A 1000ª vitória do Bayern na Bundesliga foi um marco assinalado com cerveja grátis para os adeptos, ação de marketing destinada a celebrar o domínio esmagador dos bávaros nos 52 anos de existência do campeonato alemão. Exemplo prático: o rival mais próximo, o Werder Bremen, ainda não chegou aos 750 triunfos.



Nem sempre foi assim porém: a entrada do Bayern neste grupo de elite coincide com a fase mais aguda do seu domínio. No início da Bundesliga o Bayern não era sequer o maior clube da cidade, atrás do TSV Munique 1860. Simplesmente, de década para década, começou a tornar a Bundesliga o seu território, superando primeiro a concorrência do Borussia Moenchengladbach, depois do Hamburgo e Werder Bremen e, mais tarde, do Dortmund.

Outra constatação: o Bayern, primeiro representante alemão a quebrar a barreira dos 1000, chega tarde ao clube de elite, mas isso deve-se a uma razão forte. O campeonato alemão unificado, tal como o conhecemos agora, foi dos mais tardios a arrancar na Europa, começando apenas em 1963 – até aí funcionava em regime de Ligas regionais com play-off.

Mas, afinal, até por comparação com outros colossos europeus, o que pesam 1000 vitórias domésticas no currículo de um grande? Foi o que procuramos perceber, olhando em redor para os principais campeonatos da Europa.

Não alargando demasiado o filtro a campeonatos de terceira linha, a primeira evidência é a de que, mesmo variando com a data de criação e estabilização dos respetivos campeonatos nacionais, há pelo menos cinco dezenas de clubes reconhecidos na Europa que já superaram essa barreira. Entre eles, há já uns bons anos, os três grandes de Portugal: Benfica (1537), FC Porto (1498) e Sporting (1394) há muito que passaram a barreira das mil vitórias sendo o Belenenses (850) o perseguidor mais próximo.

Como sintoma do crónico desequilíbrio de forças em Portugal, o aproveitamento dos três grandes supera os 60%, com 68 para o Benfica, 66 para o FC Porto e 61 para Sporting. A título de comparação, em nenhuma das cinco principais Ligas europeias há este desnível histórico – tal só acontece se baixarmos o patamar de exigência para provas como a grega (Olympiakos grande dominador, acima dos 75%), a holandesa (Ajax, bem acima dos 60%) ou a escocesa (Celtic e Rangers, também acima desse valor).

Por contraste, o campeonato inglês, que começou em 1889, é o que tem maior contingente, com nada menos de 13 clubes acima das 1000 vitórias. De entre eles, ninguém ganhou mais jogos do que o Liverpool (1850), mas é o Manchester United quem tem maior eficácia (48% de jogos ganhos). E esse é o maior sintoma da tradicional competitividade da Liga inglesa: nenhuma equipa ganhou mais de metade dos respetivos jogos.

Os grandes cada vez mais grandes, lá como cá

O Bayern precisou de 1714 jogos para atingir as 1000 vitórias, um aproveitamento global de 58%, que deixa a perder de vista os outros clubes alemães. Mas, atenção, esse valor médio em 52 anos está longe dos níveis registados na era Guardiola: com 64 vitórias em 78 jornadas, uns impressionantes 82% de rendimento, o catalão tem, desde 2013, o melhor registo de sempre de um treinador ao serviço do clube bávaro.
 


A tendência, alias, estende-se aos outros grandes campeonatos da Europa. Em Espanha, por exemplo, o Real Madrid é a equipa com mais vitórias (1596) e maior percentagem (59%). No entanto, se nos centrarmos apenas nas últimas cinco épocas, a percentagem dos merengues é de 75%, e ainda perde para a do Barcelona (77% nos últimos cinco anos, 57% em todos os tempos). Em Inglaterra, o fenómeno também está bem presente: é preciso recuar à temporada 1990/91 para vermos o Manchester United com menos de 50% de vitórias num campeonato, e essa eficácia atingiu mesmo os 75% nos melhores anos da era Ferguson.



Esse acentuar do fosso, que também se aplica aos orçamentos, explica em grande parte a sensação de, na última década, termos uma Liga dos Campeões em circuito fechado, com estreitíssima margem de entrada para novos candidatos. E, claro, a tendência é replicada também em Portugal – onde Benfica e FC Porto têm estado sistematicamente acima dos 70% de rendimento nos últimos anos, bem acima dos seus valores históricos. Dito de outra forma, em Portugal ou no estrangeiro, por muito que haja tradição de equilíbrio, a balança tem vindo a inclinar-se de forma mais acentuada a favor dos grandes.

Eis a lista das principais equipas europeias acima das 1000 vitórias indicando-se, entre parêntesis, a respetiva percentagem sobre o total se jogos.

PORTUGAL
Benfica 1537 (68%)
FC Porto 1498 (66%)
Sporting 1393 (61%)

ALEMANHA
Bayern 1000 (58%)

INGLATERRA
Liverpool 1850 (46%)
Arsenal 1810 (45%)
Everton 1784 (41%)
Manchester United 1735 (48%)
Aston Villa 1641 (41%)
Chelsea 1305 (41%)
Tottenham 1322 (41%)
Manchester City 1353 (39%)
Newcastle 1305 (39%)
Sunderland 1245 (38%)
Blackburn 1017 (37%)
WBA 1076 (36%)
Bolton 1017 (36%)

ESPANHA
Real Madrid 1596 (59%)
Barcelona 1531 (57%)
At. Madrid 1195 (47%)
Valencia 1166 (45%)
Ath. Bilbao 1174 (43%)

FRANÇA
Marselha 1032 (44%)
* O Bordéus, com 997, deverá tornar-se a segunda equipa francesa a atingir essa marca ainda na época em curso.

ITÁLIA
Juventus 1469 (54%)
Inter 1370 (49%)
Milan 1310 (48%)
Roma 1125 (41%)
Fiorentina 1026 (40%)

TURQUIA
Fenerbahce 1064 (57%)
Galatasaray 1051 (56%)

HOLANDA
Ajax 1322 (66%)
PSV 1204 (60%)
Feyenoord 1131 (56%)

Além destas equipas, também Rapid e Austria Viena (Áustria), Grasshopper, Servette, Young Boys, Basileia, Zurique e Lausanne (Suíça), Olympiakos, Panathinaikos, AEK e PAOK (Grécia), Anderlecht e Standard Liège (Bélgica), CSKA e Levski Sofia (Bulgária), Steaua e D. Bucareste (Roménia), Celtic e Glasgow Rangers (Escócia) já superaram a barreira das 1000 vitórias nas respectivas Ligas.