Mal terminou o jogo bateu forte no chão. Ajoelhou-se, fechou o punho direito e massacrou o relvado. Pela cabeça, ter-lhe-ão passado todas as manchetes, todas as críticas, todos os erros, todos os dias de infelicidade. O desporto dá sempre segundas oportunidades e Roberto aproveitou a dele frente ao Benfica.

Roberto deu na Luz, Roberto tirou na Grécia. O homem que valeu mais de oito milhões por duas vezes justificou preços nesta noite, no Pireu. Roberto defendeu tudo o que o Benfica lhe atirou. Fosse de longe, fosse na área, pelo chão, pelo ar. O melhor Benfica da época esbarrou num portero que só longe da Luz parece ser feliz. O relvado não merecia, mas havia que despejar tudo aquilo que o roía por dentro. Os encarnados ficam numa situação extremamente difícil na Liga dos Campeões. O 1-0 da Grécia é quase uma sentença de morte. Mas nem tudo foi mau. Finalmente, o Benfica jogou à bola.

Jorge Jesus testou no campeonato aquilo que idealizou para o Pireu. Um meio-campo com Matic, Enzo Pérez e Ruben Amorim. Com Académica e Nacional, a tarefa era meter os jogos «no congelador». Na Grécia serviu para roubar a bola ao Olympiakos, ditar tempos, comandar e dominar os eventos. Sobretudo por causa do português. Enorme em campo. Amorim tinha a camisola 6 nas costas, mas comportou-se como um número 10 moderno. Roubou bolas, abriu espaços, meteu os colegas na cara do golo. O melhor Benfica passou por ele. O pior passou por mais um canto. Mais uma bola parada mal defendida. A Champions hipotecada do mesmo modo que a Liga Europa fugiu num maio assim não tão distante, na Holanda.

Em dez minutos, o Benfica foi intenso e vibrante como ainda não fora esta época. Trocou a bola com fluidez, recuperou muito bem quando a perdia. E surgiu duas vezes com hipóteses gigantescas para marcar. Roberto redimiu-se do erro da Luz e salvou o Olympiakos em duas ocasiões quando havia 0-0. Primeiro num remate de Cardozo, na área, depois ao fazer a mancha junto a Markovic. A noite ia ser dele.

O Olympiakos apareceu aos 11 minutos, num remate fraco de Mitroglou. Um tremendo jogo de Luisão e Garay engoliu o avançado grego. Aquilo que mostrara na Luz não se viu nunca na Grécia. Maxi Pereira estava em campo. Uma novidade da Champions, pois o uruguaio costuma dar o lugar a André Almeida. Um corte do lateral, na primeira subida de Holebas redundou na jogada decisiva do jogo. Canto na esquerda do ataque grego, bola na área e o Benfica a ver Manolas a saltar. O lance é incrível. A defesa à zona encarnada está posicionada, mas a cobertura da entrada da área fica parada. Manolas voou para o golo, sozinho.

O golo aconteceu ao minuto 13. Foi preciso esperar até aos 30 para ver o ataque do Olympiakos de novo, apesar de Saviola ter corrido muito para levar a equipa para a frente. Pelo meio, Benfica. Muito Benfica mesmo, ainda que ligeiramente abalado pelo golo e sem ser repetido nas ações na área de Roberto. Um lance de Luisão de cabeça e uma falta de discernimento de Matic, na área, a jogar de calcanhar quando estava sozinho deram sequência àquelas duas ocasiões de Cardozo e Markovic nos primeiro minutos. Ao intervalo, havia um Benfica a jogar futebol como nunca tinha feito até agora. Jesus tinha pedido tempo, ganhou-o na Liga e mostrou argumentos na Champions.

Mas perdia. Por isso, era preciso ser ainda mais intenso, mais rápido, mais lúcido na segunda parte. O Benfica foi tudo isso. Roberto foi ainda melhor. Veja-se a sequência: Markovic (47 min), Sílvio (55min), Enzo (59min). Não havia dúvidas de qual era a baliza para a qual se jogava, não havia dúvidas quanto à figura da partida. Roberto defendeu aqueles remates de forma espantosa. E ainda fez mais.

Entretanto, o Benfica perdeu Cardozo. O Tacuara estava em grande forma e ainda só tinha testado o guarda-redes uma vez. Foi Cardozo quem bateu Roberto na Luz, é Cardozo quem tem vindo a salvar a equipa em alturas de aperto. Mas saiu. Lesionado. Fica em dúvida para o dérbi com o Sporting, no sábado. As contas eram de Champions, porém. Jesus tirou um esgotado Markovic e lançou Djuricic. Mais um sérvio a testar Roberto. Primeiro, numa grande jogada e num remate que ia ao ângulo, depois com uma bola na área que o espanhol desviou com a canela.

O Olympiakos só apareceu numa correria louca de Salino (grande jogo!), que Maxi travou já na área, quando todo o Benfica tentava bater Roberto. Mas o espanhol da baliza foi imenso, muito maior que o resto de uma equipa que nunca se conseguiu soltar da estratégia portuguesa. 

Foi o espanhol que agarrou o 1-0 como pôde. As luvas dele foram seguras como nunca. Para os da Luz, Roberto voltou a ser um pesadelo. Mas desta vez, o espanhol estava do outro lado. 

Pagou o relvado, pagou o Benfica, ainda que a exibição do Pireu abra uma ponta de esperança para o dérbi e para o que vem aí seguir no resto do calendário. O problema é que a Champions, vista pela lógica, já só se vislumbra lá muito ao longe.