Espanha está nos oitavos de final do Euro, passa em 1.º lugar no Grupo B, mas a maior notícia da noite é que temos uma séria candidata à conquista do título.

Quem embaraça um campeão da Europa de uma forma tão evidente, como se viu em Gelsenkirchen, não pode enjeitar os encómios dos amantes do futebol.

Esta noite, «La Roja» teve a arte de outros tempos e a «fúria» que lhe precedeu na história. Foi um misto de pressão e clareza de processos, de qualidade na gestão da posse e verticalidade. Promete tanto esta seleção de Luis de la Fuente!

Se Espanha regressou às suas origens, Itália apareceu encolhida, como que a recuperar um «catenaccio» que se julgava morto e enterrado. Spalletti bem pode agradecer a Donnarumma não ter saído com um resultado bem mais pesado.

O teenager Lamine Yamal e o Nico Williams, que o Barça lhe queria juntar, são talento puro, duas setas apontadas à baliza adversária, que pelos flancos fizeram a cabeça em água à defensiva italiana. Ruiz, Pedri e Rodri pegam na batuta ao meio-campo e marcam o compasso.

Os números por vezes enganam. Desta vez, não. Ao intervalo Espanha dominava em tudo, menos no marcador: 9-1 em remates, 25-5 em ataques, 61%-39% em posse de bola… – acabariam por ser 20-4, 59-23 e 56%-44% no fim dos 90 minutos.

Acabou por se escrever direito por linhas tortas – por justiça no marcador, entenda-se – com a infelicidade de Calafiori. O defesa do Bolonha introduziu a bola na baliza, no início da segunda parte, e fez aquilo que o desacerto espanhol no último terço e a parede Donnarumma haviam adiado.

Em desvantagem e depois de mais uma hora encolhida, a Itália lembrou-se que tem o cetro europeu para honrar e tentou uma resposta tímida, que jamais justificaria o empate.

Itália sai esta noite de Gelsenkirchen com uma imagem mais pálida do que o equipamento branco com que se apresentou. Vai agora discutir o apuramento na última jornada, com Croácia e Albânia, como segundo ou um dos melhores terceiros.

Deste «grupo da morte» já se salvou «La Roja» de Don de La Fuente. Esta noite, de Gelsenkirchen, saiu uma candidata, ao ritmo do «pasodoble» e a cantar bem alto «Y Viva España».

 

FIGURA: Nico Williams

Comparado com os 16 anos de Yamal, o talento de Nico já nem nos espanta pela precocidade. Mas ali está ele, na banda contrária, com a experiência dos seus 21 anos a driblar um adversário, a romper linhas, a visar a baliza contrária, com a bola numa das ocasiões a esbarrar no ferro naquele que seria um dos grandes golos da competição. No meio de tanta exuberância quase que passa despercebido que saiu dos seus pés o lance do golo que fez a diferença no marcador. Um prodígio que tem muito futebol para dar a Espanha e, para já, ao seu Athletic.

MOMENTO: minuto 54, Calafiori numa noite de calafrios

Calafiori foi infeliz? Sem dúvida. Mas, na verdade, coube-lhe o papel de justiceiro involuntário de um jogo em que seria um sacrilégio Espanha não arrecadar os três pontos. Um calafrio após o outro, Donnarumma parou tudo esta noite, menos aquela «traição» do seu central, que aos 54 minutos deu o pior seguimento (na perspetiva transalpina) àquele cruzamento de Williams, desviado por Morata.