Ambiente de festa, um estádio muito bem composto, com milhares de vozes a puxar pelo campeão, o reforçado campeão que está a despoletar sonhos ainda mais ambiciosos em quem perdeu anos condenado a aguardar pela repetição de façanhas já esquecidas. Cabia ao Braga contrariar o poderio que os ensaios teóricos atribuiam ao Sporting. Um simples olhar para a ficha de jogo, de resto, permitia detectar um punhado de internacionais no espaço preenchido pelos visitantes, todos eles capazes de malabarismos de encantar, daqueles que se transformam em golos e vitórias. 

Os pontapés iniciais rapidamente revelaram uma realidade distinta. O Braga não iria vergar-se sem ser obrigado. E mesmo forçado a reconhecer eventuais distâncias, só desistiria depois de tingir o vermelho das camisolas com a derradeira pinga de um suor que provaria os níveis de empenho aplicados. Percebeu-se rapidamente, por entre um passe perdido ou um remate de pontaria duvidosa, que não seria jogo de facilidades. Jamais um jogador ousaria descansar à sombra de um pormenor anterior. Uma boa jogada, mesmo que perdida nos painéis de publicidade, seria o estímulo para a correria seguinte. O sucesso ficava mais perto. 

As emoções estiveram repartidas por dois períodos inesquecíveis. No primeiro, o Braga teve o leão seguro pelos colarinhos por breves instantes, os suficientes para garantir os três pontos, e surpreendeu. O jogo estava transfigurado. As gargantas bracarenses já cantavam vitória, mesmo que o adversário trajasse de campeão e exibisse argumentos de reserva capazes de assustar. A forma repentina como o processo foi desenvolvido atarantou os jogadores do Sporting e obrigou-os a reciclar o futebol sólido que se traduziu no triunfo parcial da primeira parte. 

A vontade, porém, sobrepunha-se à capacidade física e esta limitava o improviso. Acosta perdia-se em raides de destino desconhecido e dava por terminada a ligação com João Pinto ao fim de um par de toques de calcanhar. Sobressaiam os médios, empolgados pela irreverência de Sá Pinto e coordenados pela tranquilidade inicial de Horvath e Bino, este último depois de na primeira parte ter contrariado os limites razoáveis da frieza com um remate sêco e bem dirigido. 

Nessa fase já Fehér e Edmilson tinham agarrado a vitória, com o húngaro - em posição de fora-de-jogo? - a desviar uma bomba de Barroso perdida em ressaltos e o brasileiro a despachar o couro para lá de Schmeichel, após um contra-ataque rectilíneo que envolveu Zé Nuno e Luís Filipe. Diabólico. O Sporting ficava sem resposta mesmo antes de encontrar argumentos para a produzir. Dois escassos minutos não chegaram para Inácio rebuscar as cábulas e obrigaram-no a esquecer a ponderação, trocada pela chamada instantânea de Toñito, Edmilson e Rodrigo para a confusão. 

Reservava-se para o final o cúmulo da euforia. O Sporting tentava recuperar, o Braga perdia-se na ânsia de galgar até à goleada os metros abandonados pela defesa de Alvalade e o público assobiava o cinco que brilhava na placa do 4º árbitro a anunciar o tempo de compensação. Os adeptos minhotos queriam mais, desejavam pular novamente, mas contrariavam o devaneio com um assomo de pragmatismo. A tarefa estava cumprida. Fehér, porém, quis mais e autorizou a loucura, combinada com a risada geral após o frango de Schmeichel, esbatida pelo 3-2, inventado por Edmilson quando a bola parecia perder-se na linha de fundo. 

Chegava o fim do encontro. Recuperava-se o fôlego e retomava-se as conversas. Os sportinguistas reclamavam uma grande penalidade por mão de Ricardo Rocha, os bracarenses, infinitamente mais satisfeitos falavam de Fehér. E de uma fé inabalável.