De repente, Jorginho saltou para as capas dos jornais, deitando para trás das costas o sofrimento vivido nos primeiros tempos de F.C. Porto, em que foi vaiado pelos próprios adeptos do clube. O que poucos saberão é que este mal-amado foi uma grande esperança do futebol brasileiro, embora tenha sido contestado em vários momentos da carreira.
No Atlético Paranaense, clube que representou durante cinco anos, chegou a ser apelidado de «Jorginho pé murcho», devido ao remate fraco, o que contrasta ironicamente com o chuto certeiro de pé esquerdo que derrotou o Sporting. Na altura, era avançado, mas poucos golos marcava, revelando fraca aptidão no momento de acertar na baliza. Partindo do pressuposto que os verdadeiros amantes do futebol conhecem o seu percurso em Portugal, o Maisfutebol foi à procura das raízes brasileiras.
Natural de Goiânia, Jorge Luiz Pereira de Sousa nasceu a 6 de Maio de 77 (28 anos) e cedo despontou como jogador. Aos 17 anos trocou o modesto Goiatuba pelo gigante At. Paranaense, onde foi campeão da série B logo na primeira época. Destaque da equipa, foi chamado para participar no Torneio de Toulon e no Torneio Sul-Americano sub-20. Mas, foi com a exigência que surgiu a frustração e Jorginho começou a perder oportunidades. Ainda assim, em 1998, sagrou-se campeão estadual do Paraná ao lado de jogadores como Caíco (Marítimo) ou Tuta (ex-V. Guimarães).
«Já era um jogador muito habilidoso, que se destacava, mas acabou por não ter muitas oportunidades», recorda Caíco. «Jorginho é um jogador reconhecido no Paraná, por isso não me surpreende que tenha mostrado tanta qualidade no V. Setúbal e agora no F.C. Porto», sublinha.

Carreira «abençoada»
Lançado na equipa profissional do At. Paranaense por Hélio dos Anjos e descoberto por Jorge Jesus, que o trouxe para o V. Setúbal em 2001, poderá dizer-se que tem uma carreira «abençoada», cheia de altos e baixos. Entre as maiores alegrias estão a conquista do Torneio de Toulon, os títulos no Atlético, a subida à I Liga no V. Setúbal, a conquista da Taça de Portugal e o golo ao Sporting em Alvalade com a camisola do F.C. Porto, que lhe deverá dar o primeiro título nacional da carreira.
«Este golo é a melhor forma de responder aos adeptos depois da contestação», advoga António Teixeira, empresário de Jorginho que lhe abriu as portas do campeonato português e que salienta a vontade do jogador em representar o F.C. Porto apesar de ter tido oportunidades para assinar pelo Sporting e até pelo Galatasaray. «Em 2001 destacou-se no Goiânia e contratei-o para o Grémio Inhumense, clube do qual sou sócio maioritário. Passado um mês Jorge Jesus foi ao Brasil ver jogadores e quis logo levá-lo para o V. Setúbal», recorda.
Quem também privou de perto com o dragão foi Nilson, guarda-redes do V. Guimarães. Estiveram juntos cerca de meio ano no Gama, modesta equipa de Brasília, em 2000. «Tudo o que ele faz agora já fazia na altura e nós só nos surpreendíamos por um jogador com a sua qualidade estar naquela equipa. Ele foi uma grande esperança no At. Parananese, mas acabou por andar um bocado perdido. Teve uma espécie de apagão, mas conseguiu recuperar e está a viver um grande momento. Fico muito feliz por ele, pois é uma pessoa espectacular e que nunca deixou de acreditar nas suas capacidades», frisou.
FICHA
1994 - Goiatuba (juniores)
1995/98 - Atlético Paranaense
1998 - Shandong Luntaishan (China)
1999 - Atlético Paranaense
2000 - Gama
2001 - Goiânia
Junho 2001 - Grémio Inhumense
Junho 2001/05 - V. Setúbal
2005/06 - F.C. Porto
Factos relevantes
Sete internacionalizações pela Selecção do Brasil sub-20
Vencedor do Torneio de Toulon (1996)
Vice-Campeão Sul-Americano Sub-20 - Chile 1997
Campeão Brasileiro Série B (1995)
Campeão Paranaense (1998)
Campeão da Fase Selectiva Copa Libertadores (1999)
Jogador Mais Valioso da Liga de Honra (2003/04)
Taça de Portugal (2004/05)