Um golo, duas assistências. Face destacada do mais gordo resultado da jornada 13, Diogo Jota ligou o Paços de Ferreira à corrente elétrica até ao 6-0 final na receção ao União da Madeira. Figura da ronda, pois claro.

Aos 19 anos, é uma das maiores promessas do campeonato luso, depois de uma ascensão meteórica na segunda metade da época transata, pela mão de Paulo Fonseca, alicerçada com números prometedores no primeiro terço da atual.

Já ultrapassou, de resto, as marcas de 2014/15, quando fez quatro golos pela equipa principal (dois no campeonato e outros dois na Taça) em 12 jogos. Este ano, em 15 partidas divididas por três competições já soma seis tentos. O último dos quais a fechar a tal goleada da jornada, este sábado.

«Talvez pudesse ter mais um ou outro golo, por esta altura, mas acho que tem sido uma boa temporada. Comecei a titular, portanto é normal que consiga passar os números do ano passado. As coisas estão a correr melhor e só penso em melhorar ainda mais», afirma o avançado pacense, em entrevista ao Maisfutebol.

Recebeu nota máxima do nosso jornal e rasgados elogios: «Palmo e meio de talento, futebol de rua, incontrolável. Momento maior? O passe a assistir Bruno Moreira no segundo golo, geometricamente inatacável, exemplo perfeito de inteligência e visão fora do normal.»

Questionado sobre esse momento, Diogo Jota divide o holofote: «São situações que acontecem. Naturalmente o que dá beleza ao passe foi o Bruno Moreira ter marcado. Se falhasse ou não conseguisse dominar, ninguém se lembrava do resto da jogada. Nem sempre corre bem, mas consegui levar a bola e colocar pelo meio da defesa.»

O avançado defende que foi a sua melhor atuação da época, mesmo sendo algo, muitas vezes, mais interpretativo do que quantitativo.

«Não é fácil comparar exibições. Sei que as coisas me correram bem, mas já tive outros bons jogos esta época. De qualquer forma foi muito bom. Fiz um golo, tive duas assistências. Acho que no campeonato ainda não tinha feito melhor», resume.

A nível coletivo, contudo, é mais pragmático: «Se olharmos para o resultado foi a melhor exibição da época, mas estivemos muito bem em todos os aspetos, não só no resultado. Mesmo defensivamente. O nosso guarda-redes não fez nenhuma defesa que me lembre. E nós fizemos golos em ataque continuado e em contra-ataque. Tivemos muitas oportunidades, marcamos seis golos, falhamos um penálti…»



A desilusão do U. Madeira e a festa do Paços ao fundo

«Precisei de algum tempo para adaptar-me a este esquema»

Na temporada passada, Diogo Jota surgiu como um segundo avançado no esquema de Paulo Fonseca, mas Jorge Simão joga de uma outra forma. Para caber na equipa, migrou para um flanco.

«O esquema é diferente e precisei de algum tempo para adaptar-me», assume. «Na pré-temporada e mesmo nos primeiros jogos do campeonato ainda estava à procura da melhor forma para jogar ali. Agora já me sinto melhor, até porque o mais importante é jogar», salienta.

«Se me sinto um extremo? Eu sei que no papel sou um extremo, mas depois em campo se calhar não é bem assim. Gosto de estar mais no meio, mais envolvido no jogo. Sou um extremo especial, por assim dizer», brinca.

A nível coletivo, Diogo Jota não descola do discurso oficial. O Paços de Ferreira é sexto, nesta altura, mordendo os calcanhares às equipas nos lugares europeus. A equipa esteve nas provas da UEFA há bem pouco tempo, mas o objetivo, garantem, não é esse, para já.

«O objetivo é a manutenção. Quando tivermos esse objetivo atingido, vamos para o próximo, que foi estabelecido pelo mister e aceite por nós, que são os 48 pontos», comenta. O número não é estabelecido ao acaso: significaria ultrapassar a pontuação da época passada, quando os «castores» terminaram com 47 pontos, no oitavo lugar.

Olhando para a pontuação atual, Diogo Jota vê um número justo: «É a junção de muitos jogos. E jogos diferentes. Houve alguns em que merecíamos mais e outros em que, por ventura, trouxemos mais do que aquilo que merecíamos.»


Diogo Jota em ação frente ao Rio Ave 

O único jogador do plantel que mora no Lar do clube

Diogo Jota festejou recentemente (4 de dezembro) o seu 19º aniversário. Há pouco mais de um ano era ainda um junior. Mudou muito nesse espaço temporal, mas algo ficou como estava: a residência no Lar do clube.

Chegado a Paços de Ferreira em 2013, oriundo da formação do Gondomar, Diogo Jota instalou-se na casa de acolhimento que o clube criara. «Vim para cá no ano em que abriu esta infraestrutura e gosto de estar cá. Maioritariamente foi feito a pensar nos jogadores estrangeiros e acaba por ser um bom local para se passar o espírito desta casa»
, conta.

Não tem dúvidas que morar lá é «um aspeto positivo». «Ajuda os jogadores a perceberem a forma de ser deste clube. O Paços foi claramente a melhor decisão da minha carreira até agora. É um bom clube para trabalhar, com pessoas de confiança que te fazem sentir bem e tranquilos», elogia.

Neste momento, Diogo Jota é mesmo o único jogador do plantel principal naquela casa. «O resto são os juniores», explica. «Os jogadores que vieram de fora, pela idade preferem viver num apartamento com a família. Eu, como sou mais novo, vou ficando por cá», atira, entre risos.

Sair de Paços é algo que não está, para já, nos seus horizontes. Mesmo que seja inevitável falar em «dar o salto», expressão utilizada para jogadores que trocam clubes em busca de objetivos mais ousados ou outras compensações.

Um dia, provavelmente, chegará a hora de sair, mas Diogo Jota não dorme a pensar nisso. Questionado se tem preferência entre um grande de Portugal ou um emblema estrangeiro, garante: «Não tenho preferência, sinceramente.»

«Nem sequer penso muito nisso. Dou o meu melhor pelo Paços e é só isso que está na minha cabeça. Não estou obcecado com a possibilidade de dar um salto. Um grande ou o estrangeiro? Nem sequer tenho na cabeça essa comparação. É-me indiferente», reitera, para fim de conversa.