Um jogo como digestivo. Durante a primeira hora, o domínio expressou-se na língua portuguesa, tal a forma como as jogadas ofensivas foram criadas, os pontapés de canto se sucederam e os remates mais ou menos perigosos também. Neste período, a mobilidade e criatividade do meio-campo e ataque lusitanos foram eficientes, abriram espaços, empurraram o adversário (os médios-ala Lashankou e Karytska funcionaram a maior parte das vezes como defesas) e colocaram em xeque toda a estratégia da equipa do Leste. 

O golo ameaçou por diversas vezes Zhaunov e companhia. Sem jogadores fixos na frente, já que parece não haver lugar para pontas-de-lança nesta estratégia, Portugal ganhava a bola perto da área adversária, voltava a criar perigo após perigo e, no Barreiro, chegou a pairar a ameaça de massacre. A Bielorússia aparecia tenuamente em lances de contra-ataque, mas o capitão Rutuzau estava demasiado sozinho para criar perigo. 

Foi nesta toada de pseudo-massacre que a selecção nacional chegou ao golo. Aos 23 minutos, Hugo Leal lançou em profundidade Filipe Teixeira, que esperou a saída de Zhaunov e tocou a bola para as redes. Pensava-se que finalmente a equipa bielorussa ia quebrar de vez. Puro engano! 

Se aos 23 minutos o resultado era justo, pouco tempo depois deixou de o ser. Aos 35 minutos surge um livre na direita do ataque dos ex-soviéticos. Amelyanchuk cruza para o cabeceamento de Rutuzau que, por sua vez, serviu na pefeição Ledzianiou, perto da linha-limite da pequena área. Um golo que não é hábito ver no futebol profissional, tão simples que foi e tão ingénua a acção dos defensores portugueses se revelou. 

Portugal não gosta de sofrer golos 

Com o golo do adversário, Portugal não voltou a ser o mesmo. Os bielorussos, que até então pareciam fracos de mais para ser verdade, desinibiram-se.  

Chegou-se então ao intervalo com os bielorussos em cima da defesa portuguesa. Pensava-se que a selecção nacional, após o descanso, poderia voltar a exercer o mesmo domínio que tinha tido durante os primeiros 30 minutos da partida. Não conseguiu. Surpreendentemente, os bielorussos foram mais agressivos na procura de bola e desestabilizaram uma equipa, com cinco novos jogadores, que tentava reencontrar o seu fio de jogo. 

Seis minutos após o intervalo, Fredy contribuiu com um auto-golo para a vantagem da equipa bielorussa no Barreiro. Foi um autêntico balde de gelo. E aí Portugal «morreu». Não que não tenha criado perigo ou não tenha razões para criticar um penalty não assinalado sobre Luís Filipe ou a falta de sorte de um livre de Alhandra que embateu na barra, mas porque não teve aquilo que mais se pedia: futebol com pés e cabeça. 

Agostinho Oliveira vai ter de rever algumas situações na equipa: a maciez do meio-campo quando enfrenta adversários rápidos e fortes fisicamente; a inoperância da esquerda, sem um extremo de raíz, e consequentes desequilíbrios; e os problemas que uma mobilidade ofensiva em demasia também levanta. 

Um mau digestivo, portanto!