Leonardo Jardim deixa o Sporting a meio caminho. Não é caso único no passado do treinador madeirense, ainda que as razões para a saída de Alvalade possam ser bem distintas de outras: desta vez, o projeto do Mónaco terá sido demasiado aliciante. 

O currículo do técnico está cheia de saídas precoces, aliás. Umas por ideia do próprio Jardim, outras por vontade alheia. Algumas inexplicáveis até, conforme assumiu o madeirense e que o levaram a atirar no dia da apresentação em Alvalade: «Nenhum dos clubes conseguiu melhores resultados depois de eu sair de lá. Isso deixa-me satisfeito com o meu trabalho.» 

Sportinguista assumido, desejará que a história com Marco Silva seja agora diferente.

O Sporting vivera dias atribulados. Desde tudo o que levou às eleições das quais Bruno de Carvalho saiu presidente, passando pela pior classificação de sempre do clube leonino na Liga até à decisão final de que Jesualdo Ferreira não ficaria como treinador. 

A estrutura de Alvalade escolheu Leonardo Jardim para suceder ao professor. Num clube que tinha tido quatro técnicos na época precedente, poderia ser um risco apostar em alguém que tinha terminado de forma precoce as últimas três ligações a clubes. 

Jardim esteve exatamente 365 dias em Alvalade



A campanha do Sporting em 2013/14 afastou aquela ideia. Mas não deixa de ser curioso que a história se repita, ainda que por razões diferentes. O último clube a contar com duas temporadas completas de Leonardo Jardim foi o Camacha. Um emblema que o técnico evocou na despedida do José Alvalade, nesta terça-feira, e que foi o primeiro em que esteve como técnico principal.

«Já passei por vários clubes e várias etapas. Se não fosse a Desportiva da Camacha, não chegava a Chaves e assim sucessivamente. Por o Sporting ser o meu clube, o último trabalho desenvolvido, com certeza que é uma etapa decisiva na minha carreira.»

AS HISTÓRIAS DO PERCURSO DE JARDIM DESDE A MADEIRA

Ainda assim, também a ligação com a Desportiva terminou antes do tempo. Jardim queria ir para Chaves, onde tinha à espera um projeto de subida à Honra. Foi o que aconteceu. 

O clube transmontano conseguiu alcançar a II Liga, mas o técnico madeirense anunciou que ia embora no final da temporada. Luís Mário Carneiro tinha sido eleito presidente há pouco tempo e reagiu, aqui citado pelo Record: «Já li e fiquei surpreendido. Não faço comentários, pois o clube está numa fase importante.»

Talvez seja a maior acusação de que Jardim é alvo em todos estes anos. O próprio técnico admitiu ao Maisfutebol que esteve com um pé no Gil Vicente, mas depois seguiu para Aveiro. António Fiúza não lhe perdoou: «Havia um compromisso verbal com Leonardo Jardim, mas ele faltou à palavra.» Rui Quinta foi para Barcelos, Jardim para o Beira Mar, clube que subiu à I Liga.

Em Chaves, o treinador madeirense, nascido na Venezuela, já tinha sido claro para os jogadores: em cinco anos tinha de chegar ao primeiro escalão. De novo, teve sucesso. E de novo, saiu de forma inesperada.

A ENTREVISTA AO MAISFUTEBOL EM ABRIL DE 2013

Com o Beira Mar instalado num confortável 10º lugar na Liga, Jardim bateu com a porta e pediu a demissão. A situação financeira do clube era complicada e terá estado na base da decisão. Mas também é verdade que nessa altura já circulavam rumores do interesse do Sp. Braga. Ainda assim, em Aveiro, como em Alvalade, Jardim saiu porque quis.

Do clube minhoto e do Olympiakos já não foi assim. Em entrevista ao Maisfutebol, antes de assinar pelo Sporting, o técnico passou por essas saídas abruptas em três respostas.





«Só volto a Portugal para um dos três grandes», dizia Leonardo Jardim em abril do ano passado ao nosso jornal. Naquele tempo, é bom recordar, o técnico era visto como opção para o FC Porto. O resto da história é conhecida. O Sporting despediu-se de Jesualdo Ferreira e a 20 de maio de 2013 Jardim foi apresentado.

O leão voltou à Champions pela mão do madeirense, numa época bem mais compatível com a grandeza do clube verde e branco. O presidente Bruno de Carvalho apontou ao título na próxima temporada, enquanto Jardim, perante tal declaração, afirmou que o Sporting terá de criar condições para tal.

Porém, já não será com o madeirense ao leme. Mais uma vez, Jardim encurtou estadia, ficou-se a meio caminho no Sporting e partiu, muito provavelmente rumo ao Mónaco. Volta a não terminar um contrato, mas, desta vez, ninguém pode dizer que não estava à espera. Pelo que se disse nas últimas semanas e porque a carreira de Jardim tem sido feita destes atalhos. 

O técnico madeirense ao serviço do Sp. Braga


O madeirense saiu passados 365 dias exatos de ter chegado ao José Alvalade. Disse adeus lado a lado com o presidente do clube que deixa.  Quase uma novidade, não tivesse acontecido o mesmo em Aveiro, onde deu uma conferência de imprensa ao lado do presidente António Regala que admitiu não ter conseguido demover Jardim. Depois de tomar a decisão, o madeirense não olhou para trás.

Bruno de Carvalho anunciou que existe um «valor no caso de regresso a Portugal nos próximos quatro anos, que obrigará ao pagamento de um remanescente entre o recebido [entre três e seis milhões] e 15 milhões» da cláusula. 

Portanto, olhar para trás é algo que Jardim não deverá fazer nos próximos anos.  A não ser, claro, que a carreira se coloque noutro atalho e a vida mude como mudou em 365 dias.