A lei natural da vida não entra nos jogos de Catanha e Pedro. Dupla de ataque na III Divisão espanhola, pai e filho, cúmplices nos caminhos para o golo e nos mandamentos do dia a dia.

Catanha, esse mesmo, antigo atacante do Belenenses, celebrizado em Málaga e em Vigo. Aos 44 anos, respondendo a um pedido de auxílio da direção do Dos Hermanas San Andrés, volta aos relvados e a fazer história.

«O mais importante é ter a oportunidade de passar tempo de qualidade com o Pedro».

Não nos ocorre melhor argumento para este regresso. Catanha e Pedro, parceiros inseparáveis e de mão dada em campo.

Pedro Guedes nasce em julho de 1994, um ano antes de Catanha chegar ao Estádio do Restelo. «Quase que era português», brinca o antigo internacional espanhol, em entrevista ao Maisfutebol.

Filho e pai no dia da comunhão de Pedro

«Ele jogou nas camadas jovens do Málaga, esteve na Polónia e voltou a Espanha. Estava a precisar de uma temporada regular. Decidi aceitar o desafio e aproveito para ajudar o meu filho».

Catanha dispensa apresentações, como se costuma dizer. Brilhou em Belém, saltou para o Salamanca, estabeleceu-se em Espanha e conseguiu três internacionalizações na caminhada para o Mundial 2002.

Carreira rica, plena de conquistas, mas nada se compara a este prazer. Sim, o prazer de estar no mesmo balneário de Pedro.

«É uma emoção tremenda, é lindooo [assim mesmo]. Nunca imaginei que fosse possível. Já fizemos três jogos juntos. Perdemos o primeiro, vencemos o segundo e empatámos 2-2 no passado domingo».

Catanha jura, de resto, ter encontrado agora o «colega de ataque perfeito». «É verdade (risos). Joguei com muitos craques, Raul, Milosevic, Urzaiz, mas o Pedro é a minha alma gémea».

«Eu e o meu filho em campo, isto é a realização total»

Henrique Catanha nasce no Recife em 1972. Passa por vários emblemas brasileiros – São Cristóvão, União São João, Paysandu – e chega à liga portuguesa em 1995. 14 jogos e 5 golos no Belenenses convencem João Alves a levá-lo para Salamanca.

«Tenho um percurso bonito, consegui grandes feitos, até cheguei à seleção de Espanha. Mas, acreditem, isto é que é a realização total. Eu e o meu filho lado a lado em treinos e jogos, realização total!»

Catanha diz que Pedro Guedes é um avançado com «muita força e qualidade» e até o imagina na liga portuguesa. «Ele vai fazer muitos golos, estou aqui com ele para me certificar disso».

No Dos Hermanas, clube da zona de Málaga, pai e filho treinam três vezes por semana e jogam num relvado sintético. Catanha acumula a função de avançado com a de treinador adjunto. «E ainda tenho uma pousada em Maceió, a minha vida é cheia e feliz».

Catanha ao serviço do Estoril

«Casillas era dos mais simpáticos no balneário da seleção»

Tempo para memórias. Do Belenenses, claro, uma «grande equipa» feita por João Alves. «Ivkovic, Basaúla, Fernando Mendes, Giovanella… não ficávamos a dever muito aos três maiores de Portugal».

E da seleção de Espanha. «Estive entre os 30 pré-convocados para o Mundial da Coreia/Japão, mas o selecionador Camacho optou por não me incluir nos 23. Nessa época fiz 24 golos pelo Málaga».

Catanha fala de Iker Casillas, «um líder extraordinário», apenas com 22 anos na altura. «Conversava muito com ele, era dos mais simpáticos e próximos no balneário da seleção. Fiquei contente ao saber que ia para o FC Porto, um clube enorme e que lhe dá paz».

Catanha a representar Espanha

«Casillas, Abelardo, Nadal, Hierro, Puyol, Raul, Sergi, Luque…». Catanha desfila nomes de antigos colegas, alguns verdadeiros monstros sagrados, para chegar onde deseja.

«Trocava de bom grado tudo o que conquistei para ter esta bênção. Eu e o Pedrinho, lado a lado no ataque e a jogar futebol. Isto é que é boa vida».

Catanha, 44 anos, o pai herói de Pedro Guedes. Atenção ao Dos Hermanas de San Andrés.