Quando a fome aperta, por vezes nem há cabeça para mais.

O Atlético Madrid recebeu o eterno rival no Vicente Calderón absolutamente esfomeado, de golos, de vitórias, de glória.

Recuperar de um 3-0 era tarefa praticamente impossível e esse fantasma pairou sobre a capital espanhola durante uma semana, retirando algum do entusiasmo que se sentira antes da primeira mão.

A jogar em casa, perante os seus adeptos, o Atlético entrou em campo disposto a matar todos esses fantasmas, a fazê-los desaparecer o mais rápido possível, para depois então sonhar com mais uma final e, desta vez, ganhá-la.

Com uma frente de ataque bastante móvel, o Atlético procurou surpreender desde o início e consegui-o. Aos 15 minutos o marcador já registava um inacreditável 2-0 a favor da equipa da casa.

Saul Niguez teve cabeça para fazer o primeiro e Griezmann a frieza para cobrar o penálti que resultou no segundo. Uma entrada fulgurante que nem permitiu a Cristiano Ronaldo e companhia esboçarem uma qualquer reação.

Mas como isso foi enganador. Ah, como enganou!

É que Liga dos Campeões e Real Madrid parecem formar um par perfeito. Está-lhes no sangue, comanda corpo e mente. E há por lá uns rapazes que também jogam muito à bola.

Isco deitou água na fervura do Calderón

A partir da meia hora de jogo, sensivelmente, foi o Real que decidiu assumir as rédeas do encontro. Afinal de contas, os dois golos do adversário deixaram a eliminatória perigosamente em aberto.

Sem criar verdadeiro perigo, mas sempre com a bola em sua posse, os merengues foram gerindo o ritmo da partida, ao mesmo tempo que aguardavam pelo momento certo de dar uma estucada no rival.

Depois de tanto procurarem, surgiu por fim a oportunidade desejada já em cima do intervalo. Benzema aproveita um erro inacreditável de três (sim, leu bem, três) defesas do Atlético, foi pela área adentro e serviu Kroos para o remate. Oblak ainda travou a tentativa do alemão, mas foi incapaz de impedir a recarga de Isco.

Um golo cheio de matreirice, cheio de experiência, que é no fundo aquilo que o Real tem em doses consideráveis, contrastando com o que se verificou do outro lado.

Simeone pediu cabeça à equipa mas viu-a sofrer um golo disparatado, que colocou a eliminatória praticamente a zeros.

FILME DO JOGO

O segundo tempo jogou-se, portanto, mais com o coração do que com a cabeça. O orgulho ferido sobrepôs-se ao raciocínio e isso teve repercussões na qualidade do jogo jogado.

Os colchoneros queriam chegar ao golo, mas faltava sempre alguma coisa, ao passo que os merengues estavam interessados em manter as coisas sobre controlo.

Foi só na última meia hora que as oportunidades começaram a surgir, e para os dois lados. No tudo por tudo, o Atlético foi quase sempre mais perigoso. Navas foi gigante e fez um par de defesas fulcrais.

Do outro lado, o Real procurou aproveitar os espaços deixados por um rival muito subido no terreno.

Os colchoneros estiveram sempre mais perto do terceiro do que o Real do segundo, mas a verdade é que o resultado se manteve inalterado até ao final.

O Real Madrid voltou a fazer uso da sua qualidade mas, acima de tudo, da sua experiência, o que lhes permite sonhar com o 12.º caneco do palmarés.

O Atlético caiu de novo aos pés daquele que tem sido o grande carrasco nos últimos anos. Os dois golos madrugadores deixaram antever uma surpresa das grandes, mas um erro gigante da defensiva deitou tudo a perder.

Contra uma equipa experiente, os colchoneros cometeram erros inadmissíveis e pagaram caro por isso. A despedida europeia do Vicente Calderón (vai ser demolido) podia ter sido de sonho, mas acabou sem glória, apesar da enorme festa nas bancadas.

O Real Madrid marca encontro com a Juventus em Cardiff, naquela que será a terceira final em quatro anos dos merengues e também a quinta na carreira de Cristiano Ronaldo. É também a reedição da final de 1997/98, em que o Real venceu por 1-0, com golo de Mijatovic.

O rei em Madrid quer voltar a ser rei na Europa do futebol. Pasito a pasito, eles lá estão novamente.