Jaime Pacheco, o treinador do Boavista, reconheceu que, frente ao Beira Mar, a sua equipa conseguiu um melhor resultado do que exibição. Mas o técnico fez questão de explicar por que é isso aconteceu: «É verdade que ainda não jogámos aquilo que sabemos. Mas nesta fase da época seria difícil fazer melhor. Entre jogar bem e ganhar, há que fazer as duas coisas. Mas quando isso não é possível, o melhor é... ganhar. Há que ser pragmático, porque vitórias morais não fazem parte do meu cardápio. Daqui a uns meses, já só nos vamos lembrar que o Boavista ganhou 3-0 ao Beira Mar...» 

Admitindo que a diferença no marcador pode ter sido exagerada, Pacheco fez questão de deixar uma palavra de simpatia para com o Beira Mar: «Fizeram um bom campeonato na época passada e tudo aponta para que o mesmo aconteça esta época. Tiveram, esta noite, a vida dificultada, porque ficaram muito cedo com menos um jogador e assim as coisas ficam muito mais difíceis». 

Para o técnico dos axadrezados, «era possível pôr uma equipa que jogasse melhor futebol, mas aí corria o risco de ter lesões e de as coisas saírem de outra forma». «Há que tomar opções», acrescentou. «Para construir uma casa, é preciso começar pelos alicerces. O tipo de trabalho que desenvolvemos nos treinos tem incidido mais em velocidade, menos em potência, há tempos para tudo. É normal que nem todos estejam ainda no seu melhor». 

Sobre a saída de Glauber, Pacheco esclareceu que foi apenas por «opção táctica». O facto de o Boavista ter jogado melhor na segunda parte, depois de algumas alterações no onze, mereceu do técnico o seguinte comentário: «Na minha equipa, ninguém tem a titularidade assegurada. Todos têm que trabalhar, ninguém é titular por estatuto ou por aquilo que jogou na época passada, ou por ter jogado bem a vida inteira». 

Em relação ao árbitro, Pacheco não quis comentar o trabalho de Paulo Costa e referiu: «É tempo de deixar de dizer mal dos outros. Há que começar a ver as coisas pela positiva, valorizar o trabalho das pessoas. Em Portugal, desvaloriza-se muito os outros. Sei que, no passado, também disse algumas asneiras, mas penitenciei-me delas quando percebi que errei. Vou tentar respeitar mais os árbitros». 

«Fomos roubados» (António Sousa) 

António Sousa, o treinador do Beira Mar, não hesitou em considerar que a equipa aveirense foi «roubada» no jogo do Bessa: «Acho que todos viram e certamente farão o vosso relato do que se passou. Houve dois golos limpinhos que nos foram tirados, um deles punha-nos à frente do marcador, o outro na segunda parte. Mas não foi só isso: há uma grande penalidade a nosso favor que não foi marcada e o terceiro golo do Boavista é precedido de uma falta sobre o Luís Manuel no meio-campo». 

O técnico reforçou que a análise a este jogo não pode ser dissociada da referência aos erros da arbitragem, mas fez questão de ressalvar: «Não quero afirmar que o Boavista ganhou só por causa disso. Com certeza que também tem mérito, porque é uma belíssima equipa, a campeã nacional. Mas a verdade é que teve a vida muito facilitada...» «Assim é difícil moralizar as pessoas», desabafou. 

Passada esta derrota no Bessa, Sousa considerou que o Beira Mar «pode fazer uma época idêntica à anterior». Significativo foi o facto de o onze ter tido nove jogadores que formavam a estrutura-base da época passada (só Nuno Santos e Bruno Ribeiro não faziam parte dessa estrutura). «Há uma continuidade que pretendemos preservar, mas também tivemos seis ou sete reforços que poderão ser integrados progressivamente, sempre com a ideia de melhorar o que já temos».