O génio tem andado escondido na lâmpada. Longe do esplendor dos primeiros meses da época, mais discreto, ainda que regular e competente. É de João Moutinho que falamos. Contratação maior do F.C. Porto, aposta fortíssima e incondicional de André Villas-Boas. Após um início fulgurante, a produção do médio quebrou e levou consigo a sua influência dentro da equipa.

Pode falar-se em picos de forma, naturalmente, e o mais provável é ver João Moutinho regressar em breve trecho às actuações convincentes. Enquanto isso não sucede, fica a observação (sujeita ao contraditório, claro) e um dado mais objectivo: o internacional português é o médio mais utilizado pelo treinador do Porto e também aquele que menos golos faz.

FICHA INDIVIDUAL DE JOÃO MOUTINHO

Em 2476 minutos de competição, divididos por todas as competições, João Moutinho conseguiu marcar apenas ao frágil Juventude de Évora. Na Taça de Portugal. Pecúlio tão pobre, no que à concretização dos centrocampistas respeita, apenas Souza tem. No entanto, o médio ex-Vasco da Gama jogou somente 694 minutos. Bem longe dos números de Moutinho.

Belluschi, Rúben Micael, até Fernando e Guarín. Todos eles apresentam dados superiores ao ex-capitão do Sporting no que aos golos diz respeito.

«No Porto não tem tanta necessidade de chegar à área»

Sem nunca ter sido um goleador, João Moutinho apresenta um registo interessante nos tempos de Alvalade. A melhor marca foi obtida na época transacta, na qual fez nove golos: cinco no campeonato, dois na Taça de Portugal, um na Liga dos Campeões e um na Liga Europa.

Afinal, o que se passa com João Moutinho? Medo de arriscar o remate, incapacidade de surgir nas zonas de finalização, precipitação nas decisões tomadas no último terço do terreno? Carlos Pereira, auxiliar de Paulo Bento nos tempos do Sporting, trabalhou com o atleta de 24 anos durante cinco épocas e deixa algumas explicações.

F.C. Porto: Moutinho é o médio com pior registo de golos

«O João sempre foi um jogador soberbo na organização colectiva e nas assistências para golo. No F.C. Porto há avançados muito móveis e parece-me que ele não tem tanta necessidade de se aproximar da área, como tinha no Sporting», refere o técnico ao Maisfutebol.

E continua. «O João está mais preocupado com o último passe e é muito forte tacticamente. Sabe bem quando tem de fazer faltas e, se calhar, desgasta-se mais nessas funções. Nos nossos tempos do Sporting ele jogou várias vezes atrás do ponta-de-lança, por isso surgia em zonas propícias à finalização.»

«Em Alvalade preocupava-se com muita coisa, infelizmente»

Carlos Pereira é um profundo conhecedor de João Moutinho e garante que o jogador nunca se preocupou em demasia com a necessidade de marcar. «No Sporting tinha de se preocupar com muitas mais coisas, infelizmente», recorda.

«Devido a necessidades específicas, tínhamos de colocar o João em várias posições. Jogou a número dez, na direita, na esquerda e até como médio mais recuado. Dada a sua grande influência, ele nunca se focalizou na urgência de fazer golos.»

Um golo em 2476 minutos. O dado está longe de ser brilhante, mas Carlos Pereira não o considera preocupante. João Moutinho será sempre útil noutros itens do jogo, considera. «Ele é daqueles elementos que nunca deixa nada por fazer. Treina sempre bem, é impressionante no dia-a-dia. E raramente tem uma lesão. É um profissional excelente.»