As equipas portuguesas estão para o Sevilha FC como a cidade andaluza está para o FC Porto: no caminho da glória europeia. As duas conquistas que os dragões têm na segunda prova do calendário europeu tiveram um ponto em comum: a capital da Andaluzia; as duas conquistas que o Sevilha tem, com duas Taças UEFA, tiveram um ponto em comum: clubes portugueses. Em comum, Sevilha e FC Porto têm treinadores também. Uns de boa memória para os dragões, outros nem tanto como se vai perceber à frente.

O êxito europeu do emblema espanhol, que defronta os portistas nos quartos de final da Liga Europa, começou bem antes disso, porém. Onde? Na Luz, estádio do Benfica.

Desde logo, um dado. Só quatro emblemas de Espanha defrontaram os três grandes de Portugal. Barcelona e Real Madrid são os nomes óbvios e que facilmente vêm à memória do lado de cá da Península. O quarteto completa-se com o Espanhol e este mesmo Sevilha.



Taça UEFA 1983/84, segunda mão: Sevilha-Sporting, 1-1 (Magdaleno, 19; Manuel Fernandes, 72)

O primeiro jogo europeu do adversário do FC Porto foi, precisamente, o primeiro jogo europeu do Benfica. Os andaluzes tinham sido segundos classificados em Espanha, atrás do campeão europeu Real Madrid.

Com o argentino e mestre Helenio Herrera ao comando, foram vices na Liga e tiveram direito a disputar a Taça dos Campeões Europeus. Entre uma temporada e outra, porém, perderam Herrera para…o Belenenses.

Assim, a 19 de setembro de 1957, o Sevilha recebeu no antigo Campo Nervion uma equipa encarnada orientada por Otto Glória. O resultado: 3-1 para os andaluzes, com Palmeiro a marcar o primeiro golo português aos sevilhanos.

Uma semana depois, o Sevilha confirmava o primeiro êxito na Europa: no Estádio da Luz, empate 0-0. O Benfica caía, os andaluzes qualificavam-se. Só foram travados pelo campeoníssimo Real Madrid, nos quartos de final.

O último rival luso dos andaluzes, já na presente temporada, foi o Estoril. Que cumpriu uma tradição que impera desde aquela época de 1957: um clube português fazer golos ao Sevilha. Para além do Benfica e da equipa da Amoreira, já jogaram com o clube espanhol FC Porto, Sp. Braga, V. Guimarães, Nacional e Sporting. E todos fizeram golos aos «nervionenses».

Não marcaram em todos os jogos, é certo, mas em cada um dos emblemas nacionais há registo de pelo menos um golo aos sevilhanos. Quanto ao saldo dos andaluzes com Portugal, é-lhes favorável: o Sp. Braga foi a única equipa a vencer o Sevilha duas vezes, com FC Porto e Sporting a vencerem uma cada um. Para além destas quatro derrotas, há três empates e sete vitórias do clube andaluz.

De entre as sete, duas sobressaem: na rota para a conquista das Taças UEFA de 2005/06 e 06/07, receberam sempre clubes portugueses na fase de grupos: no primeiro ano bateram o V. Guimarães, no segundo o Sp. Braga.

Conexões históricas: um treinador de boa memória, outro treinador de má memória

A ligação portuguesa do Sevilha tem décadas de existência, portanto. Prolonga-se com Beto, Daniel Carriço e Diogo Figueiras nos dias que correm, como já se prolongou com Duda, hoje no Malaga. Ao longo da história há outras. A de Helenio Herrera foi uma [pequena] delas. Mais profunda que a do argentino é a de Toni, o Toni do Benfica. Jesualdo Ferreira foi adjunto no emblema andaluz em 1995, depois de a dupla ter passado pelo Bordéus, França, e muito antes de o professor chegar ao cargo de técnico principal no Dragão.

Toni e Jesualdo Ferreira duraram oito jogos: fizeram seis pontos em 24 possíveis. Saíram após uma derrota com o Espanhol, de José Antonio Camacho. No plantel, havia também dois portugueses: Emílio Peixe e Agostinho, acabadinho de chegar do Real Madrid B. Duraram mais que a dupla técnica. Mas pouco, diga-se.

Há outros técnicos que estiveram nos dois clubes: Janos Kamar (no FC Porto em 1962/63) Fernando Daucik (17 jogos nos dragões em 59/60) e ainda Otto Bumbel. 

Nenhum deles teve grande sucesso no Sevilha, ma este último é um caso à parte na Invicta. Fez 14 jogos no FC Porto, sete na Taça de Portugal. Na prova, em junho de 1958, venceu a final ao Benfica, por 1-0. Começou a temporada seguinte ainda. Mas saiu ao fim de sete jornadas, o suficiente para reclamar um pouco do título que Bela Guttmann ia vencer ao comando da equipa, com uma última jornada que teve Inocêncio Calabote como um dos protagonistas.

Mais longe no tempo está Lippo Herczka. Nome de peso no futebol espanhol venceu a segunda divisão com os andaluzes, embora tenha perdido numa liguilha para chegar à divisão principal nessa longínqua temporada de 1928/29. 


O técnico que conquistou o primeiro campeonato de Espanha para o Real Madrid chegou ao FC Porto alguns anos mais tarde [época 1942/43]. Depois de ter passado por Benfica e Belenenses, o presidente portista José Sousa Barcellos contratou-o para orientar os dragões.

Herczka tinha tido sucesso nos clubes que orientara, mas os três anos no FC Porto foram marcados por altos e baixos. Na primeira época, foi sétimo classificado no campeonato, nas seguintes foi quarto. Pelo meio, alguns dos resultados mais negativos na história do FC Porto: 12-2 no Campo Grande, casa do Benfica, 8-1 no Estoril, por exemplo.

Os dias são diferentes, agora. E a história recente foi favorável ao FC Porto. Ainda assim, os velhos ditados existem por alguma coisa. E de Espanha, «nem bons ventos…»