Olhar para terras de Vera Cruz e descobrir um estanque. Um guardador de rebanhos com sotaque, físico imponente e capacidade de tapar os caminhos da baliza azul e branca. Foi esta a forma que o F.C. Porto, ao longo de vários anos, usou na procura de defesas centrais. Não são muitos, mas, salvo raras excepções, são centrais de classe reconhecida, aqueles que os dragões pescaram, desde que a equipa é dirigida por Pinto da Costa.

O último deles, numa altura em que a aposta parece ter mudado de rumo, é Maicon. Chegou do Nacional, com pezinhos de lá e envolto em desconfiança. Passou discreto pelo primeiro ano e foi lançado às feras para tapar a ferida aberta pela saída de Bruno Alves. Deu-se bem.

A chegada de Otamendi parecia traçar-lhe o destino, mas aos poucos a dúvida mudou. Já não se questiona quando o argentino entrará na equipa, mas o que terá de fazer para o conseguir. Maicon tem a palavra. Num lugar que outrora foi de nomes de Celso, Geraldão ou Aloísio, é este último a deixar uma palavra de incentivo ao compatriota. «Não me surpreende esta afirmação do Maicon. Dos jogos que vi, gostei bastante e parece-me que tem condições para segurar o lugar. É verdade que o F.C. Porto se reforçou forte para o sector, mas o Maicon dá todas as garantias ao André [Villas-Boas]», afirmou Aloísio, em conversa com o Maisfutebol.

O antigo defesa, ainda hoje o estrangeiro com mais jogos realizados com a camisola dos dragões, é um defensor da escola «canarinha» no que a defesas-centrais diz respeito. E lembra que o F.C. Porto raramente se deu mal. «O F.C. Porto sempre teve bons centrais brasileiros. Mesmo depois de eu sair apareceu o Pepe, que acabou por se naturalizar. É verdade que já há alguns anos não tinham um brasileiro naquele lugar, mas penso que foi apenas uma excepção, porque há muitos valores e é um mercado que o clube costuma ter sempre em atenção», afirma.

Maicon: será mais Celso ou mais Argel?

Desde que Pinto da Costa assumiu o clube, o F.C. Porto teve oito defesas-centrais brasileiros (contanto o naturalizado Pepe). Aos 22 anos, Maicon é o nono e ainda tem algum caminho a percorrer para se perceber se seguirá as pisadas de luxo deixadas por Celso ou Aloísio ou, pelo contrário, irá enveredar pelo caminho sinuoso de Lula ou, mesmo, desastrado de Argel, a experiência portista menos bem sucedida.

As primeiras impressões têm sido positivas, ainda para mais quando a equipa tinha pela frente o desafio de render um valor seguro como o de Bruno Alves: «A saída do Bruno [Alves] já era esperada, por isso o clube tinha opções em carteira. A aposta no Maicon vem nesse sentido e felizmente o jogador está a retribuir. Não é o primeiro caso de um central no F.C. Porto que tem de passar por muita desconfiança para se impor. Ele está a jogar bem e não vai ser fácil perder o lugar. »

Melhores momentos de Maicon no F.C. Porto:



Centrais brasileiros no F.C. Porto na era Pinto da Costa:

1985/86- Celso

1986/87- Celso

1987/88- Celso e Geraldão

1988/89- Geraldão e Paulo Pereira

1989/90- Geraldão, Paulo Pereira e José Carlos

1990/91- Geraldão, Paulo Pereira, José Carlos e Aloísio

1991/92- Paulo Pereira, José Carlos e Aloísio

1992/93- José Carlos e Aloísio

1993/94- José Carlos, Aloísio e Paulo Pereira

1994/95- José Carlos e Aloísio

1995/96- José Carlos e Aloísio

1996/97- Aloísio e Lula

1997/98- Aloísio e Lula

1998/99- Aloísio

1999/00- Aloísio e Argel

2000/01- Aloísio

2004/05- Pepe*

2005/06- Pepe*

2006/07- Pepe*

2009/10- Maicon

2010/11- Maicon