Aos 33 anos e após uma temporada de grande nível na Turquia, com o Hatayspor, Rúben Ribeiro carrega as energias em Portugal e olha com a ambição de um menino para a próxima época. Não sabe onde jogará, mas pretende lutar por títulos e continuar a ser feliz em campo. Com a bola, a amiga de sempre.
Em grande entrevista ao Maisfutebol, Rúben fala do conflito jurídico vivido com o Sporting, no seguimento da rescisão por justa causa apresentada em 2018, e também das aventuras e desventuras vividas no Dubai, com um treinador espanhol do Al-Ain: Juan Carlos Garrido.
PARTE I: «Passei o Mundial de Clubes a chorar por não poder jogar»
PARTE III: «Recusei o FC Porto e o Benfica para poder jogar no Sporting»
PARTE IV: «Fui agredido no meu posto de trabalho em Alcochete»
Maisfutebol – A FIFA deu-lhe razão na rescisão unilateral com o Sporting, por justa causa.
Rúben Ribeiro – Tive sempre essa convicção. Teria de ser assim. Fui muito prejudicado em 2018, perdi a hipótese de sair para clubes de grande nível. O clube só tinha de aceitar propostas que eram superiores àquilo que o Sporting pagou por mim ao Rio Ave. Não aceitaram, recusaram a justa causa e colocaram-me a mim e ao Al-Ain, o clube que acabou por me contratar, em tribunal. Se o Sporting ganhasse o caso, algo em que eu nunca acreditei, o Al-Ain teria de pagar 60 milhões [valor da cláusula de rescisão de Rúben em Alvalade] e seria impedido de contratar jogadores durante dois anos. Fui prejudicado, estive seis meses sem poder sem inscrito e jogar. Senti que os dirigentes do Al-Ain pensavam que eu os tinha enganado.
MF – Falhou o Mundial de Clubes em 2018 e só começou a jogar em fevereiro de 2019.
RR – Foi tudo estranho. A dada altura, mais tarde, o treinador espanhol [Juan Carlos Garrido] decidiu afastar-me da equipa. A mim e ao Caio Lucas, que ainda é jogador do Benfica. Chamou-nos e disse-nos que estávamos de castigo.
MF – Qual foi a justificação?
RR – Não houve nenhuma. Apenas nos informou. Os resultados eram maus e os estrangeiros da equipa tinham de ser os culpados. O treinador não queria ir contra os árabes, porque o interesse dele era renovar o contrato, e o mais fácil era afastar-nos. Até o Marcus Berg, capitão da seleção sueca, foi afastado.
MF – Isso durou muito tempo?
RR – Três ou quatro jogos. Como os resultados continuavam mal, o treinador chamou-nos e disse que nos queria reintegrar. Um dos adjuntos veio ter connosco e pediu para irmos falar com ele. Foi tudo combinado com o clube. Pediu-nos desculpa, disse que era um lapso e que nos queria de volta à equipa. Até gravei a conversa com ele, por cautela. Ele foi para lá para ‘rebentar’ com os estrangeiros, ficar próximo da direção e agarrar o lugar. Esteve sempre muito fragilizado porque foi substituir o Zoran Mamic, aquele treinador croata que ainda recentemente foi preso. O Zoran no Al-Ain tinha um poder incrível. Cheguei lá com o Zoran Mamic e ele saiu uma semana depois. Foi substituir o Jorge Jesus no Al-Hilal. O treinador espanhol foi para o lugar dele e esteve sempre fragilizado. Pensou que ao afastar-nos ia dar uma demonstração de força aos patrões. Foi um ano caótico.
MF – Ainda tem algum diferendo jurídico a resolver com o Sporting?
RR – Sim, pedi uma indemnização por tudo o que passei. A FIFA decidirá. Ganhei o processo em todas as instâncias, e após vários recursos do Sporting. Foi-me dada a razão na rescisão pela justa causa e não tenho de pagar nada, ao contrário do que aconteceu ao Rafael Leão [condenado a pagar 16,5 milhões ao Sporting por ter rescindido sem justa causa]. O Rafael foi enganado pelos empresários, ele e o pai. Receberam as comissões [da transferência para o Nice] e abandonaram o miúdo. Não se faz.