Cruza-se todos os dias com Cristiano Ronaldo, Nani, Anderson, Rooney. Aos 16 anos, Evandro Brandão está onde muitos sonham chegar. Já é jogador do Manchester United. Mas quer mais. É por isso que fica no final dos treinos a trabalhar com Solskjaer, é por isso que não perde a oportunidade de ver vídeos de avançados consagrados. Evandro joga na equipa sub-18, a última etapa da formação dos «reds», e tem fé no futuro. «Acho que não falta muito para ter uma oportunidade de treinar com a primeira equipa», acredita.
Filho de pai português e mãe angolana, Evandro passou a infância em Luanda, depois viveu quatro anos em Portugal e aos 11 anos mudou-se com os pais para Inglaterra. Até aí, era futebolista de ocasião. «Jogava com os amigos, pouco mais», conta, em conversa com o Maisfutebol. Mas o futebol era assunto de família. O pai Orlando e o tio Alfredo foram jogadores, passaram por várias equipas portuguesas: «Já tinha o futebol nas veias.»
Em Inglaterra cruzou-se com Gil Gomes. O avançado que foi campeão do Mundo de sub-20 com Portugal em 1991 orientava um centro de formação de jogadores. Evandro sentiu que estava ali o seu futuro: «Quis levar o futebol mais a sério.»
Ao fim de três meses despertou o interesse de clubes maiores. Primeiro foi o Blackburn Rovers, onde não ficou porque os regulamentos obrigam a que os jovens residam a menos de 60 km do clube, e Evandro morava em Londres. O passo seguinte foi dirigido. O Manchester United foi sempre o clube de sonho de Evandro: «Desde miúdo habituei-me a gostar, a admirar o Van Nistelrooy, o Cristiano Ronaldo.»
Gil já tinha indicado dois jogadores aos «reds», mas a experiência não correu bem. Decidiram ir por outro caminho. «Escolhemos o Walsall. Como é um clube satélite do Manchester United, apostámos por aí», conta Gil: «Ao fim de quatro meses despertou o interesse do Manchester United.»
Nesta história a duas vozes, fala agora Evandro: «Viram-me jogar pelo Walsall e fizeram-me um convite para jogar num torneio da Nike. No final disseram que gostaram da minha atitude e convidaram-me.»
Queiroz e as «boas indicações» de Ferguson
A ponte foi estabelecida por Carlos Queiroz. O técnico português, adjunto de Ferguson no ManUtd, é também o mentor de Gil, que está agora ligado aos «reds», como treinador da formação.
Evandro entrava noutra dimensão. A ligação ao ManUtd passa por uma espécie de bolsa. Evandro estuda (frequenta o 12º ano) e vive em Manchester com uma família inglesa. Ao sábado joga e marca golos pelos juniores. Durante a semana partilha os treinos e as conversas com os seus ídolos, em Carrington: «Convivemos todos os dias com os seniores. Às vezes o treinador junta a equipa de jovens com os reservas e os seniores e fazemos um torneio com três equipas.»
Trabalha e escuta os conselhos de quem sabe. Queiroz: «Diz-me sempre para continuar a trabalhar, que não basta só o talento.» Solskjaer, o antigo jogador que é agora treinador dos avançados: «Dá-me grande apoio, fica comigo depois dos treinos. Passa-me a experiência dele. Diz para ter calma frente à baliza e concentrar-me em mim próprio, que os defesas é que têm de se preocupar com os avançados.»
Alex Ferguson observa: «Pergunta como é que me sinto e tem dito sempre que os treinadores lhe têm dado boas indicações. Fico contente por ele já ouvir falar de mim.»
Evandro também já despertou a atenção dos técnicos portugueses. Já foi chamado às selecções de sub-16 e sub-17: «É sempre bom voltar e representar o país que me acolheu. Ainda tenho a hipótese de optar por Angola, mas de momento estou contente com a minha escolha e vou continuar com ela.» Por agora, a sua meta é só uma: «Primeiro, o meu grande objectivo é chegar à primeira equipa do Manchester.»
A conversa acaba junto à entrada principal de Old Trafford. Evandro conta que vai lá jogar pela primeira vez daqui por 15 dias, num jogo de Taça. «Vou realizar outro dos meus sonhos.» O brilho nos olhos dispensava a explicação.