corão pelos colegas, pediu-lhes um beijo no livro sagrado, teve fé em Deus e premeditou a vitória por 2-1. O guarda-redes Mlynarczyk não escondeu o seu medo pelo poderio alemão, mas o sentimento negativo depressa deu origem à euforia da vitória. Estes são pedaços de um jogo em que a reviravolta portista foi o sinal mais emergente de uma equipa no apogeu das suas qualidades. Dezasseis anos depois, o argelino revelou ao Maisfutebol algumas histórias daquele triunfo divino. Bastaram 20 minutos ao telefone para se viajar ao passado, agora que a final da Taça UEFA está tão perto...
Maisfutebol - O golo de calcanhar frente ao Bayern de Munique, na final da Taça dos Campeões Europeus, foi o golo da sua vida?
Madjer - Claro, foi o golo da minha vida. Era a final da Taça dos Campeões Europeus, era a primeira vez que disputava uma final europeia e marquei um golo daqueles, um golo espectacular. Ainda para mais ganhámos o troféu. São recordações que ficam para sempre na minha memória e para o resto da vida. Ainda hoje, tenho muitas lembranças daquele golo.
- Quase 16 anos depois, é capaz de nos explicar porque optou por aquele gesto, naquele momento, para meter a bola na baliza?
- Não sei como posso explicar uma coisa dessas. A jogada é mais ou menos assim: o Frasco meteu a bola, de cabeça, para o Juary que estava no lado direito. Ele centrou para mim e tentei logo o toque de calcanhar. Naquele momento, Deus estava ao meu lado (risos).
- Curiosamente, você está nos dois golos do F.C. Porto. O primeiro é da sua autoria, de calcanhar, mas no segundo faz uma jogada espectacular para o Juary. Acha que essa jogada supera o golo de calcanhar?
- São dois lances muito bonitos. Antes do segundo golo, estava fora do campo com o massagista, porque tinha dores musculares. Quando entrei, o Celso coloca-me a bola, controlei-a e driblei o número dois do Bayern de Munique. Consegui um cruzamento do lado esquerdo para o Juary marcar o segundo golo do F.C. Porto. Foi uma jogada muito bonita, espectacular.
- Nesse desafio com o Bayern de Munique nunca que vos passou pela cabeça que o jogo estava perdido?
- No balneário, antes do jogo, pequei num livro pequenino, no Corão. Sabes o que é o Corão? Peguei nesse livro e perguntei aos meus colegas: vocês querem ganhar o jogo? Disseram-me que sim. Então, têm de dar um beijo neste livro para podermos ser campeões. Na altura, recordo-me que o Mlynarczyk estava com medo. Perguntei-lhe, por que tens medo? Amanhã vamos ganhar por 2-1. Ele pensava que eu estava a brincar. Respondi-lhe que não e repeti de novo: nós vamos ganhar por 2-1! E ganhámos.