O fenómeno é transversal a vários países europeus: o desespero leva a esperança a bater à porta da extrema-direita. A Polónia é um caso paradigmático. As notícias apontam para o recrudescer dos grupos de jovens skinheads, do anti-semitismo, do nacionalismo exacerbado.
O Maisfutebol procurou saber se a dimensão do problema é, de facto, motivo para fomentar preocupação ou se, por outra, há algum exagero na conotação estabelecida entre estes grupos extremistas e o futebol polaco.
Socorremo-nos da opinião autorizada de três emigrantes portugueses e de um polaco muito especial: Greg Mielcarski. As palavras não diferem muito e apontam na mesma direção: o fantasma do nazismo assombra as bancadas de vários estádios, é verdade, mas é irrelevante força nos restantes setores da sociedade civil polaca.
«Nunca assisti a qualquer incidente relacionado com racismo. Nada. À noite, onde há exagero no consumo de álcool, acontecem algumas coisas, mas é assim em qualquer país», diz Gonçalo Avelino, responsável por uma companhia imobiliária em Poznan, há cinco anos no país.
Fernando Dinis jogou dois anos no Zaglebie Lubin. Lamenta uma situação «desagradável» com um ex-colega africano e pouco mais.
«Uma minoria dos nossos adeptos, a ala radical, insultava os jogadores negros nos nos jogos. A família de um jogador nigeriano teve problemas numa partida, foi incomodada pela claque», admite o antigo lateral do Boavista.
Fora dos estádios, lá está, nunca se apercebeu de nada. «Sempre me senti completamente seguro. Andei sempre à-vontade na rua».
«Os polacos não são xenófobos»
Nuno Bernardes é professor de línguas na Universidade de Varsóvia. Considera «exagerado» a onda de inquietação recente e defende mesmo que a Polónia «não é diferente de Portugal ou da Espanha».
«Os polacos não são xenófobos. São, isso sim, fechados. Não gostam muito de falar com estrangeiros, não socializam muito. Mas não posso dizer que sejam antipáticos. São reservados», sublinha o docente, já há quatro anos habitante da capital do país co-organizador do Europeu.
Greg Mielcarsi está seguro de que «ninguém» reparará nesses agregados organizados.
«Há apenas uma imensa minoria ativa. Coisas más podem acontecer em qualquer lado. Lembro-me que no Mundial da Alemanha foi intercetado a tempo um atentado terrorista. A polícia polaca está preparada», sentencia o ex-avançado do F.C. Porto.
Apreciador de futebol, Gonçalo Avelino acrescenta mais uma indicação. «O pior, sinceramente, é a rivalidade entre o Lech Poznan com os clubes de Varsóvia e Cracóvia. Aí sim, acredito que possam surgir problemas. No Europeu, não».
Piores do que os hooligans? «Os condutores»
Em resumo, o problema existe, mas parece controlado.
«O meu conselho é que não se misturem com os grupo de ultras. Cuidado com eles. Eles estão bem identificados. Andam de cabelo rapado e em grupo. Não se aproximem», pede Gonçalo Avelino aos adeptos portugueses, antes de mais uma dica.
«Mais perigosos do que os hooligans são os condutores polacos. Atrevidos, descuidados, inconscientes. Cuidado nas rotundas, porque eles não respeitam a prioridades. E a polícia tem tolerância zero com o consumo excessivo de álcool». Está dado o aviso.
Apaixonado pela história do país, o professor Nuno Bernardes recorda, a terminar o diálogo, «a velha questão enraizada nas relações entre Polónia e Rússia, até por as duas seleções estarem no mesmo grupo.
«Ainda há poucos anos o avião que transportava o presidente polaco caiu na Rússia. Há um clima de algum desconforto. Tirando isso, penso que não há razões para preocupação, para lá das habituais entre adeptos nas grandes provas».
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