O 77 está a tornar-se um número mágico para o F.C. Porto. Não só porque é o algarismo escolhido por Benni McCarthy para estampar nas costas da sua camisola, mas também porque foi nesse minuto que surgiram as duas últimas vitórias, com golos apontados precisamente pelo avançado sul-africano. Foi assim com o Manchester United e a dose repetiu-se com a Académica.

Num dos desafios mais sofridos para o campeão esta época, no campeonato, o triunfo foi magro, mas suficiente para manter a concorrência na luta pelo título a distância bastante confortável. O jogo foi mais complicado do que seria de esperar, muito por mérito da Briosa, mas também porque o 4x3x3 não foi interpretado na perfeição. Na verdade, só mesmo quando houve uma remodelação quase total do meio-campo é que se sentiram diferenças. José Mourinho ousou e tirou Sérgio Conceição, Deco e Maniche. Carlos Alberto, Pedro Mendes (especialmente ele) e Jankauskas trouxeram outro espírito e souberam conduzir a equipa ao triunfo, ainda que o golo de McCarthy tenha surgido na marcação de um livre, em que a bola ainda é desviada na barreira, por Filipe Alvim, e bate um fabuloso Pedro Roma, que voltou a defender tudo. Esta era impossível.

O F.C. Porto entrou no jogo a mandar, com Deco a tentar o canto directo logo aos cinco minutos, mas, desde logo, Roma demonstrou estar sempre muito atento e desviou a bola para a linha de fundo. Evitada a primeira contrariedade, não foi possível evitar uma outra, a saída de Filipe Alvim para a entrada de Tixier. Se não bastasse a ausência (emprestado pelo clube das Antas) de Tonel, o verdadeiro esteio da defensiva academista, João Carlos Pereira viu-se obrigado a efectuar nova adaptação no eixo, devido a mais uma crise asmática de Alvim.

Constantemente pressionada pelo esquema portista, a equipa da casa foi reagindo muito bem e até arriscou defender com o fora-de-jogo. Um sistema que surtiu efeito e resistiu às duas boas oportunidades criadas pelo líder do campeonato no primeiro tempo. Aos 20 minutos foi Nuno Valente a servir Benni McCarthy na área e este a cabecear um pouco lado; sete minutos depois o lateral-esquerdo volta a estar muito bem, mas desta vez lançou Sérgio Conceição, que, em excelente posição, remata muito mal, com a bola a passar por cima da barra.

A Académica jogava sempre na expectativa, com um esquema tradicional de quatro defesas, dois médios defensivos, três jogadores mais à frente e um ponta-de-lança. Rodolfo fez marcação a Deco e Lucas a ligação entre a defesa e o ataque. O contra-ataque foi a arma mais forte, tanto por Flávio Dias, como, principalmente, por Paulo Sérgio. Vítor Baía não fez uma única defesa, mas Paulo Ferreira e Nuno Valente (tantas vezes Maciel, na compensação), tiveram bastantes preocupações.

Jogo aberto

As filosofias de dois treinadores de novas ideias suscitaram um jogo desenvolvido, com princípios tácticos muito interessantes, em que a Académica soube interpretar quase na perfeição a forma de ataque do adversário. Foram raras as oportunidades junto à baliza de Vítor Baía e, na verdade, o guarda-redes do F.C. Porto só efectuou duas defesas e com grau reduzido de dificuldade (a remates de Lucas e Marinescu). Para a Briosa mais importante era anular o adversário, na expectativa de somar um ponto ou lançar um contra-ataque que resultasse em golo.

A segunda parte trouxe um jogo bem aberto e com os portistas a fazerem tudo pela vitória. Mais uma vez Deco voltou a criar perigo logo nos instantes iniciais, mas desta vez servindo Maciel na área, mas a atenção de Pedro Roma anulava tudo. Até mesmo outras iniciativas, como o cabeceamento de Paulo Ferreira. Esta moralização empurrou a Académica para o ataque, ainda que sem resultados práticos. A partir dos 77 minutos, com o golo de McCarthy, o jogo praticamente terminou, ainda que Maciel tenha voltado a testar os reflexos de Roma por uma última vez.

O árbitro António Costa foi muito contestado pelos da casa e a verdade é que não pareceu ter apresentado critério uniforme na marcação de faltas. Se os seus auxiliares estiveram bem na marcação de foras-de-jogo, o juiz principal teve dificuldade, igualmente, no aspecto disciplinar, ficando por mostrar o segundo cartão amarelo a Pedro Emanuel, quando este derrubou Lucas junto à área, quando este já fugia com perigo.