A FIGURA:
Otávio

Veste smoking na arena em que combate. É um gladiador de técnica refinada, se preferirem esta imagem. Técnica e garra em doses bem divididas, um pitbull de lacinho ao pescoço. Rodeado de apatia e previsibilidade, Otávio agita, provoca, reage e procura contagiar. Poucos espaços, muita agressividade no adversário, demasiada bola pelo ar? O menino brasileiro não se conforma, não aceita, procura levar o jogo para onde se sente mais confortável: à flor da relva e junto á área contrária. Arrancada soberba aos 28 minutos, a não pedir licença e a driblar uma floresta de pernas tondelenses, até ser parado em falta. Na esquerda ou mais pelo centro, um elemento indispensável no FC Porto de NES.

O MOMENTO: minutos 72 e 90, Casillas e Cláudio Ramos decisivos
Jhon Murillo ganha em velocidade a Boly, isola-se e remata já bem dentro da área. Iker Casillas dá uns passos em frente e faz uma defesa milagrosa. A melhor oportunidade de golo em todo o jogo. Já no período de descontos, Adrián López também apareceu na cara de Cláudio Ramos mas, mais apertado, atirou contra o guarda-redes.

NEGATIVO:
André Silva e Depoitre

Primeiro, o português: elogios não lhe têm faltado, hoje é o dia de colocar os pés na relva e ler isto: fez o seu pior jogo na equipa A do FC Porto. Lento a decidir e a executar, precipitado a decidir, mesmo quando teve espaço (sozinho sobre a esquerda aos 20 minutos). Lutou, tentou, sim senhor, mas quase nada lhe saiu bem do ponto de vista técnico. Na cara de Cláudio Ramos, aos 82 minutos, atirou para a defesa de Cláudio Ramos e imediatamente a seguir atirou às malhas laterais. Assim não.

Agora, o belga: não é possível cabecear por cima da barra aquele lance aos 61 minutos. Não de ponta de lança de clube grande. Sozinho, bem colocado, incapaz de direcionar a bola. Tão mal a jogar de primeira, tão mal na receção. Corpulento, lutador e só. Tempos houve em que para ser jogador do FC Porto o critério de seleção era muito mais apertado. Pode ser desadaptação, pode ser que o tempo envergonhe estas palavras.   

OUTROS DESTAQUES

Iker Casillas

Tudo o que fez, o guarda-redes espanhol fez bem. Até nos cruzamentos. Absolutamente decisivo ao defender aos 72 minutos o remate de Jhon Murillo. Provavelmente o melhor do FC Porto, lado a lado com Otávio.

Yacine Brahimi
Primeira aparição na Liga 2016/17. Mais vezes sobre a direita, mas em busca permanente de zonas interiores. Comprometido, sim senhor, conforme afirmara na passada quarta-feira. O problema não foi esse. Muito marcado e a jogar quase sempre de costas, o argelino fez o possível e criou situações interessantes. O problema – agora sim – é que as linhas de acesso aos dois pontas de lança estavam bloqueadas e nem o driblador magrebino contorna rotundas consecutivas. Excelente aos 32 minutos, a rasgar um muro amarelo e verde antes de entregar a André Silva. Substituído aos 56 minutos, aparentemente sem fôlego para mais.

Willy Boly
Nota mais na estreia absoluta de dragão ao peito. A jogar simples, avesso ao risco, consciente das próprias limitações. Acertado no bloqueio a Crislan, sempre sereno. Faltou-lhe outra agressividade nas bolas paradas ofensivas e outra abordagem no lance em que Jhon Murillo se isola e obriga Casillas a brilhar. Para primeiro jogo, nada mau.

Claude Gonçalves
Rotações excitadas, dinâmica permanente. O primeiro remate perigoso do jogo sai de um pé direito capaz de adestrar a bola com ternura. Natural da Córsega, filho de portugueses, pode ser de facto relevante neste Tondela. O melhor e o mais esclarecido dos três médios escolhidos por Petit.

Mamadu Candé
O Tondela tem um belo lateral esquerdo, corajoso e de habilidoso. Defendeu com critério, beneficiando da predisposição de Brahimi procurar outras bandas, e atacou sem qualquer receio. Cruza bem, bate livres com boa técnica, um menino de 25 anos (ex-Portimonense) para seguir.

Rúben Neves
Num ritmo entre o médio e o baixo, o homem mais recuado do meio-campo azul e branco rodou o jogo com qualidade, arriscando menos no passe largo e apostando num jogo mais apoiado. Lúcido até ao fim. O passe a abrir em Alex Telles, aos 76 minutos, é brilhante.

Adrián López
Passe em habilidade para o cabeceamento torto de André Silva e, surpresa das surpresas, muita garra e vontade. Se continuar assim pode vir a ser útil. Boa entrada em jogo.

Cláudio Ramos
Impecável do princípio ao fim. Defesa extraordinária na cara de André Silva, a oito minutos do fim.