Foram anos e anos de sucesso e depois a amargura total. O fim. Ou não. O Farense tenta, agora, renascer das cinzas, no inferno da 2ª divisão distrital de Faro, longe dos gloriosos momentos vividos no passado. O primeiro dia do resto da sua vida começa neste sábado, em Estombar, na eliminatória inaugural da Taça do Algarve.
Ainda é duro acreditar que o clube que levou mais alto o nome do Algarve, está remetido à condição de amador. Tendo participado pela última vez na principal Liga nacional em 2001/02, na época passada desistiu das competições quando disputava a 3.ª Divisão. A SAD recusou disputar a 1ª Divisão distrital, mas o clube não caiu e aceitou entrar no mais baixo escalão, a 2ª distrital.
Ao leme da equipa surge o ex-jogador Carlos Costa, agora técnico principal, que terá a preciosa ajuda de Candeias e Rui Eugénio, dois antigos atletas do clube. A estrutura mantém caras do passado, como o director desportivo e o médico. O apego ao clube, a memória do passado, não os permite largar o monstro adormecido. Porque acreditam que ainda é possível.
Trabalhar com tranquilidade
O verdadeiro entusiasta de futebol facilmente identifica Carlos Costa, o grande «capitão», que começou a carreira a ponta-de-lança, mas acabou a defesa-central. «Só faltou jogar a guarda-redes», contou o treinador ao Maisfutebol. Nas dez épocas que cumpriu no clube como jogador viveu «grandes alegrias», mas também «enormes tristezas», como a queda no abismo. Por acreditar que é possível voltar a voar, agarrou este projecto.
«Vamos para a segunda divisão distrital, começar do princípio, porque não há outra forma. Existem projectos de recuperação, com acompanhamento do IAPMEI, e parece-me que as pessoas envolvidas estão unidas, a caminhar para o mesmo lado. Se começarmos com tranquilidade, penso que será possível dentro de alguns anos aproximarmo-nos daquilo que o clube foi no passado. Toda a gente tem a noção de que será um caminho longo, mas já que começamos por baixo, que o façamos com alguma tranquilidade e com os pés bem assentes no chão», explicou.
Com uma equipa composta por jovens atletas, muitos deles vindos do Algarve United, vai dizendo que «a perspectiva é subir de divisão», contando que os treinos realizam-se normalmente no velhinho Estádio São Luís, que deverá ser vendido para viabilizar o projecto de reestruturação do clube. Ainda assim, os jogos deverão realizar-se no Estádio do Algarve, por interesse da autarquia.
Um gozo especial
Carlos Costa não esteve presente na histórica final da Taça de Portugal, de 89/90, que o Farense perdeu para o Estrela da Amadora, nem participou na fantástica campanha de 94/95, em que o clube ficou no quinto lugar. Mas esteve na única participação na Taça UEFA, na temporada seguinte, perdendo por duas vezes para o Lyon. Momentos brilhantes que pretende repetir. Chamar-lhe-ão utópico. Ele não se importa.
«Depois de tudo o que se passou nos últimos anos dava-me um certo gozo isto voltar a ser o que era antes. Andamos na rua e sentimos o que as pessoas pensam do clube, falado sempre com carinho. Às vezes sou abordado por alguns velhotes que, com os olhos a brilhar, me perguntam se o clube vai mesmo voltar às competições. São essas coisas que nos dão ainda mais força e, tendo assistido à derrocada, dava-me um enorme gozo participar na recuperação», justificou.
Aos miúdos, «para os incentivar», vai passando o exemplo da sua carreira: «Fui formado no União de Coimbra, mas com a idade deles jogava no Adémia, clube da distrital de Coimbra. Estive um ano sem ser utilizado na III Divisão, mas no ano seguinte fui o melhor marcador. Depois estive cinco anos ou seis no Lousanense e foi aí que perdi muito tempo. Mais um ano no Feirense e dois no Beira Mar. Cheguei ao Farense com 28 e tive uma carreira da qual me orgulho».