No dia em que viu terminar um ciclo de invencibilidade que durava há dois meses e 15 jogos oficiais, o Sp. Braga ficou a saber o que o espera para poder estar entre as oito melhores equipas da Liga Europa: repetir a história. Na verdade, até agora, no percurso europeu dos minhotos, uma derrota tangencial fora de casa, na primeira mão, foi sempre anulada em Braga, no segundo jogo. Aconteceu assim com os holandeses do Vitesse, em 1997/98 (1-2 e 2-0), com os suecos do Hammarby, em 2007/08 (1-2 e 4-0), e em 2010/11 com os polacos do Lech Poznan (0-1 e 2-0) e com o Benfica (1-2 e 1-0). Haverá quatro sem cinco?

Este foi também o dia em que Vítor Pereira reencontrou Paulo Fonseca, o seu sucessor no comando do FC Porto – e manteve o registo cem por cento vitorioso, ao fim de três confrontos diretos. Os anteriores datavam de 2012/13, e saldaram-se em triunfos portistas diante do Paços – o segundo dos quais confirmaria a conquista do bicampeonato.

O jogo mais português destes oitavos de final – além dos dois técnicos, também estiveram em campo nove jogadores lusos, seis do Sp. Braga e três do Fenerbahçe – serviu para confirmar a lei dos visitados.

Resultados da primeira mão

Sevilha e Lazio, exceções à regra dos visitados

Dos oito jogos cumpridos, só dois não deram vantagem clara à equipa que jogou perante o seu público. Um deles, envolveu o bicampeão em título, o Sevilha, com o português Daniel Carriço a entrar nos descontos para, ao fim de 90 minutos cinzentos ajudar a segurar um nulo pragmático, mas muito promissor, diante de um desfalcado Basileia, que viu ficar mais distante o sonho de disputar a final no seu estádio, a 18 de maio.

Melhor ainda conseguiu a Lazio, única equipa que pode jogar para o 0-0 na segunda mão perante os seus adeptos: em Praga, depois de um grande golo de Frydek, a recarga vitoriosa de Parolo, após um canto, deu aos italianos o tão cobiçado golo fora, com o ex-sportinguista Maurício a entrar nos minutos finais, para ajudar a segurar o empate (1-1).

Dortmund: o maior favorito?

Se foi da Lazio o resultado mais animador para um visitante, no pólo oposto o destaque vai para o autêntico corretivo aplicado pelo Borussia Dortmund ao Tottenham (3-0). É verdade que a equipa londrina se apresentou sem alguns titulares de início – Premier League oblige - mas depois da dupla vitória diante do FC Porto, esta nova demonstração de força de Aubameyang, Reus e companhia faz dos homens de Thomas Tuchel, muito provavelmente, os mais fortes candidatos à conquista da Liga Europa.

Menos sorte teve o outro carrasco alemão de uma equipa portuguesa: depois de eliminar o Sporting, o Bayer Leverkusen foi vítima do bom futebol do submarino amarelo e, principalmente, da pontaria afinada de Cédric Bakambu. Aos 24 anos, o avançado franco-congolês está a viver uma época de estreia brilhante nas provas europeias e, com o bis desta noite, tornou-se numa das figuras incontornáveis da jornada.

Mas o jogo ficou também marcado por um incidente desagradável envolvendo o internacional alemão Christoph Kramer, que tombou inconsciente depois de ter levado uma violenta bolada na cara. Para mal dos seus pecados, Kramer, que saiu de maca com um colar cervical, já tinha protagonizado um incidente semelhante na final do Campeonato do Mundo de 2014, depois de um aparatoso choque com o argentino Garay.

Liverpool por cima no duelo inglês

Além do B. Dortmund-Tottenham o outro embate de maior cartaz nesta ronda estava, obviamente, marcado para Anfield, onde as duas equipas com mais títulos no futebol inglês Liverpool e Manchester United - se defrontavam pela 195ª vez. O desfecho de 2-0 para os visitados acaba por ser lisonjeiro para a equipa de Van Gaal, que fica a dever a De Gea o facto de ainda ir para a segunda mão com uma ténue esperança de reviravolta. E assinala a primeira vitóra de Jürgen Klopp sobre o técnico holandês, equilibrando um saldo que, até aqui, estava 3-0 a favor de Van Gaal.

Klopp – que não contou com o português João Carlos Teixeira – viveu a primeira noite europeia verdadeiramente mágica em Anfield (comparado com o ambiente desta noite, até agora tinha sido apenas aquecimento). E, caso confirme a passagem em Old Trafford, pode bem posicionar-se junto à sua antiga equipa, o Dortmund, no rol de principais favoritos a erguer o troféu na final de Basileia.

Valencia- salvar a época ficou mais complicado

Sem portugueses no onze inicial – André Gomes entrou na segunda parte, Ruben Vezo e João Cancelo não saíram do banco – o Valencia complicou as esperanças de salvar a temporada com um sucesso europeu, ao sair derrotado em Bilbau, num relvado em forma de pântano. Um golo de Raúl Garcia – que por sinal já ergueu o troféu com as cores do At. Madrid - foi quanto bastou para inclinar a eliminatória para os bascos e obrigar os homens de Gary Neville a uma reviravolta épica no Mestalla, dentro de uma semana.

Por fim, uma referência para o Anderlecht, que na ronda anterior foi carrasco do Olympiakos, de Marco Silva. Na visita à Ucrânia, num jogo apitado por Artur Soares Dias, os belgas estiveram em risco de deixar fugir de vez a eliminatória (perdiam por 2-0 aos 24 minutos) mas conseguiram reentrar na discussão com o golo de Achaempong a dar-lhes uma ligeríssima esperança de recuperação em Bruxelas. Mas o 3-1 faz do Shakhtar um claro favorito à passagem aos quartos – e, quem sabe, enquanto Dortmund e Liverpool dominam justamente as atenções um outsider de respeito na corrida à final.