«Às vezes, deixo-me entregar à minha intuição e à minha sensibilidade. Há dias em que tenho um discurso e utilizo palavras que empolgam o plantel. Não é nada pensado, apenas me deixo ir». Luís Castro sempre fez do discurso uma das máximas do seu trabalho para obter o melhor rendimento possível dos jogadores. «Ele fala muito, fala da família, toca-nos o coração e ouvi-lo chega a arrepiar», explica Pedro Moita, seu jogador no Estarreja e na Sanjoanense. «Conhece bem cada um de nós. Sabe a quem pode berrar e a quem deve sorrir, porque nem todos os jogadores podem ser estimulados da mesma forma», reconhece Clayton, extremo do Penafiel.
Foi através da observação dos adversários e da motivação dos seus atletas que o actual treinador do Penafiel subiu a pulso porque não cursou futebol na faculdade. Ao serviço do Estarreja, então na terceira divisão, foi a Alvalade para a Taça de Portugal e chegou a ter o jogo empatado com o Sporting. Mas seria eliminado. Ali apercebeu-se da montra que era a alta-roda do futebol. «Antes do jogo apareceu uma página da minha equipa em A Bola, no Record e em O Jogo. No final, fui à sala de Imprensa, só me fizeram uma ou duas perguntas e um repórter de uma rádio disse em directo que o Luís Castro teve o seu minuto de fama».
A frase ficou-lhe entranhada na cabeça como tónico para o episódio seguinte. Subiu o Estarreja e viu que podia ir mais além no futebol. «Sentia progressão, sentia que os meus jogadores estavam a gostar, que motivava a equipa e sentia que estava a cavalgar». Há dois anos chegou à Sanjoanense, da II Divisão B, e o sorteio da Taça de Portugal foi generoso. «Quando nos calhou o Gil Vicente, apercebi-me que tinha de aproveitar aquele momento. Quando vou a um jantar de gala tenho de aproveitar o momento, tenho de ir bem vestido, não posso ir de ganga». Foi o que fez. Estudou bem a mecanização do adversário e explorou os pontos fracos até à exaustão.
Antes do desafio usou alguns trunfos. «Contei aos meus jogadores a doença que tive quando era pequeno. Aquele era um momento alto, era a altura oportuna para o fazer. O treinador deles tinha ultrapassado o problema mais difícil da vida dele. Portanto, eles também podiam ultrapassar o Gil Vicente que não era mais difícil do que uma doença. Tinha a convicção de que íamos ganhar em Barcelos». E eliminou o Gil Vicente, abrindo as portas da Superliga. O nome de Luís Castro ficou na mente de todos, inclusive na mente do presidente do Penafiel, António Oliveira, que o convidou para suceder a Manuel Fernandes à terceira jornada. Esta época repetiu o método. «Falei ao grupo da minha doença antes de jogarmos frente a um grande. Mas perdemos¿»