Belenenses e Campomaiorense empataram 1-1 num jogo insonso disputado no Estádio do Restelo. Um resultado que não deve satisfazer a nenhuma das equipas, já que não permite ao Campomaiorense fugir aos lugares de despromoção e reduz as aspirações do Belenenses em chegar ao quinto lugar. Depois de uma parte muito conflituosa, em que as duas equipas ficaram reduzidas a dez unidades e conseguiram os respectivos golos, o segundo tempo perdeu fulgor em demasia. O maior domínio do Belenenses, consentido pelos alentejanos e sustentado pela inspiração de Seba, esteve sempre longe da possibilidade dos «azuis» chegarem ao triunfo. 

As duas equipas iniciaram o jogo com as respectivas linhas defensivas muito adiantadas, na tentativa de pressionar o adversário sobre a linha do meio-campo. A coincidência das estratégias resultou num forte congestionamento a meio-campo e uma série de choques de interesses e faltas sem sentido que provocaram constantes interrupções na partida. Jogava-se aos solavancos, de falta em falta, com pouca progressão no terreno e sem jogadas de perigo perto das balizas. O jogo tornou-se feio esteticamente e inútil para os objectivos das duas formações. 

A seqüência de pequenas faltas foi aumentando a tensão dentro das quatro linhas e esta atingiu o seu ponto máximo ao minuto 17. Beto preparava-se para marcar um livre indirecto no lado direito do ataque da equipa do Restelo. Os jogadores aglomeraram-se na área de Poleksic. Palácio fez a habitual pressão que os defesas exercem sobre os avançados nestas situações. Perante a constante movimentação de Guga, o defesa do campomaiorense agarrou o brasileiro de forma persistente. Guga tentou libertar-se, mas perante a insistência do espanhol recorreu à agressão. Uma forte cotovelada que não escapou ao olhar atento do auxiliar Jorge Neiva. Augusto Duarte optou por repartir o castigo pelos dois que recolheram mais cedo ao balneário. Uma agressão grave de Guga que, caso a comissão disciplinar da liga mantenha os mesmos critérios que aplicou no caso de Van Hooijdonk em Campo Maior, o deverá afastar, pelo menos, dos próximos dois jogos. 

Seguiram-se momentos de acentuada tensão mas, por outro lado, passou a haver mais espaço em campo. O Belenenses foi o primeiro a procurar escapar ao choque no centro do terreno, recorrendo a longos lançamentos para a corrida dos jogadores mais adiantados. O primeiro remate acabou por surgir, já estavam decorridos vinte minutos de jogo, na seqüência de um cruzamento de Cabral, que herdou todo o corredor direito com a saída de Guga, para Marcão rematar de primeira mas muito por cima da baliza de Poleksic. O Campomaiorense respondeu de imediato com uma rápida descida de Filipe Azevedo pela esquerda a culminar com um centro tenso para a área do Belenenses. Wilson colocou o pé e quase enganou Marcou Aurélio que, já batido, viu a bola passar muito perto da sua trave. 

O futebol disputado aos solavancos tinha dado lugar a um jogo de parada e resposta. O Campomaiorense conseguiu ganhar algum ascendente e quase chegou ao golo na marcação de um livre de Miguel Vaz que levou a bola a tabelar em vários jogadores na área e, com Marco Aurélio encadeado pelo sol, foi Cabral que salvou sobre a linha de golo. No entanto foi o Belenenses que chegou ao golo numa magnífica iniciativa de Seba no lado esquerdo do ataque. O espanhol colocou a bola na área onde Tuck libertou Marcão que, depois de tirar Beke do caminho, fuzilou as redes de Poleksic. A bola foi a meio campo e, no minuto seguinte, o resultado estava novamente empatado. Pedro Henriques segurou Laelson na área, não permitindo que o brasileiro saltasse a uma bola e Augusto Duarte não hesitou apontando para a marcar de grande penalidade que Filipe Azevedo converteu. No minuto seguinte, Paulo Vida libertou-se na direita e aplicou um forte remate que levou a bola a roçar as malhas laterais. Chegou o intervalo a prometer um segundo tempo melhor do que os paupérrimos minutos iniciais. 

Diamantino Miranda alterou por completo a estratégia da sua equipa para o segundo tempo. Os alentejanos abdicaram praticamente da iniciativa e ficaram à espera de oportunidades, que raramente chegaram, para jogarem em contra-ataque. Tirando uma iniciativa de Filipe Azevedo logo no primeiro minuto, que Filgueira desviou para canto, os alentejanos praticamente não voltaram a incomodar Marco Aurélio. O Belenenses tinha agora mais espaço no meio-campo, mas não encontrava soluções para penetrar na muralha defensiva de Campo Maior. Seba destacava-se como o único elemento que poderia servir de aríete para forçar a resistência dos alentejanos. Marinho Peres prescindiu de Beto para apostar na velocidade de João Paulo Brito nas alas. Nos primeiros minutos com sucesso. O suplentente surgia em velocidade, tanto do lado esquerdo como do direito, a solicitar os avançados no centro da área. O Campomaiorense passou por momentos difíceis mas, há medida que os minutos se iam escoando foi ganhando segurança e afastando os azuis da sua área. 

A falta de inspiração dos azuis chegava a ser confragedora. Apenas Seba brilhava no relvado do Restelo. Uma grande exibição do espanhol que, sozinho, de pouco serviu ao Belenenses. Um desperdício gritante tantas foram as oportunidades criadas pelo espanhol e tantas foram as solicitações que fez aos seus companheiros. Seba tentou tudo. Entrou pela direita, pela esquerda, pelo centro, rematou de longe, driblou dois ou três adversários mas, sem qualquer apoio dos companheiros, as suas iniciativas revelaram-se um desperdício. Marinho Peres arrancava os cabelos e procurou chamar a sua equipa à razão lançando Cafu para o lugar do apagado Marcão. Diamantino respondeu com a entrada de Nuno Gomes para o centro do terreno e o Campomaiorense voltou a ganhar consistência. Nuno Gomes, nos poucos minutos que esteve em campo, forneceu à sua equipa um novo arsenal de alternativas ao pontapé para a frente ao alívio desesperado. Agarrou na bola e caminhou a passos largos pelo centro do terreno, obrigando o Belenenses a recuar quando preparava o assalto final que nunca chegou a acontecer. 

Um empate sem sabor para as duas equipas. O Campomaiorense fica a aguardar pelo resultado do V. Guimarães na Reboleira para saber até onde pode ir a sua esperança na manutenção, enquanto os «azuis» deram a ideia que estão felizes com o que já conseguiram até aqui e não têm ambição, nem vontade para lutar por mais.