O «caso Mateus», expressão que tem vindo a dominar o vocabulário futebolístico nos últimos meses, foi originado pela contratação, por parte do Gil Vicente, de um avançado angolano ao Lixa, de seu nome, naturalmente, Mateus. Nesta polémica do futebol português, duas figuras assumem especial protagonismo.
O próprio jogador, indirectamente, e o presidente do clube minhoto, António Fiúza, que promete lutar até às últimas consequências pela anulação da decisão de despromover o Gil Vicente para a Liga de Honra. A equipa profissional regressou neste sábado à competição mas, para desconforto não assumido dos restantes elementos, Fiúza e Mateus não marcaram presença em Vila do Conde
Após três faltas de comparência, a formação gilista evitou uma punição que oscilaria entre 1 e 5 anos de exclusão, defrontando o Rio Ave em encontro referente à 5ª jornada. A equipa da casa venceu pela margem mínima (1-0), frente a um adversário que se viu reduzido a dez unidades antes na primeira parte, acusando depois a falta de ritmo provocada por cinco meses sem competição nas pernas.
«O Mateus entendeu não vir, a decisão é dele», diz Bruno Tiago
O Gil Vicente promete continuar a lutar, nos tribunais e nos relvados, pelo regresso ao escalão principal, mas as cisões no grupo podem provocar mossas irreparáveis. No final do encontro, o treinador da equipa, Paulo Alves, evitou comentar as ausências de Fiúza e Mateus. «Mateus? É um problema do foro interno do clube. Quanto ao presidente, ele terá a sua explicação para a ausência, não nos compete a nós comentar. A equipa tem de jogar, temos de fazer o nosso papel. Tem-se dito coisas sobre a relação entre as partes, algumas verdade, outras nem por isso. Somos profissionais e temos de trabalhar», limitou-se a afirmar.
A verdade é que Mateus decidiu não comparecer à concentração da equipa, esta manhã, em Barcelos, apesar de o seu nome constar da lista de convocados. O jogador, que está incontactável, foi um dos 14 elementos a avançar com o pré-aviso de rescisão, no início da semana, face aos salários em atraso. Na 6ª feira, a direcção entregou aos elementos que transitam da época passada, como Mateus, cheques que cobrem dois meses de salário. Logo, deixaria de existir justa causa para a rescisão dos jogadores. Porém, o internacional angolano faltou à chamada, sendo substituído por Betinho.
Apesar do secretismo, um companheiro de equipa viria a confirmar que a ausência de Mateus se deve a uma decisão pessoal do avançado. «O Mateus entendeu não vir, a decisão é dele, não temos mais nada a dizer. Não causou desconforto no grupo, são decisões pessoais», explicou o médio Bruno Tiago, alinhando pelo mesmo diapasão quando se fala de António Fiúza: «O presidente não estava cá? Eu estava em campo, nem me apercebi. Estivemos com outros elementos da direcção e isso é que importa.»
No interior das quatro linhas, o Rio Ave acabou por superiorizar-se ao Gil Vicente, graças a um auto-golo de Gouveia, na recta final do encontro. João Eusébio, treinador da formação vila-condense, garante que vencer no relvado acarreta outro tipo de sentimento, em comparação com a atribuição de pontos pela falta de comparência do adversário. «Foi uma vitória muito sofrida, mas dentro do campo. A experiência diz-me que não seria neste jogo que o Gil Vicente sentiria os reflexos de todo este processo, talvez mais tarde. Eles estão magoados, mas compensaram isso com empenho e determinação. Enfrentrámos um adversário forte, magoado mas com vontade de trabalhar», afirmou.
No Gil Vicente, perdura o sentimento de injustiça. «Só espero que os jogadores não paguem por algo onde não têm responsabilidade. O João fez apenas duas faltas e foi expulso e, no lance do golo, era claramente pontapé de baliza, e não canto», desabafou Bruno Tiago.