Antecipando a mudança de paradigma no futebol do Sporting, o Maisfutebol foi perceber que diferenças vão encontrar os jogadores que transitarem para a próxima temporada, sabendo que, em Alvalade, o mês de agosto será intenso, com a decisão da Supertaça, frente ao Benfica, o início da Liga Portuguesa e, ainda, o play-off de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões.
Nesse sentido, falámos com João Paulo, avançado que ajudou o Famalicão a regressar aos campeonatos profissionais e que trabalhou com Jorge Jesus, no Vitória Setúbal em 2000/2001, e Marco Silva no Estoril-Praia em 2012/2013.
A primeira diferença que salta à vista é a discrepância de personalidades: Jorge Jesus é um homem expansivo, que não tem qualquer problema em exteriorizar emoções, enquanto Marco Silva assume uma postura mais ponderada, como se estivesse a gerir racionalmente todos momentos.
«Os dois têm personalidades completamente diferentes. O Marco [Silva] tinha apenas um ano como treinador, é mais calmo, mais próximo dos jogadores e essa postura fazia com que olhássemos para ele como um amigo em quem podíamos confiar. O Jorge [Jesus] é mais extrovertido, não cultiva uma proximidade tão grande, e, por isso, a forma de gestão do grupo é completamente diferente», começou por dizer João Paulo em conversa com o Maisfutebol.
Jorge Jesus sempre foi expansivo no banco de suplentes na tentativa de estar sempre «em jogo»
Os jogadores vão, ainda, sentir diferenças na gestão do jogo a partir do banco de suplentes. Nesse particular, Jorge Jesus é inigualável e as linhas que delimitam a área técnica são um mero pro-forma: o técnico sente necessidade de estar constantemente em ação.
«Acredito que a imagem que ambos transmitem do banco de suplentes sintetiza as diferenças de estilo. São dois treinadores competentes, muito inteligentes, mas no banco o Jesus é muito mais participativo e está constantemente a chamar à atenção se sente que algo não está bem. O Marco Silva é menos exuberante, mas está igualmente atento a todos os pormenores. São formas diferentes de viver o momento que resultam das experiências de ambos» , analisou.
Aviso aos jogadores do Sporting: «O início não é fácil»
Passaram sensivelmente 15 anos desde que João Paulo e Jorge Jesus se cruzaram no Estádio do Bonfim. Desde então, o ecossistema dos treinadores portugueses alterou-se profundamente, sobretudo devido ao efeito José Mourinho, que trouxe para o quotidiano do futebol nacional inovações ao nível da metodologia de treino e da pormenorização na observação adversários.
João Paulo recorda a temporada em que foi orientado por Jorge Jesus e sublinha que o técnico já dedicava grande atenção ao trabalho produzido pelo departamento de scouting.
«Recordo que o Vitória tinha uma grande equipa e que, na altura, já tínhamos informações pormenorizadas sobre os adversários. Ele [Jorge Jesus] conseguia ter muita informação. Sempre foi muito ambicioso e atencioso a esses pormenores do dia-a-dia de trabalho», lembra o jogador que contribuiu com nove golos para a subida de divisão do Vitória Setúbal, naquela que foi uma das temporadas mais produtivas da sua carreira.
João Paulo assinou a sua melhor época em Portugal com a camisola do União de Leiria em 2007/2008
Um dos assuntos que tem sido debatido no espaço mediático desde que Jorge Jesus se mudou para Alvalade prende-se com a forma como rentabilizará a formação agora que chegou a um clube que tem como grande bandeira a Academia de Alcochete.
Ora, João Paulo esteve debaixo da alçada de Jesus no início de carreira e acredita que os ensinamentos que bebeu do «mestre da tática» contribuíram de forma decisiva para a sua evolução enquanto jogador. No entanto deixa um aviso: o início não é nada fácil!
«Sinto-me realmente feliz por ter trabalhado com Jorge Jesus naquela idade, aprendi muito. Em termos táticos ele já era muito exigente. Inicialmente custa para quem não está habituado a uma personalidade tão vincada, mas depois a equipa acaba por responder. Foi muito importante para o desenrolar da minha carreira», vinca.
Elogio ao trabalho de Marco Silva
A troca de treinador em Alvalade fez estremecer o País, de tal forma que fez recordar o célebre verão quente de 1993.
Consumado o divórcio entre Marco Silva e o Sporting, João Paulo considera que o trabalho desenvolvido pelo ex-técnico dos leões merece ser destacado, sobretudo devido às diferenças que ainda separam os crónicos candidatos à luta pelo título.
«O Marco fez uma excelente temporada no Sporting com a conquista da Taça de Portugal. Não se pode esquecer isso, principalmente quando havia uma diferença tão clara para os rivais. Potenciou vários jogadores e isso foi muito positivo. Acredito que com a qualidade que demonstrou voltará a ter uma oportunidade num clube de grandes dimensões» sublinhou.
Relativamente ao que poderá mudar na forma de jogar do Sporting, o avançado do Famalicão mostra-se renitente em fazer futurologia e recorre às transformações no futebol do Benfica para explicar porquê.
«Vi uma evolução no futebol do Benfica ao longo dos anos. No primeiro ano o Benfica tinha uma superequipa, muito intensa, que dava muito espetáculo e que contribuiu para que muito público voltasse ao Estádio da Luz. Nestes últimos anos já não era assim, já não abafava os adversários, tornou-se mais pragmática. Por isso não vale a pena lançar expectativas», rematou.
RELACIONADOS
Sporting lança campanha para Jorge Jesus: «Bem-vindo a casa»
Sporting: José Luís pode juntar-se a Jesus e assumir cargo de diretor desportivo
Efeito Jesus na Bolsa: Sporting a subir, Benfica em queda
Jorge Jesus a caminho do Sporting: o que falta resolver
«Bem-vindo Jorge Jesus ao Sporting»