Aos 37 anos, José Fonte é capitão do Lille, a equipa mais portuguesa da Liga francesa, prova que lidera à entrada para a 29.ª jornada. Presença habitual nas escolhas de Fernando Santos, o central também aguarda a convocatória para a jornada tripla de apuramento para o Mundial2022, na antecâmara do Campeonato da Europa.

À entrada para a fase final da temporada, o central dá uma entrevista ao Maisfutebol, na qual aborda a campanha de sucesso do Lille na Ligue 1, os próximos desafios da Seleção Nacional, e ainda as contas da Liga portuguesa.

 

Neste excerto o defesa fala da Seleção, entre os primeiros jogos de apuramento para o Mundial2022 e a fase final do Euro2020, mas também de Pepe, Rúben Dias e Cristiano Ronaldo.

Maisfutebol: Portugal tem agora uma jornada tripla de apuramento para o Mundial (Azerbaijão, Sérvia e Luxemburgo), sendo que o primeiro jogo, que estava marcado para Alvalade, foi mudado para Turim, por causa das restrições atualmente impostas pela pandemia de covid-19. Isso pode ter alguma influência na Seleção, ou neste contexto de jogos sem público torna-se indiferente?

José Fonte: Como não há público… não diria que estamos habituados, pois continua a ser difícil jogar sem público, mas tem sido a norma, e por isso não vai fazer muita diferença. Queremos ganhar, para começar bem, e é nisso que toda a gente está focada, seja onde for.

A propósito da covid-19: o José esteve infetado em outubro, testou positivo precisamente quando estava na Seleção. De que forma foi afetado?

Ao nível de sintomas, tive muito poucos. Acho que tive apenas um pouco de febre no primeiro ou no segundo dia. Depois, ao voltar aos treinos, senti uma fadiga um pouco maior, durante dois ou três dias. Mas para ser sincero passou rápido. Uma semana ou duas depois estava normal.

Ainda estamos para ver se a covid-19 ainda vai afetar mais alguma coisa no Europeu, mas para já qual a perspetiva deste grupo com Hungria, Alemanha e França?

Portugal já habituou a jogar para ganhar. Não somos favoritos, mas podemos ganhar a qualquer equipa. O mister diz isso quase sempre. Assumimos a nossa responsabilidade: somos campeões europeus e vamos entrar em todos os jogos para ganhar. É um grupo de qualidade, difícil, mas temos as nossas armas, acreditamos em nós, e vamos entrar sempre para ganhar. As outras equipas também olham para Portugal e sabem que vão defrontar uma grande equipa.

Olhando até para o rendimento de alguns jogadores, há quem diga que Portugal pode formar aqui um grupo de jogadores mais forte do que aquele que ganhou o Europeu em 2016, se não o melhor de sempre. Concorda com esta ideia, ou é exagerada?

É um pouco subjetivo. Vai da opinião de cada um. É inegável que Portugal tem, neste momento, um nível individual incrível. A quantidade de jogadores que apareceu nos últimos tempos, de grande nível, a jogar em grandes clubes, tem sido excecional. Concordo que temos um grupo fantástico, formidável, mas nunca podes dizer que é superior ou não ao de 2016. O facto é que fomos campeões europeus em 2016. Por isso essa será, garantidamente, uma das melhores equipas de sempre. Agora temos de tentar fazer o melhor por Portugal com este grupo. E isso passa sempre por ganhar. Temos dois jogadores de nível formidável em cada posição, por isso é aproveitar a fase, a confiança. É um prazer estar na Seleção. O mister costuma estar na bancada e diz isso, que dá prazer ver a malta jogar. É espetacular fazer parte deste grupo.

O Pepe, colega de posto na Seleção, continua a um nível elevadíssimo, como ainda agora mostrou na eliminatória europeia com a Juventus. A vossa diferença de idades é curta, menos de um ano, mas motiva-o ver aquilo que ele tem feito já com 38 anos?

O Pepe sempre foi um exemplo, um jogador que eu admiro, sempre admirei. É obvio que fico feliz pela qualidade que continua a demonstrar, pelo que tem feito nos últimos tempos. Não me surpreende. Conheço a personalidade dele. Alegra-me ver o sucesso dele e motiva-me, claro, como concorrente a um lugar, mas sobretudo como colega. Não somos 11 na Seleção, somos 23. Isso ficou provado no Euro, onde todos foram importantes. Fico muito contente pelo sucesso que o Pepe está a ter, como o Rúben Dias ou o Domingos Duarte…

Já ia perguntar pelo Rúben, mas ainda a respeito do Pepe: o José começa a ver que será complicado pendurar as chuteiras depois dele?

(risos) Não estou a pensar nisso. Penso em mim. Sinto-me bem, atualmente, e decidi que vou analisar ano a ano. Analisar como me sinto, a prestação que tive nessa época, e se vir que continuo a ser importante, que as pessoas gostam do que faço, vou continuar. Tive sorte, porque não tive muitas lesões. Sinto-me fresco, sinto-me bem. Adoro levantar-me para ir treinar e tentar ser melhor todos os dias, pois estamos sempre a aprender. Gosto também de ajudar os meus colegas, passar a minha experiência. Enquanto isso acontecer, vou continuar a jogar. É tão simples quanto isso. Enquanto esses pontos baterem certo, vou continuar. Se vai ser mais ou menos tempo do que o Pepe, não sei (risos).

Conhece muito bem a Liga inglesa. Ficou surpreendido com o impacto do Rúben Dias no Manchester City?

Para dizer a verdade, não me surpreendeu. Desde a saída do Kompany, e mais um ou outro central, víamos as dificuldades defensivas do Manchester City, e sempre vi o Rúben como um jogador interessante para o Guardiola. Pela sua personalidade, seriedade, e também pela qualidade, claro. Mas acima de tudo pela maneira de ser, concentrado como é, um defesa que raramente comete um erro, com qualidade também no passe, muito forte nos duelos. Era isso que o Manchester City precisava. Ele é muito comunicativo e influencia os outros de forma positiva. É isso que tem acontecido, e não é por acaso que tem tido este sucesso.

Conhece também muito bem o Cristiano. Não só pelo trajeto em comum na Seleção, nestes últimos anos, mas também nas camadas jovens do Sporting. Que Cristiano podemos esperar no Europeu?

O melhor. Já nos habituou a estar ao mais alto nível, ano após ano. Esperem um Cristiano de grande nível. Isso é certo.

Esta eliminação europeia da Juventus, diante do FC Porto, criou aqui algum debate em torno do futuro, até pelas surpreendentes declarações do CEO da equipa italiana, Fabio Paratici, e a forma como admitiu uma saída. Será o fim de ciclo do Cristiano na Juventus?

Só o Cristiano pode tomar essa decisão. Já tinha provado que era o melhor do mundo no campeonato inglês e no espanhol, e agora provou no italiano. Acho fantástico o que o Cris fez em diferentes campeonatos, ser o melhor marcador e continuar ao nível que está. Só ele pode decidir. Foram declarações surpreendentes do Paratici, mas felizmente o Cristiano está numa posição em que pode dar-se ao luxo de escolher. Clubes interessados não faltarão! O que ele decidir, vai ser interessante ver. Claro que toda a gente gosta de acompanhar o Cris, vamos aguardar. Pode ser que possa vir para o Lille.

Uma eventual agitação associada à indefinição do futuro do Cristiano pode afetar a participação de Portugal no Euro?

Acho que não. Com a experiência que ele tem, não vai afetar em nada a performance dele.

LEIA TAMBÉM:

«Amorim é candidato a um jogo do fim, presidente do Lille fala em cinco»

«Renato Sanches é dos melhores profissionais que já encontrei»

«Pelo que o meu irmão disse do Amorim, este sucesso não me surpreende»