7 de Dezembro de 2004. Magia negra no Estádio do Dragão. A quimera da Liga dos Campeões na testa de Benni McCarthy. O fim da tormenta num cabeceamento embevecido pelo pé esquerdo de Quaresma. Um momento diletante na carreira do sul-africano que agora enverga a camisola do histórico Blackburn Rovers. Desafiado pelo Maisfutebol, McCarthy apanha a boleia da saudade e recua até ao minuto 87 do último F.C. Porto-Chelsea. Uma partida inesquecível, na qual ousou desafiar a luxúria dos todo-poderosos blues.
«Lembro-me de tudo! Do cruzamento do Quaresma, na esquerda, e de saltar com o Gallas. Cabeceei bem e seguimos em frente na Liga dos Campeões», reflecte Benni, que não poupa nos adjectivos a essa vitória. «Foi lindo, maravilhoso. Tínhamos mesmo que vencer, porque era uma vergonha ver o campeão da Europa a ser eliminado tão cedo. O meu golo significou muito para mim e para o clube, permitiu-nos mostrar que continuávamos a ser grandes.»
Nem mais, nem menos. Na lascívia de um movimento, a qualificação para os oitavos-de-final, frente a uma equipa teoricamente mais poderosa. E agora? Estará este Chelsea ainda mais forte? «Apesar de manter a estrutura-base, é uma equipa diferente. São treinados pelo José Mourinho há três anos, estão habituados a vencer e parecem-me mais completos.» Por isso, a sentença óbvia: «O F.C. Porto vai ter muitas dificuldades.»
«Se o F.C. Porto jogar como contra o Arsenal, pode vencer», avisa Benni
Ora, pelas palavras de McCarthy, os ditames do Chelsea são agora mais rigorosos. De que forma poderá, então, o F.C. Porto tentar contrariar o favoritismo inglês? «Se jogar como fez contra o Arsenal, no Dragão, pode vencer a partida», defende Benni. De resto, sabe-se que José Mourinho não é o maior dos filantropos e não admitirá qualquer desfecho que não a vitória.
«Ele só pensa em ganhar. Ganhar, ganhar, ganhar», confessa o avançado, que trabalhou com o actual treinador do Chelsea em Portugal. «O José estudou, de certeza, o F.C. Porto ao pormenor e vai concentrar-se nos pontos fracos deles. Depois de explicar tudo aos jogadores, vai mostrar-lhes como poderão fazer danos no adversário.» Parece simples, de facto, mas Benni assevera que é isto que José Mourinho faz sempre na antecâmara de qualquer jogo.
Prevê McCarthy: «O jogo vai ser equilibrado e com poucos golos»
As bolas paradas. Benni McCarthy deixa o aviso de quem quer bem ao F.C. Porto. É através deste tipo de lances que o Chelsea, invariavelmente, semeia perigo nas defesas contrárias. «Drogba é um especialista», lembra, e «John Terry pode desequilibrar no jogo aéreo». «Mas nenhuma das equipas tem muitos pontos fracos. Por isso, o mais certo é vermos um jogo com poucos golos e muito equilíbrio.»
Prognóstico dado, venha de lá esse jogo. McCarthy, que até nem tem visto o F.C. Porto a actuar esta temporada, «só em resumos e no tal jogo com o Arsenal», não vai perder pitada, até porque é um devoto seguidor de tudo quanto é espectáculo. «E esta partida vai ser um grande espectáculo.» Tomara que sim.