Filipe Oliveira vai para a sexta época no Videoton. O antigo jogador de Chelsea, Sp. Braga e Marítimo viveu por dentro a qualificação da Hungria para o Euro 2016, em que terá como adversário Portugal. Em conversa com o MAISFUTEBOL, o médio destaca a evolução do futebol magiar nos últimos anos e acredita numa prestação condigna, apesar de acreditar que Portugal continua a ter melhores argumentos que o último adversário no Grupo F, em França.

«Acompanhei a campanha de perto, uma vez que há jogadores do Videoton que vão regularmente à seleção húngara, além de conhecer bem outros ex-jogadores que também são selecionados. Foi uma campanha dura, com mudanças de selecionador, e até houve um caso não muito comum, em que um deles [Pál Dárdai] juntou a equipa nacional ao seu clube, o Hertha. O acompanhamento da seleção não terá sido fácil, uma vez que tinha ainda de dedicar atenção ao seu clube. Nos últimos jogos, a Hungria fez um bom trabalho. Não sendo uma equipa de craques e, depois de tantos anos sem estar numa fase final, havia muita vontade de voltar às competições mais importantes. Na parte final, entrou um treinador alemão [Bernd Storck] que também produziu um bom impacto, e todo o país se colocou atrás da equipa. Depois do poderio que teve no passado, com grandes jogadores como Puskas, e estando tão próximo da qualificação, o país moveu-se pela sua seleção e os jogos tiveram casa cheia. Nas várias pessoas com que me cruzo na rua noto uma grande expetativa pela fase final», disse o português.

Há algo que Filipe Oliveira garante à partida. Ninguém joga para perder, e nenhum húngaro desistiu antes de entrar em campo. «Conversei com vários colegas meus que fazem parte do lote. Eles sentem que já é muito bom lá estar, claro, e que é altura de desfrutar de uma competição tão importante. No entanto, ninguém foi para perder ou empatar. Foi um grande feito, sim, mas há jogos a disputar. como se tem visto. A Hungria irá sentir dificuldades no resto do Euro. Não é tão experiente quanto isso, mas as surpresas acontecem frequentemente no futebol.»

Como se explica o sucesso ao fim de 44 anos? Afinal, o que mudou na pobre liga vencida pelo Ferencvaros esta época. «Houve um grande investimento aqui, sobretudo a nível das infraestruturas. Vários clubes, incluindo o Videoton, estão a construir novos estádios. O jogador húngaro é ainda bastante evoluído tecnicamente, embora no aspeto tático ainda esteja atrás de outros, como o português. Verificou-se ainda uma redução do número de equipas na I Liga, o que tornou a prova mais competitiva. Apesar de termos ficado bastante atrás do Ferencvaros, tivemos de lutar pelo segundo lugar até ao último jogo, e daí para baixo foi tudo muito mais equilibrado. Os jogadores e os treinadores foram obrigados a adaptar-se. Houve uma evolução positiva. O país ficou muito contente com a qualificação, que, creio, foi também o resultado do bom trabalho que está a ser feito no país. Espero que continuem a deixar uma boa imagem no Euro», desejou.

O embate com Portugal

A Seleção Nacional defronta a congénere húngara no dia 22 de junho, em Lyon. «Portugal é superior. Apesar de estar na Hungria acompanho o que se passa no meu país. E acho que o lema se aplica muito bem. Não vão ser 11 mas sim 11 milhões. Todo o povo português está entusiasmado. Temos uma equipa com muita qualidade, jogadores nas melhores equipas e o melhor jogador do mundo. Temos ainda um treinador capaz e experiente, ou seja todas as condições para fazermos um grande Europeu.»

O futebolista avalia o possível posicionamento do conjunto magiar frente à equipa de Fernando Santos: «A Hungria, como fez em alguns encontros da qualificação perante adversários mais fortes, deverá utilizar blocos baixos, manter-se agrupada e tentar os contra-ataques para apanhar Portugal desequilibrado. Tem unidades rápidas na frente e vão querer surpreender por aí. Lá atrás, vão evitar conceder espaços.»

As referências e as novas apostas

Na hora de falar em nomes, Filipe Oliveira não tem grandes dúvidas para escolher as principais referências da Hungria. «Conheço muito bem a seleção húngara, pelos jogadores que jogam aqui e pelo acompanhamento que os jornais fazem dos que estão no estrangeiro. O capitão Dzsudzsák é a grande referência da equipa, e há ainda Nikolic, com quem joguei há duas épocas, e foi o melhor marcador da liga polaca e um dos melhores da Europa, com 25 golos pelo Legia. No meio-campo, há ainda Gera, um jogador muito experiente e com grande qualidade. Na defesa há dois jogadores importantes, os centrais Juhász e Lang, também do Videoton. Não havendo nenhum craque, há jogadores competentes em todos os setores. Agora, dependerá de como entrar no Europeu.»

Os jogos do play-off com a Noruega trouxeram algumas novidades na equipa, o que dá algum alento extra para a fase final. Sem conseguir construir muito no ataque, o selecionador achou que tinha de acrescentar algo às suas escolhas. Kleinheisler, que não jogava pelo seu clube há meses, foi a surpresa na primeira mão com a Noruega. «O Kleinheisler foi uma das surpresas dos play-off. Joguei com ele no Videoton, e é um extremo de muita qualidade e talento. Acabou por ser afastado por uma questão executiva, uma vez que decidiu não renovar contrato. Mas, mesmo assim, continuou a ser chamado pela seleção sub-21 e teve prestações muito boas, inclusive frente a Portugal. Recordo-me que ouvir os comentadores portugueses impressionados com eles. Foi uma surpresa, mas certamente que os responsáveis da federação estavam a acompanhar o seu percurso, e decidiram e bem chamá-lo. Em dezembro acabou por ser contratado pelo Werder Bremen, o que não me surpreende. O Nagy é um médio centro que fez uma excelente campanha pelo Ferencvaros, que se sagrou campeão. O treinador trouxe ideias novas, a Hungria é uma equipa em construção e ainda bem que estão a aparecer novos valores e a juntar-se a outros bem mais experientes e com vários anos de seleção.»

Pontos fortes e fracos

Filipe Oliveira acredita que a boa prestação húngara vai continuar em França, apesar da inexperiência. «O futebol é complicado. São 44 anos de ausência, e isso poderia pesar porque há equipas mais acostumadas. Como conseguiram um bom primeiro jogo, as coisas mudaram de figura. Nós, em Portugal, conhecemos essa estratégia. É o que tentamos fazer sempre, embora desta vez não tenha resultado», sublinhou.

O médio dá a receita para uma vitória lusa. «Se Portugal movimentar bem a bola, de forma rápida, e mesmo perante os blocos mais baixos da Hungria, podemos quebrá-los. Com uma boa circulação, vamos encontrar espaços e nos flancos, onde somos fortes, podemos surpreendê-los. Claro que podem estar preparados. E podem ter uma pontinha de sorte, como tiveram com a Noruega, em que marcaram contra a corrente do jogo. Se Portugal marcar primeiro terão muitas dificuldades em assumir o jogo depois para recuperar da desvantagem.»

Feliz na Hungria

À entrada para a sexta temporada, Filipe Oliveira sente-se completamente adaptado ao novo país e sente-se uma ligação emotiva ao Videoton e aos húngaros nas suas palavras. «Dou-me bem aqui, a minha família sente-se feliz. Gosto bastante do clube, sinto-me identificado com o projeto. Receberam-me todos muito bem. Acho que de forma inconsciente desejo uma boa prestação da seleção húngara. É normal. Conheço aqui os jogadores há quatro, cinco anos, passámos por bons e maus momentos. Quero que corra bem. Desejo o melhor para a Hungria. Mas Portugal é o meu país, e também quero que chegue muito longe», concluiu.