Na longa história do Campeonato da Europa faltava algo assim: quem assistiu ao Croácia-Rep Checa (2-2) terá visto, muito provavelmente, o primeiro ato de sabotagem feito por um grupo de adeptos à sua seleção em plena fase final.

A história não é simples e obriga-nos a começar pelo fim. Mais precisamente, por esse minuto 86 em que, com a Croácia a vencer por 2-1 e a desperdiçar oportunidades sucessivas para chegar ao terceiro, os adeptos croatas, situados atrás da baliza de Cech, começaram a disparar para o relvado uma série de tochas que obrigaram a interromper o jogo. O arremesso prosseguiu enquanto os bombeiros tentavam anular os pequenos focos de incêdio no relvado, e nem a intervenção direta dos jogadores, que se dirigiram à bancada resolveu de imediato o problema. O historial de incidentes entre adeptos e federação torna legitimo questionar até que ponto o ato concertado não foi uma forma deliberada de criar problemas à equipa.

Ao fim de cinco minutos de paragem, o árbitro Mark Clattenburg lá achou que havia condições mínimas de segurança e o jogo prosseguiu. Mas a Croácia, desconcentrada, permiti um último estertor à Rep. Checa, até aí dominada dos pés à cabeça. E, nos descontos, o central Vida, completamente desconcentrado, jogou uma bola alta com a mão, para impedir o cabeceamento de Necid. Na conversão do castigo máximo, o mesmo Necid, que tinha entrado pouco antes, não desperdiçou, e nos minutos finais acabou por ser a Rep. Checa a estar mais perto da reviravolta absoluto. Um caso claro em que os adeptos funcionaram como 12º jogador… do adversário.

Até esse incidente, a Croácia tinha confirmado todas as boas indicações deixadas na estreia com a Turquia, dominado o jogo quase desde o pontapé de saída. Com Modric menos interventivo, coube a Rakitic comandar a orquestra e lançar os lances mais perigosos. Mas foi Perisic quem desbloqueou o marcador, aos 37 minutos, com um remate cruzado de pé esquerdo, após uma sucessão de ocasiões falhadas.

O recomeço trouxe mais do mesmo, e foi sem surpresa que Rakitic coroou uma grande exibição, fazendo o 2-0 com um chapéu a Cech, após passe do capitão Srna, que tinha perdido o pai no início da semana.

Com a Croácia na mó de cima, Modric teve um sintoma de lesão muscular e parou de imediato, pedindo a substituição. Foi o primeiro momento de viragem no jogo já que, sem perder o domínio, a Croácia perdeu um pouco da coesão e permitiu aos checos um ligeiro assomar de cabeça. Já depois de o treinador Pavel Vrba refrescar o ataque, o recém-entrado ponta de lança Skoda encurtou distâncias, cabeceando um cruzamento de Rosicky, mas com o guarda-redes Subasic a ser mal batido (76 min).

A Croácia não se desorientou, voltou ao ascendente que tinha antes do golo, e criou três ocasiões claras para matar o jogo. Não o fez, e os seus adeptos encarregaram-se de escrever um último capítulo que não estava no programa. E foi assim que um dos jogos mais desequilibrados deste Campeonato da Europa acabou empatado e a Croácia – umas das melhores equipas neste início de competição – teve de adiar, pelo menos por umas horas, a festa do apuramento. No resto, mais do mesmo: suplentes decisivos, e um golo em período de descontos, neste Europeu que decididamente guarda as emoções fortes para o lavar dos cestos.