O Benfica tem dois match points para conquistar o que nunca conseguiu. Chegar ao topo do seu Evereste, que é como quem diz, alcançar um tetracampeonato inédito na história do clube, na liga portuguesa. A primeira tentativa é já neste sábado, frente ao V. Guimarães, na jornada 33 da Liga.

Por várias vezes os encarnados tentaram o quarto título consecutivo, mas em nenhuma delas dispuseram de duas ocasiões para o conseguir.

Uma escalada enorme no currículo da águia, que passou por montanhas bem difíceis nestas quatro temporadas conforme lhe vamos recordar.

É por estar tão alto e sozinho que uma queda do Benfica seria a maior de sempre. Não só do clube da Luz, como de todos os outros que lideraram um campeonato.

Portanto, campeã ou vice, esta equipa de Rui Vitória está destinada à História: falta saber de que lado fica.

Ainda se lembra como tudo isto começou?

Jorge Jesus estava como parece estar agora. Como uma enorme dúvida sobre a continuidade no clube. Depois de uma época que terminou em pesadelo com derrota em todas as competições, o Benfica começou o campeonato de 2013/14 com uma derrota na Madeira.

A pressão para o jogo seguinte, num agosto demasiado quente na Luz, entre a continuidade do técnico e a mesma dúvida sobre Óscar Cardozo, o Gil Vicente vencia em Lisboa por 1-0, aos 90 minutos!

Os encarnados queriam subir até ao mais alto lugar, mas depois de terem perdido o apoio na jornada inaugural, iam em queda livre na segunda. O Benfica agarrou-se à vida com um golo de Markovic e outro de Lima, ambos nos descontos.

A festa do Benfica frente ao Gil Vicente

Se o Benfica for tetracampeão, foi ali que ele nasceu. Dificílimo, claro, até porque esta primeira montanha tinha logo a seguir outro obstáculo: Alvalade. Outra vez a perder, Markovic resgatou um ponto para os encarnados e, mais do que isso, devolveu autoestima à equipa.

Foi necessário esperar até à 11º jornada para chegar, por fim, à liderança. O FC Porto perdera em Coimbra e o Benfica não fraquejou em Vila do Conde: o Rio Ave ainda empatou 1-1, mas o resultado final nos Arcos sorriu 1-3 para a águia.

Nesta longa subida, o clube perdeu a sua figura mais icónica. Eusébio. O King morrera e o Benfica tinha de receber o FC Porto nessa semana, com toda a carga emotiva que o jogo envolvia. Com onze Eusébios a saírem para o relvado, Rodrigo e Garay encarnaram o espírito do Pantera Negra, a Luz homenageou o maior jogador da História do clube com um triunfo por 2-0 e a águia voou para a liderança isolada. Era a primeira vez destes últimos quatro campeonatos.

Provavelmente, o jogo mais emotivo dos últimos quatro campeonatos, na Luz

Ela esteve em risco três jornadas depois, mas a receção ao Sporting terminou com o mesmo resultado (2-0), numa grande noite de Enzo Pérez.

A três jornadas do fim, o Benfica bateu o Olhanense e colocou a primeira bandeirola no chão, a assinalar o primeiro título desta série.

De Lima a Jardel até ao 0-0

O Benfica respirou com o 33º título, depois de três anos a ver o FC Porto celebrar e tentou o bicampeonato em 2014/15. Não sucedia desde 1983/84 e a subida a novo cume foi, obviamente, complicada.

Um das dificuldades foi o Moreirense, em casa. Vencia por 1-0 e o campeão só lhe deu a volta nos últimos 20 minutos (3-1). Na jornada seguinte, no Estoril, outro triunfo suado, por 3-2, com Lima a vir em resgate. O brasileiro foi, aliás, o protagonista do grande momento encarnado: o maior passo para cima deu-o o camisola 11 com dois golos ao FC Porto, no Dragão!

Lima marcou dois golos no Dragão em 2014/15: é a única vitória do Benfica no Dragão neste período

Sempre na frente, o Benfica teve novo pico nessa época em Alvalade. O dérbi podia relançar a candidatura do Sporting e deixar o FC Porto a um jogo de distância das águias. Um golo nos descontos de Jardel afastou o leão e deixou o FC Porto dois patamares abaixo.

Ainda assim, os dragões foram à Luz com três pontos de desvantagem, e o principal 0-0 deste tricampeonato foi um jogo de dois pontos para a águia: o que conquistou e aquele que lhe valia o título no confronto direto, caso houvesse igualdade pontual. Critério desnecessário porque outro nulo, em Guimarães, aliado ao empate do dragão no Restelo valeu o bicampeonato.

Perder, perder, perder e ser campeão

Mesmo depois de se esfregar os olhos ainda não se percebia com clareza. Jorge Jesus no Sporting? Um beliscão acordou os rivais e levou Rui Vitória para a Luz. O início foi mau. Nos resultados, nas exibições e acima de tudo frente ao eterno rival e antigo treinador. O Benfica perdeu dérbis consecutivos para o leão. Parecia não ter forças para chegar a novo nível, mas uma temporada recorde redundou no tricampeonato.

Os momentos de 2015/16 ainda estão bem vivos na memória encarnada. O triunfo por 2-0 em Braga, o golo de Renato Sanches em Guimarães e aquele decisivo de Mitroglou no José Alvalade. O Benfica perdeu os dérbis todos, menos o que mais importava. Esse venceu-o, agarrou-se à escarpa então e nunca mais olhou para baixo.

O dérbi que deixou o Benfica na liderança na época passada

Jonas e o Benfica inteiro gritaram um golo tardio no Bessa, Jimenez celebrou outro um pouco mais cedo em Vila do Conde e nem os Barreiros, tão malditos naquele primeiro jogo de 2013/14, derrotaram uma águia reduzida a dez na penúltima jornada.

Quando Gaitán fez o 1-0 ao Nacional, já o Benfica estava com o tronco e uma perna no cimo da montanha; o argentino, Jonas e Pizzi arrastaram o resto do corpo lá para cima e o Benfica festejou o sexto tricampeonato do seu historial.

15 de maio de 2016: Jonas celebra um golo e o Benfica o tricampeonato

A queda é grande

No entanto, há terra mais acima na montanha do lado, já escalada por Sporting e FC Porto. O Benfica tem duas ocasiões para lançar-se para a outra banda da História.

Se cair no salto, será a maior queda de sempre, pois nunca um líder perdeu o campeonato com esta vantagem a duas jornadas do fim. O que também deixa a esperança do FC Porto no fundo de um precipício.