Perder a final da Supertaça Europeia, ganhar a Supertaça de Portugal, ser eliminado da Taça de Portugal na primeira eliminatória, vencer a Taça Intercontinental e ficar em segundo na Superliga é um mau saldo para uma época?
Depende do ponto de vista. Partindo do ponto zero da época 2004/05, talvez não seja totalmente... Do ponto de vista do F.C. Porto 2003/04, é.
Nessa época, o Porto perdeu a final da Supertaça Europeia, venceu a Supertaça de Portugal, ganhou a Superliga, perdeu a final da Taça de Portugal e conquistou a Liga dos Campeões.
A apreciação à frieza dos factos pode ser subjectiva. Também depende do ponto de vista. É incontornável. Como acaba também por sê-lo a comparação. E, comparando de modo grosseiro, do outro Porto campeão nacional e europeu ficou este Porto campeão do Mundo.
Mas mais do que os títulos - que também mudaram, é um facto - muito mais mudou no Porto. Mudaram muitos membros e mudou a orientação que durante dois anos (descontando o período propedêutico) presidiu a um corpo inequivocamente definido e que não deu um passo fora do caminho mais curto em direcção ao ponto certo.
Na época que agora acabou, os passos fora do trilho foram muitos, os zigue-zagues começaram desde cedo e o percurso nunca deixou de ser titubeante. E se os títulos se ganham nuns anos e se perdem noutros e se podem voltar a ganhar noutros a seguir, há perdas que demoram mais tempo a serem recuperadas.
Há saídas inevitáveis? Há entradas aconselháveis? Há escolhas cuja utilidade do risco só a partir do médio-prazo pode ser avaliada? Claro que há! A questão é a proporção que toma aquilo que, num momento, cumpre o seu carácter acessório, mas que, noutro, pelo excesso da sua ocorrência, devora aquilo que antes era a sua razão de ser.
A herança era reconhecidamente pesada. Sabia-se que mantê-la ao mesmo nível era difícil. De tudo o que foi numa altura conseguido, as perdas poderiam ter o estatuto de mal menor na inversa proporção do que não se conseguiria manter. E nessa contabilidade, o saldo ainda não foi finalizado...