O Vitória está algures entre o A e o D no ADN que Ivo Vieira está a lecionar. O curso é intensivo, até urgente, mas o ritmo de aprendizagem nem sempre acompanha o da necessidade. Há evolução, há ideias, há traços fortes, mas o primeiro teste só merece nota razoável. Os minhotos cumpriram a obrigação de vencer no Luxemburgo, com um golo de Joseph Amoah no último minuto dos descontos. 

Posto isto, é justo também assinalar que só o mesmo Vitória podia ter vencido nesta primeira-mão da segunda pré-eliminatória da Liga Europa. Os minhotos encontraram um Sommer inspiradíssimo na baliza do Jeunesse, tiveram azar num cabeceamento de Pedrão ao poste e dispuseram de mais uma mão cheia de pontapés que pareciam condenado ao golo. 

FICHA DE JOGO E AO MINUTO DO JEUNESSE-VITÓRIA: 0-1

Teve de ser Joseph Amoah, um dos apontamentos que sobrou do bloco de notas de Luís Castro, a fazer o 0-1. Passe longo de Pedrão, amortecimento perfeito de Davidson com o peito e pontapé de primeira do médio. O Vitória esperou mais de 90 minutos para fazer o que todos sabiam que ia acontecer, um argumento aborrecido de tão previsível.  

O professor Ivo sabe o que quer ver na sala de aula, é exigente e impõe o bom trato da bola, além do respeito pelos direitos fundamentais do espetador. O Vitória vai ser um decalque do Moreirense 18/19, uma equipa disposta ao risco e atrás da recompensa do golo. 

Para este ciclo de revolução ideológica, apesar de alguns pontos em comum com o tratado de Luís Castro, Ivo Vieira exige defesas centrais hábeis com a bola nos pés e um guarda-redes que saiba ser o motor de arranque da posse de bola. 

Assim se explicam as apostas em Tapsoba (central ex-equipa B) e em Miguel Silva, um nome que parte à frente de Douglas. No primeiro onze oficial da época, curiosamente, as novidades até foram dois homens promovidos da equipa B (Tapsoba e Ali Musrati) e um lateral resgatado de empréstimo ao Famalicão (Victor Garcia). 

Durante a segunda parte, Ivo ainda lançou Pepê, João Correia e Mikel Agu, acabando por ser recompensado quando já se adivinhava o toque para fora. Mas a aula não podia acabar sem o justificadíssimo golo de Joseph. 

O resto, enfim, explica-se com simplicidade. Domínio, posse de bola, oportunidades em catadupa e algum abuso nos cruzamentos feitos longe da linha de fundo pelo Vitória, com o Jeunesse de longe a longe a tentar capitalizar uma ou outra desatenção dos minhotos. 

Ameaças estéreis, tal a distância qualitativa das equipas, uma distância que vai da Terra à Lua.  

É o primeiro jogo da época, é apenas um primeiro passo. Um pequeno passo para a equipa de futebol vitoriana, mas talvez um passo gigante no processo de ensino de Ivo Vieira.