Quando era criança e, nas aulas, já com as pernas viradas para a porta e com a bola estrategicamente posicionada, enquanto olhava para o relógio que indiciava estar perto da hora de toque, qual shot de cafeína, fervilhava para «ir apanhar a baliza». O aluno mais rápido da escola a chegar ao recreio detinha, por direito conquistado - e ai de quem dissesse o contrário! -, a possibilidade de explorar a baliza e terrenos circundantes. Era uma espécie de Feudalismo versão crianças. Dito isto, não poucas vezes o jogo que se jogava era o France contra a malta. Sozinho, jogava contra vários dos meus amigos. 

Faz lembrar um bocadinho este Euro quando se quer falar de um jogo entre a Alemanha e qualquer outro país, no que concerne à segunda guerra. Eram os alemães contra a Europa. 

Vimos, há poucos dias, aquando das eleições para o parlamento europeu, um crescimento, ainda que expectável, da AfD - partido de extrema direita alemão - conseguindo cerca de 15 por cento dos votos (mais cinco pontos percentuais do que nas eleições alemãs). Assistimos, não só no país, mas como na Europa, ao crescimento exponencial deste tipo de forças e, por isso, a uma fascitização galopante dos principais blocos históricos europeus. 

O jogo terá lugar na Allianz Arena, em Munique, casa mãe do mítico Bayern de Munique, cujo símbolo já foi, entre 1938 e 1945, uma suástica. 

Munique foi também um importante local de culto Nazi onde inúmeros comícios e manifestações tiveram lugar. Inclusivamente, Hitler tentou, ainda que sem sucesso e que o emprisionou, em novembro de 1923, um golpe de estado que ficou conhecido por Beer Hall Putsch.

Golpe esse tornando-se um aviso para o que se efetivaria no decorrer dessa década e da seguinte. 

Sinto que estamos a viver e experienciar um aviso semelhante nos dias de hoje. Ainda que noutro tempo histórico, com outras características, com uma realidade material diferente (não há condicionantes de Versalhes, por exemplo), mas com um cozinhado que, bem temperado, pode criar um monstro idêntico ao que surgiu nas décadas de 30 e 40 na Alemanha. 

A História repete-se primeiro como tragédia, e depois como uma farsa. 

Talvez ainda consigamos ir a tempo para evitar mais avanços. Talvez.