Hélder Postiga, infelizmente para ele mas não só, tem sido um jogador adiado. O «não só» que ficou atrás refere-se ao clube que representa (e aos que representou antes) e também aos espectadores. Porque Postiga é um futebolista de grandes recursos, alguns deles de fina arte, é uma pena não o ver regularmente em pleno.

O avançado do Sporting é abnegado e combativo. Tem uma cara de inocente que engana - olha-se para ele e pensa-se que não incomodará uma mosca; vê-se Postiga em campo e percebe-se que não deixa um lance por disputar.

Pelo que joga e pela forma como o faz, lembra Nuno Gomes. São dois avançados pouco tradicionais, que gostam de tratar bem a bola e sabem trabalhar em equipa, produzindo jogo às golfadas para os companheiros brilharem. Com muita inteligência e um sentido dos objectivos comuns superior ao sentido da defesa dos interesses pessoais.

Estas características são constantes, e também por isso Hélder Postiga é um rapaz que merecia ter mais sorte. Se ela se conquista com suor, como tanto se apregoa, porque não há-de ele encontrá-la mais vezes? Por falta de empenho não será de certeza. De talento também não.

Poderá haver explicações de ordem psicológica ou até técnico-táctica. Ficam para os especialistas. Do lado do apreciador do jogo fica o aplauso pelo regresso aos golos (por enquanto só na Liga Europa) e à influência na equipa (assistência para João Pereira frente ao Beira-Mar, numa jogada em que roubou duas vezes a bola a adversários com impecáveis e imaculados «carrinhos»).

Paulo Bento, conhecedor profundo das qualidades de Postiga, não hesitou em chamá-lo à selecção, que bem pode vir a precisar dele. Cá para nós, o Dragão era o cenário ideal para o avançado ter finalmente a tal sorte que merece. Caramba: se voltar a cabecear e rematar com preceito não há-de haver mais um poste ou nova excelente defesa de um guarda-redes a afastá-lo do golo.

Editor desporto TVI