Natural de Kierspe, Roger Schmidt fez uma carreira modesta como jogador em vários clubes da Alemanha, entre eles o SC Verl, que tem casa a meia hora de distância (cerca de 20 quilómetros) do hotel Klosterpforte, onde Portugal vai ficar hospedado a partir desta quinta-feira.

Perante um trajeto tão curto, o Maisfutebol faz-se à estrada e segue em direção ao estádio do clube da pequena vila de Verl que milita na Bundesliga 3 desde 2020. Não há trânsito, é meio da tarde de um dia de trabalho o que nos permite observar a paisagem verdejante que cobre praticamente todo o trajeto.

Por fim, avistamos uma placa amarela que indica um quilómetro até Verl e ao estádio Sport Club Arena. Entramos numa zona residencial de casas tipicamente germânicas com os telhados inclinados e no meio, descobrimos o recinto, palco onde Schmidt jogou entre 1995 e 2002.

A equipa profissional está de férias pelo que o local está praticamente deserto: há cerca de dez carros estacionados no parque de estacionamento a contar com o nosso. Atravessamos um portão semiaberto, observamos a bancada com lugares de pé (Curva Norte) e o relvado através do gradeamento.No espaço adjacente, decorre um treino de uma das equipas de formação ao qual vários pais assistem.

«Alguém fala inglês?», perguntamos.

Marcel Rosen responde afirmativamente e cumprimenta-nos. Explicamos o propósito da nossa visita e este sorri quando ouve o nome de Roger Schmidt.

«Tenho poucas recordações do Schmidt enquanto jogador. Sei que jogava como médio, mas talvez a melhor pessoa para falar dele seja o roupeiro que já cá está há muitos anos», diz.
 

Marcel foi o tradutor de serviço do Maisfutebol na visita ao estádio do SC Verl.


Desaparece por uns instantes. Seguimo-lo cautelosamente e conseguimos vê-lo trocar umas palavras em alemão com Johannes König. Marcel regressa juntamente com o técnico de equipamentos do SC Verl e disponibiliza-se para assumir o papel de tradutor.

«Roger Schmidt foi das melhores pessoas que conheci no futebol», confessa Johannes ao mesmo tempo que gesticula na nossa direção (sem a tradução de Marcel, dificilmente conseguiríamos entender o que nos diz).

«O Roger esteve aqui oito anos. Não falo do jogador, mas da pessoa. Era uma excelente pessoa. Chegou a ser capitão de equipa e se algo não estava bem, o Roger tentava sempre ajudar. Era um dos primeiros a fazê-lo. Além disso, ele também tinha o cuidado de tentar integrar quem chegava ao clube», acrescenta.

Johannes König recorda ainda que o atual treinador do Benfica não vivia em Verl, mas em Paderborn, a cerca de 30 minutos do estádio. O roupeiro apresenta a justificação de que tem trabalho a fazer e Marcel aproveita para partilhar uma história da infância que envolve Schmidt.

«Quando era miúdo, lembro-me de o meu pai [antigo funcionário do clube] me levar para um estágio de pré-época do Verl. Já não sei onde era o local do estágio, confesso. Recordo-me de o plantel estar preparado para jantar, mas eu era envergonhado na altura e então disse que não tinha fome e que não queria jantar apesar da insistência do meu pai. Juntamente com outros dois jogadores, o Roger foi buscar-me ao quarto e acabei por jantar com o resto da equipa», rememora.

Marcel mostra-se bastante prestável e acolhedor (um traço bem português, não é?) e pede a Johannes a chave que abre portão que dá acesso a uma das bancadas. Aproveitamos a gentileza e caminhamos timidamente pela bancada onde estão expostas fotografias de equipas da história do SC Verl.

«Olhe aqui! Foi a última época com o cabelo comprido», alerta-nos, apontando para uma fotografia onde Schmidt ainda surge com o cabelo pelos ombros. Prende-nos à atenção e passamos em revista as equipas das épocas seguintes.

 

Roger Schmidt é o sexto na fila de cima a contar da esquerda para a direita (pode ver outras fotos na galeria associada ao artigo),


Observadas as fotografias, o Euro 2024 acaba, inevitavelmente, por dominar o diálogo antes de Marcel avisar que temos de sair e devolver a chave a Johannes König. Está quase na hora de partirmos, mas ainda há tempo para mais uns minutos de conversa, já com o roupeiro junto a nós. É este, de resto, quem toma a palavra.

«Ainda mantenho contacto com o Roger. Recentemente fiz anos e ele fez questão de me enviar um vídeo a desejar bom aniversário», conta.

Antes de me despedir com um cumprimento a cada um, peço para tirar uma fotografia a ambos. Marcel, que atualmente joga nos veteranos do SC Verl, recusa num primeiro momento e aponta para a barriga, com um ar claramente trocista, mas acaba por ceder. Por sua vez, Johannes não mostra emoções, encosta-se a um muro e faz pose para a fotografia enquanto pergunta a Marcel.

«Esta fotografia vai chegar ao Roger?»

O nosso trabalho em Verl está feito. Talvez a Internet faça o resto e consiga fazer o que nós não fomos capazes antes de voltarmos a Marienfeld: responder à pergunta de Johannes König.
 

Roupeiro há muitos anos do SC Verl, Johannes König não esquece o «amigo» Roger Schmidt.